Flavio Assunção 07/02/2010Após elaborar uma resenha sobre o livro A Assombração da Casa da Colina, de Shirley Jackson, resolvi fazer o mesmo com Hell House - A Casa Infernal, já que as duas obras seguem a mesma linha. É inevitável não notar semelhanças na idéia central, já que em ambas há uma expedição a uma casa dita assombrada. No entanto, os motivos são distintos. Enquanto no livro de Shirley Jackson um doutor leva pessoas para estudar os acontecimentos da casa e escrever um livro sobre isso, na obra de Matheson o propósito é muito mais cruel e audacioso: provar que existe vida após a morte.
Para entendermos melhor, vou resumir um pouco a estória: tudo começa quando um certo Sr. Deutsch, um velho milionário muito próximo da morte, resolve comprar a Mansão Belasco, que dizem ser o Monte Everest das casas mal-assombradas. Deutsch, querendo tranquilizar sua mente devido ao medo do desconhecido, resolve mandar três pessoas para passarem uma semana na mansão, de forma a provar a existência ou não de vida após a morte. Para isso, convoca, o Dr. Barrett, homem da ciência, cético, que tentará provar que não existem espíritos rondando o lugar; Florence Tanner, uma médium espiritualista; e Benjamim Franklyn Fischer, única pessoa que conseguiu sair viva da casa, após uma expedição há mais de 30 anos. Os três, que receberão 100 mil dólares pelo serviço, mais Edith, esposa do Sr. Barrett, partem para a casa em busca das respostas que o milionário quer.
Como já disse, é semelhante com A Assombração da Casa da Colina, mas ao menos tempo bem diferente. Talvez a diferença principal é que, se o livro de Shirley Jackson foi decepcionante em todos os sentidos, não podemos dizer o mesmo de Hell House - A Casa Infernal. Este sim é um livro brilhante, uma obra-prima de um gênio chamado Richard Matheson, que pouca gente no Brasil sequer ouviu falar.
Enquando a obra de Shirley Jackson é absolutamente superficial, apresentando uma escassez de acontecimentos, o livro de Matheson já começa de tirar o fôlego. Desde o primeiro minuto em que os visitantes entram na casa, as manifestações acontecem, trazendo desespero, loucuras e intrigas.
O cenário é de uma riqueza de detalhes impressionante. Você se sente naquela casa sem janelas, sentindo a mesma sensação claustrofóbica que os visitantes sentem. Outro ponto positivo é que o autor não se atém aos detalhes, diferentemente do livro de Shirley Jackson. O foco é a trama e o terror, não as descrições desnecessárias que só cansam o leitor.
Vale destacar que, afora o cenário claustrofóbico e aterrorizante, temos excelentes embates entre o cientista, que tenta provar que as manifestações nada mais são que forças eletromagnéticas; e os dois médiuns, que afirmam com convicção que há espíritos malignos responsáveis por todas as ações. As teorias de ambas as partes são altamente convincentes, o que faz com que o leitor não tome partido a favor de nenhuma delas. Posso dizer que é incrível a forma que Matheson conduz as discussões.
Em relação aos personagens, eles são muito bem construídos. A personalidade de cada um é única. De tão claros e bem desenvolvidos, em dado momento já nos antecipamos e sabemos como cada um deles irá a reagir a uma indagação, provocação ou assombração.
Não preciso nem dizer que Hell House - A Casa Infernal honra o propósito. Nos dá terror, medo, tensão, teorias absurdamente convincentes, personalidades muito bem construídas, conhecimentos e muitas outras coisas. Em um cenário atual em que livros de terror que realmente dão medo estão raros, eis que temos um, lançado na década de 70, finalmente traduzido e lançado em nossa língua, para limpar a alma de todos e nos mostrar que é possível sim achar um livro do gênero interessante. Só posso agradecer a Richard Matheson por me proporcionar essa excelente leitura e por ter escrito essa obra-prima do horror.