Carla.Maciel 18/02/2021
A câmara clara: nota sobre a fotógrafia/ Roland Barthes (7.ed.)- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018 (clássicos de ouro) La Chambre Claire: note Sur la plotographie.
Como o próprio subtítulo informa a obra, é feita de notas sobre a fotógrafia, diferente da maioria das obras que abordam o tema, a premissa é falar de fotografia do ponto de vista de alguém que foi fotografado que consome esse tipo de imagem. Não tendo uma pretensão técnica nem histórica.
Roland Barthes é um linguista, crítico literário e filósofo, mesmo assim sua escrita é clara, com uma beleza poética, o autor fala de sua experiência com a fotógrafia em quarenta e oito capítulos, curtos e fáceis de ler, divididos em duas partes.
As definições do filósofo são sobre as fotografias que a população num geral tem acesso as fotos familiares, as fotos históricas, e as de revistas livros (entre outros materiais impressos), podendo servir de bom grado a fotógrafia artística.
Palavras chave para a compreensão do pensamento fotográfico do autor são duas palavras de origem latina, STUDIUM e PUNCTUM.
STUDIUM: sendo interesse, mas um interesse moderado sem um emtregar-se a coisa pela qual o interesse foi despertado. Uma leve curiosidade, um olhar para a foto e pensar " oh! Que bonita" ou " Que horrível'. Aqui temos a constatação da existência da fotografia mas, assim que paro de olhar nada me vem a mente.
O PUNCTUM: nas palavras do autor é "como uma flecha, e vêm me transpassar " , a pungêcia de uma foto que vai permanecer em nosso pensamento, que de uma forma ou outra vai mudar o modo como vemos outras fotografias. Ela punge por sua beleza ou feiúra ou mesmo pelo que diz. Encontrar uma foto dessa é o tipo de encontro do qual não se sai empune. As vezes é somente um detalhe da foto que tem o punctum.
É reconfortante ter uma definição para nossos sentimentos fotograficos pois temos fotos em que sabemos que a luz está estourada, que o enquadramento está precário e mesmo assim são as fotos que nós pungem, enquanto as vezes fotos com uma técnica perfeita não nós dizem muita coisa.
Poucos livros falam da fotografia como uma paixão, e a câmera clara é um peles. Temos outros termos que definem a experiência de uma pessoa comum com a fotógrafia são eles, SPECTATOR o que todos somos espectadores da fotografia, nosso mundo é abarrotado de imagens e uma grande quantidade é de reproduções fotográficas. O OPERATOR (mais conhecido como fotógrafo) também se torna um spectator por observar sua produção e de seus semelhantes, o SPECTRUM ( aquele que é fotografado) assim que para de posar transmita -se em spectator.
Como Barthes posou para inúmeros retratos o autor percebeu que ao posar deixamos de ser somente nos mesmos, nós dividimos em três entes : o que somos (e a vergonha de que isso seja revelado na fotografia) , o que queremos ser( parecer mais nobre, mais magro, o que queremos ver na fotografia) , e ,o que de fato a fotógrafia vai mostrar, em suma não somos mais donos de nós mesmos somos objetos prestes a ser fotografados. Devaneando um pouco se ao invés de um retrato pintado, Dorian Grey tivesse posado para um retrato fotografado, não teríamos história ele teria percebido defeitos em si que a fotógrafia não pode esconder.
O livro deve ser leitura de cabeceira para interessados no assunto, a leitura de um capítulo por dia e a reflexão antes de devorar o livro todo de uma vez,( o que é relativamente fácil a obra só conta com 107 página) me parece mais proveitosa.
Recomendo também fragmentos de um discurso amoroso, porque um francês, filósofo, que não escreve recita merece ser lido.