Biologia, Ciência Única

Biologia, Ciência Única Ernst Mayr




Resenhas - Biologia, ciência única


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Antonio Luiz 24/03/2010

Um cientista único
Uma carreira de 79 anos de atividade científica seria de se notar mesmo sem ser particularmente brilhante, mas o zoólogo Ernst Mayr (1904-2005) foi um grande pesquisador e um dos participantes mais ativos e decisivos nos debates mais importantes de sua disciplina durante a maior parte do século XX. Continuou a sê-lo até pouco antes de seu falecimento, em fevereiro.

"Biologia, Ciência Única", escrita em 2004, foi sua última e valiosa contribuição aos mais avançados debates sobre problemas e métodos dessa ciência, inclusive a origem de novas espécies, a evolução do homem e a especulação sobre vida extraterrestre. Também é um desmentido à idéia de que cientistas idosos não mudam de idéia – Mayr não mostra dificuldade em admitir que estavam erradas várias concepções que defendeu há cinco, trinta ou sessenta anos.

Talvez isto se deva à biologia ser de fato uma ciência única. Como mostra Mayr, as tentativas de desenvolver epistemologias para o conjunto das ciências naturais a partir do modelo da física, tida como ciência mais “madura”, são inúteis para a prática dos biólogos.

A biologia se apóia em conceitos, não em leis universais e se refere a populações heterogêneas e variáveis, não a entidades tão homogêneas e bem definidas quanto elétrons ou moléculas de água. Por isso, os critérios popperianos de refutação, por exemplo, lhe são totalmente inaplicáveis: as regras da biologia quase sempre têm exceções.

Em biologia, a “emergência” (ocorrência de características inesperadas em sistemas complexos) não é um mistério metafísico, mas um fenômeno empírico quotidiano. Muito mais que na física, exige-se um pensamento holístico: não se pode entender o todo a partir das propriedades de componentes isolados, pois as interações entre as partes – genes do genótipo, órgãos do corpo, organismos de um grupo social ou ecossistema – são decisivas.

A referência a metas e finalidades, criticada como “teleologia” na física, é heuristicamente útil e até inevitável na biologia, ao passo que o reducionismo, freqüentemente aceitável e útil na física, é contraproducente para os biólogos. Mayr rejeita, em particular, a pretensão dos biólogos moleculares de reduzir toda a biologia – inclusive a biologia evolutiva – à sua disciplina.

É uma crítica a Richard Dawkins e sua tentativa de analisar a evolução como se os “genes egoístas” fossem seu único alvo: para Mayr, o gameta, o organismo e mesmo grupos (quando o comportamento de grupo acrescenta algo à aptidão individual) são os objetos mais relevantes da seleção natural.

Refere-se, também, ao fundamentalismo genético de autores como James Watson (por exemplo, em "DNA – o segredo da vida", Cia. das Letras, 2005), que escrevem como se tudo de relevante em biologia dependesse da descoberta da estrutura do DNA. Embora tenha criado valiosos instrumentos e linhas de pesquisa, esse avanço não trouxe nada fundamentalmente novo à síntese evolucionista de genética e darwinismo que se consolidou nos anos 40. Assim como a relatividade e a mecânica quântica não tiveram efeito algum sobre a biologia como um todo.

O caráter único da biologia também se expressa na maneira como a própria ciência evolui. A concepção de revolução científica de Thomas Kuhn não lhe é inteiramente aplicável: em biologia (talvez pelo próprio caráter relativamente fluido dos conceitos e populações que são seus objetos ante a inexorabilidade das leis da física) não há oposição clara entre “mudanças de paradigma” e “ciência normal” rotineira.

Há revoluções na biologia, mas não representam necessariamente mudanças súbitas e drásticas de paradigma. Diferentes paradigmas coexistem por muito tempo e sempre há “revoluções” menores entre as principais. Não que estas sejam menos decisivas que as da física: pelo contrário, Mayr sustenta que a revolução científica de maior impacto no pensamento moderno ainda é a de Darwin, não a de Einstein, Planck e Bohr. A teimosa resistência dos criacionistas parece confirmar sua opinião.

Marct 21/05/2011minha estante
Caro Antonio, já disse antes, mas suas resenhas ajudam bastante a esclarecer ainda mais o conteúdo às vezes meio confuso dos livros. Muito obrigado de coração. Você é muito bom mesmo.




Erikcsen 15/08/2022

Livro precioso
Nunca me questionei se a biologia era uma ciência porque o curso já carregava este termo: Ciências Biológicas. No entanto, nunca me passou pela cabeça se ela sempre havia sido considerada uma ciência até eu conhecer este livro. Mayr defende as Ciências Biológicas como sendo uma ciência autônoma, independente das Ciências Físicas, e elenca vários argumentos para tal.
Livro que exige certo conhecimento biológico, especialmente referente às teorias Darwinistas de evolução, mas nada que não se possa compreender, visto que, ao final, há um dicionário com as palavras mais relevantes constantes no texto.
Vale à pena. Como Drauzio Varella menciona na contracapa, "Este livro é uma declaração de amor à biologia."
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JPHoppe 28/01/2013

Poucas pessoas são realmente qualificadas para escrever a história da biologia. Ter vivido um século e acompanhado o desenvolvimento de várias áreas (algumas do zero, como a biologia molecular), escrevendo artigos e livros, compondo teorias e discutindo ativamente no processo foi o que qualificou o zoólogo Ernst Mayr.

Neste último livro, Mayr faz uma revisão de parte de suas ideias, a maturidade de 80 anos de ciências em sua vida. Os primeiros capítulos abordam a história e filosofia da biologia, uma "Ciência Única": os princípios da física funcionam bem para a física, mas são de pouca utilidade - quando não daninhos - na biologia. Mayr então fala sobre teleologia, emergência e o contraste entre leis (na física) e conceitos (na biologia), e análise (biologia) Vs reducionismo (física).

O miolo do livro aborda a Teoria da Evolução, seu papel no desenvolvimento da biologia, e em como ela própria maturou-se ao longo das décadas. Mayr também aborda o conceito de "Seleção", e fica evidente uma crítica não velada em direção a Richard Dawkins e certos geneticistas: ao afirmarem que o gene é o objeto de seleção, cometeram um dos enganos dos filósofos físicos: foram longe demais com a análise e entraram no campo reducionista. Ainda no assunto Dawkins, Mayr critica também seu conceito de "meme", que julga ser apenas um termo sinônimo desnecessário para "conceito" (curiosamente, não há críticas nos textos de Mayr para o termo "Culturgene", cunhado por E.O. Wilson poucos anos depois de "O Gene Egoísta").

Os capítulos finais são um tanto mais soltos da narrativa anterior. Uma análise das revoluções científicas (sensu Kuhn), se acontecem na biologia, cuja conclusão é: não, e os fracassos em sua aplicação na biologia se devem à estruturação da teoria de Kuhn, essencialmente tipológica, numa área onde tal pensamento não se aplica, em sua maioria. Uma abordagem do problema das espécies, uma breve incursão na evolução humana...

...e uma crítica mais forte direcionada aos que procuram por vida extraterrestre, afirmando muito bem a confusão entre "vida extraterrestre" e "vida extraterrestre inteligente", e desconstruindo a conhecida frase de Carl Sagan, "smarter is better".

Pra quem ainda não leu nada de Mayr, este livro é uma boa síntese e um bom guia para sua obra. Para os que já leram, é um excelente resumo e conclusão da obra de um dos maiores biólogos que já viveram.
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Larissa.Carvalho 15/01/2021

Uma declaração de amor à biologia
A beleza deste livro começa já em seu título, devido a uma tradução/adaptação para o português que supera de longe a referência original. "Biologia, ciência única" é realmente uma declaração de amor às ciências biológicas, como pontuado por Drauzio Varella no prefácio à edição brasileira.

Mayr foi sem dúvida um dos biólogos mais influentes que já existiram. Seja em sistemática, taxonomia, evolução ou história da biologia, é muito difícil ler um trabalho que não o referencie. Sua atuação em dois pontos cruciais da história da biologia, a síntese moderna da evolução e a definição de um conceito biológico de espécie, parecem contribuir grandemente para isto.

A escrita fluida e acessível de Mayr é capaz de abordar assuntos densos de filosofia e/ou história da ciência de maneira compreensível o suficiente para "biólogos iniciantes". Isto, associado à extrema importância dos assuntos tratados neste livro, tornam esta obra uma referência necessária para biólogos que desejam desenvolver uma visão mais crítica e filosófica da ciência e, em especial, da biologia.
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bia bbs besbi 18/06/2023

Esse livro é simplesmente encantador e acho que esse leitura para mim é mais mágica aí da pois é meu primeiro livro lido estando na faculdade e como estou cursando ciências biológicas ele é incrivel !!!
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Damien Willis 24/12/2016

É o meu primeiro contato com um livro do Ernst W. Mayr e acredito ter tido sorte, já que temos aqui uma espécie de compilados de seus ensaios, que funcionam tanto como revisão de textos presentes em obras anteriores, como mesmo um convite à essas obras, inclusive pelo autor se referir à muitas delas como análises mais profundas sobre certos temas apresentados em Biologia, Ciência Única - Reflexões sobre a autonomia de uma disciplina científica.

Embora sejam ensaios, tratando principalmente sobre evolução e filosofia da biologia, e partindo da cabeça de um cientista cunhado como o "Darwin do século XX", cada capítulo consegue transmitir, através de uma linguagem simples e acessível, conhecimento histórico, reflexões sobre a biologia e sua posição nos contextos científico e filosófico e ainda uma revisão superficial, mas concreta, sobre os componentes da Teoria da Evolução, ou melhor, Teorias da Evolução.

A escrita de Ernst realmente me surpreendeu e eu só posso ver esse livro como um ótimo divulgador científico e um roteiro para uma aula mais bem elaborada sobre as ideias de Darwin, acrescentando um pouco mais de história e, estreando uma abordagem mais filosófica (não deve ser comum um professor, sobretudo no Brasil, que dê algum espaço para uma visão mais filosófica sobre o assunto, ou mesmo que atenda mais a necessidade da questão histórica, que normalmente é passada de forma muito "mecânica", preocupando-se basicamente com um sequencialismo de eventos importantes - ao mesmo tempo é exigir muito de um professor com um cronograma tão apertado).

Seria interessantíssimo que se ensinasse, desde as séries primárias, que o mundo está sempre se modificando. Não falo necessariamente em ensinar evolução, mas acho que abrimos mais a cabeça quando pensamos que existe uma história do universo, uma história da Terra, uma história da vida, uma história do homem. E que como toda história, ela evolui, ou seja, vai se modificando. E que essa modificação dá origem à elementos químicos diferentes, planetas diferentes, seres vivos diferentes, culturas diferentes. Pois é, veja como esse assunto é libertador, estou simplesmente voando.

Apesar de toda acessibilidade, ainda assim me senti encurralado no capítulo 10, "Um outro olhar sobre o problema da espécie". Um dos capítulos mais longos e, no meu caso, o mais complicado.

Além das questões sobre filosofia da biologia, evolução, seleção natural, definição de espécie, e outros, Mayr encerra sua obra com um tópico mais especulativo sobre a história natural da evolução humana, referindo-se a atual precariedade do registro fóssil (cap. 11 - A origem dos seres humanos), e outro mais incrédulo e mesmo crítico sobre as propostas e gastos com a busca de vida inteligente (ou mesmo de vida simples) fora da Terra (cap.12 - Estamos sozinhos neste vasto universo?). Sobre este último, Ernst separa os físicos e astrônomos como otimistas e biólogos como pessimistas... bom, não sei quanto aos grandes biólogos, mas tenho notado muito otimismo nas redes sociais dos biólogos em relação à possibilidade de vida simples no Universo. Com relação à vida inteligente, noto que realmente não existe tanto anseio, mesmo que em geral apoiem, ou ao menos não se incomodem, com programas como o SETI. Um trecho da alfinetada:

"O que não consigo entender é por que os setianos procuram traços de vida com tanta determinação. Encontrá-la seria um acidente muito improvável. A busca, portanto, será presumivelmente infrutífera. Isso nada provará, porque a vida poderia de fato existir em algum outro lugar, mas estar inacessível à nossa busca. Se a vida, na forma de organismos similares a bactérias, for de repente encontrada, isso nos diria muito pouco. Sim, arranjos moleculares vivos poderiam surgir ocasionalmente. E daí? Será que isso vale florestas úmidas tropicais da Terra. Mas essa tarefa urgente é negligenciada em favor da possível descoberta de algumas bactérias fósseis em Marte. Será que não deveríamos organizar uma busca por inteligência terrestre?"

Lerei em breve outros livros do autor com maior imersão sobre tais assuntos.
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Elias.Fernando 06/11/2020

Um aprendizado sobre biologia
Aprendi com esse livro que a biologia talvez esteja mais próxima das ciências humanas do que das ditas "hard science", já que muitas subáreas da biologia dependem de conhecimento histórico e de construções narrativas. É muito bacana ler algo que foi escrito com tanta paixão, quando o autor fala sobre Darwin e sobre a evolução percebemos seu entusiasmo. Leitura interessante, recomendo.
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Camila.Camilo 17/09/2022

leitura da faculdade
Achei esse livro imprescindível pra quem é da biologia. Não é uma leitura difícil, e nos ajuda a consolidar com fortes argumentos a autenticidade da biologia
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Gustavo Vinícius 30/03/2023

Declaração de amor a Biologia
Eu diria que é uma verdadeira declaração de amor a Biologia! Ernest Mayr aos seus 100 anos de idade da seu último grande presente a humanidade com essa obra fantástica! Impossível não amar e admirar a história e conquistas da biologia! Valeu Darwin do século XX!
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Marcio527 06/07/2022

Muito bom
Leitura indispensável para pessoas da área ou simpatizantes, o livro explica de forma perfeita a diferença da ciência biológica para outras, como a física, além disso o autor trata dos erros cometidos ao colocar a biologia junto como outras ciências, o erro de tratar a mesma seguindo um padrão reducionista, entre outros. Como dito anteriormente, é um livro essencial para biologos.
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