Italo 27/12/2012
"Holy Wood está sonhando."
Para falar a verdade, fui eu que sonhei muito lendo esse livro. Mas não entenda mal, não é que eu tenha dormido, eu viajei em pensamentos distantes acordado, como todo bom livro nos proporciona. E sem dúvidas esse é um livro muito bom.
A Magia de Holy Wood foi o primeiro livro que eu li da série Discworld, e posso dizer que fui muito bem introduzido ao seu mundo fantástico. Hilário, emocionante, e muito bem escrito, Terry Pratchett consegue juntar os três elementos mais desejados: ação-aventura, comédia e ensinamentos. Ensinamentos para o nosso mundo, fazendo analogias com as coisas da sociedade de hoje. Podem ter achado que escrevi errado o nome da Cidade dos Filmes antes, não? Mas no livro está exatamente assim. Para não usar os nomes verdadeiros, o autor só mudou a estrutura da palavra Hollywood para Holy Wood, como também teve o caso de substituir o nome do Oscar – o prêmio – por Osvaldo; que só lendo mesmo para entender por que ele é chamado assim.
A história se passa também em Ankh-Morpork, mas gira em torno de Holy Wood. Depois que os alquimistas descobriram como colocar as imagens em movimento, criando assim o filme, muitas pessoas tentam procurar uma vida nova em Holy Wood. Mas não só pessoas, como trolls, anões e até animais tentam a vida lá, pois devido à magia do lugar, trolls passam a se comportar – ainda que com dificuldade – que nem humanos, e os animais passam a falar e raciocinar. É simplesmente incrível como o cão Gaspode (melhor personagem do livro para mim) pensa sobre as coisas, sem falar também nas suas falas. Ri muitas vezes quando ele tinha de disfarçar que podia falar para alguém, e assim dizia “Late, late”, ou então “Au, au”; e, parando para analisar, em inglês latido ou “late” é “bark”, e “Au, au” (creio eu) seja a onomatopeia traduzida de “Arf, arf”, que se parecem mesmo com um som que um cachorro faz, porém, mesmo assim, causava intriga em quem o ouvia falar. Não só Gaspode, como também tem um gato, um pato e um rato, que mudam de nomes constantemente, que estabelecem diálogos interessantes.
Se tiver algum personagem principal no livro, esse seria Victor Tugelbend, que é um estudante de magia, futuro mago, da Universidade Invisível, regida pelo arqui-reitor exêntrico Ridcully. Só que há um porém: ele não quer se tornar um mago devido a herança do tio que não permite dar o dinheiro para um mago. E mais: Victor também não pode relaxar e tirar notas baixas, pois no testamento diz também que o sobrinho não pode reprovar. Assim, Victor tem que se esforçar muito para acertar as questões necessárias para tirar acima de 84, mas nem tão acima, para não se tornar um mago. Até então o adolescente não sabe o que quer ser na vida, já havia tentado muitas coisas, mas nenhuma o agradou. Sua oportunidade muda quando ajuda Thomas Silverfish, o alquimista pioneiro dos filmes, ele então recebe um cartão e decide ir para Holy Wood. Lá ele conhece Ginger, uma garota que tem o sonho de ser muito famosa (e que a beija por acidente algumas vezes), trolls como Rocha e Detritus, e, claro, Gaspode o Cão Prodígio.
As coisas começam a ficar ruins quando percebem que há alguma coisa errada com a magia de Holy Wood, a realidade não parece muito sólida por lá, possibilitando coisas das profundezas saírem.
No geral, posso destacar algumas coisas que o livro faz paródia, como o fato da pipoca ser comida nos cinemas; por quê a pipoca? Quando um alquimista estoura um grão de milho, ele conta que simplesmente deu vontade de fazer isso, e achou uma boa ideia para comer enquanto passava o filme. Afinal, não é assim mesmo? O que é que tem de especial na pipoca? (Ok, eu também gosto), mas, utilizando as palavras do alquimista: “parece isopor”. Outra parte interessante é quando descobrem que um quadrinho de filme, que é imperceptível aos olhos, fica armazenado na nossa mente – as tais mensagens subliminares (Coca-Cola é mestre nisso). Como quando também no final as pessoas ficam vidradas diante das telas do cinema, completamente perdidas; e não é exatamente o que acontece hoje com muitos de nós? Ficamos hipnotizados pela magia das telas. (Não ache que sou uma exceção, só que reconheço isso e tento evitar).
Tenho muito mais palavras sobre o livro, mas acho que já é o suficiente. Livro ótimo, intertextualidade sem erros, personagens adoráveis em um mundo muito louco que se parece bastante com o nosso.
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