O Feitiço da Ilha do Pavão

O Feitiço da Ilha do Pavão João Ubaldo Ribeiro




Resenhas - O Feitiço da Ilha do Pavão


8 encontrados | exibindo 1 a 8


Adriano.Mota 04/08/2023

Mistérios, guerras, levantes e politicagem
João Ubaldo Ribeiro cria uma ilha fantástica com uma narrativa muitas vezes truncada por palavras não usuais, mas que consegue prender a atenção, arrancar boas gargalhadas, criar suspense e nos faz brincar de escolher futuros. O fim da história parece meio apressado, parecendo que o autor precisou concluir o livro sem poder desenvolver tudo o que queria. Ainda assim, é uma leitura muito boa e que vale a pena.
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Ricardo 13/10/2022

Uma ilha que está ou não está?
Uma trama interessante, onde uma ilha na costa da Bahia tem um poder específico, no período colonial, onde alguns querem manter a política portuguesa escravocrata, e outros, a liberdade, e entre os dois um rei louco em um Quilombo. Neste mundo fictício, encontre os artifícios de um indígena acostumado à vida urbana que faz de tudo para se manter na vila, e religiosos corruptos que querem manter seu poder. Talvez não seja meu estilo literário, talvez esperasse algo diferente desta trama.
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Thiago Barbosa Santos 23/08/2018

Ilha imaginária
"O Feitiço da Ilha do Pavão" aparenta ser um romance despretensioso. João Ubaldo Ribeiro parece ter criado a obra meramente para entreter o leitor, apresentando um ambiente místico, com personagens espirituosos, protagonizando situações cômicas, em um texto cativante. Mas como referido no início desta resenha, é apenas aparente esse "descompromisso" do escritor.

O livro publicado em 1997 traz na verdade uma grande crítica dos comportamentos que moldaram o caráter do povo brasileiro, um mergulho na identidade nacional. Mostra a convivência conflituosa entre negros, índios e o homem branco em uma ilha situada na costa da Bahia.

A "Ilha do Pavão" é uma espécie de representação do Brasil. Lá vive o Rei do Quilombo, um filho de traficante africano de escravos que renega suas raízes e escraviza os negros. Há também a elite branca extremamente conservadora, que tenta expulsar os índios da terra. Existem ainda índios que, aos poucos, vão mudando seus próprios hábitos por influência do branco.

O núcleo principal do enredo é a perturbada relação entre Iô Pepeu e Crescência. Ela, uma negra deslumbrante, geniosa e aprendiz da Degredada, uma feiticeira local. Ele, filho do homem mais poderoso da região, mulherengo e louco para se "engraçar" para o lado de Crescência. O problema é que, para o rapaz "funcionar", precisava de um estímulo. A moça teria que dizer: "A ela, sem pena", para o garanhão se empolgar e ir para cima. Funcionava com todas, menos com Crescência, que sempre se negou a pronunciar a tal frase. Com isso, ele nunca conseguiu levar a amada para a cama. Tentou todas as simpatias indígenas, porém ela se negava a dizer a tão necessária frase.

A mãe de Iô Pepeu morreu cedo, muito de desgosto por ver como o mundo era injusto, como havia desigualdade, como alguns seres pareciam ter ido ao mundo para sofrer. Ela não se conformava com as injustiças, foi se entristecendo, caiu em depressão até vir a óbito. Antes confessou ao marido todas as suas dores. Ele já era um homem bom e passou a ser ainda melhor. Apesar de todo o poder, procurou dividir as terras, pagar de forma justa seus empregados, não explorar negros e índios, tratá-los como iguais. Com isso, arrumou diversos inimigos. Nesta parte observamos com nitidez a crítica social do livro sobre quão hipócrita são as elites, que se revoltaram com o pai de Iô Pepeu por não querer expulsar os índios das terras, por não querer oprimir os negros e ter um comportamento de explorador.

Iô Pepeu e Crescência passam por algumas situações que vão os aproximando, até que no fim da obra finalmente ela se entrega ao amado. A descrição do último parágrafo, na opinião deste humilde leitor, é o ponto alto do livro, que sugere que a ilha está na verdade no imaginário: "...lá do alto, um pavão colossal acende sua cauda em cores indizíveis e acredita-se que é imperioso sair dali enquanto ele chameja, porque, depois de ela apagar e transformar-se num ponto negro tão espesso que nem mesmo em torno se vê coisa alguma, já não haverá como. Ninguém fala nesse pavão ruante e, na verdade, não se fala na Ilha do Pavão. Jamais se escutou alguém dizer ter ouvido falar na Ilha do Pavão, muito menos dizer que a viu, pois quem a viu não fala nela e quem ouve falar nela não a menciona a ninguém. O forasteiro que perguntar por ela receberá como resposta um sorriso e o menear de cabeça reservado às perguntas insensatas".

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Eric 10/04/2017

É muito difícil não se encantar por alguma história de João Ubaldo, uma vez que cada narrativa é marcada por assuntos que o brasileiro quer e precisa ouvir.

Na obra prima Viva O Povo Brasileiro, João Ubaldo reconstruiu o nascimento da identidade nacional a partir da escória social, revelando as hipocrisias da sociedade brasileira por meio da corrupção, violência, exploração e negação da nacionalidade em prol dos "evoluídos" moldes de vida do homem estrangeiro.

Na mesma linha de pensamento, Ubaldo nos conta uma história que não tinha outros fins, a não ser entreter o leitor com um realismo fantástico cheio de aventuras e sexo. Porém, o que era para ser só entretenimento, traz uma imensa crítica social, a qual engendra toda uma discussão sobre corrupção, falso conservadorismo, machismo, perversão, escravidão, repúdio aos indígenas e negação da cultural nacional.

Nas páginas dessa narrativa, o leitor se encanta com as hipocrisias do habitantes da Ilha do Pavão, a qual se assemelha muito com as características do povo brasileiro. Temos o Rei do Quilombo, um cruel filho de ex traficante africano de escravos, o qual renega suas raízes, escravizam os negros e dorme com os brancos; há também uma elite conservadora que luta pela expulsão dos índios do meio urbano, por não aceitarem os hábitos naturais dos indígenas, mas se revelam pior que os nativos quando suas perversidades são reveladas; o conflito claro entre o cristianismo e outras manifestações religiosas, as quais são duramente criticadas pelo clero e intitulado feitiçaria; entre outros costumes de falso moralismo, o qual foi a base para a construção da sociedade brasileira.

Enfim, O Feitiço da Ilha do Pavão é uma narrativa extremamente necessária para se entender algumas características que refletem no cotidiano do brasileiro. Apesar de não se passar nos dias atuais, a narrativa apresentar especificidade bem hodiernas, revelando que o brasileiro ainda não evoluiu para certos assuntos, apenas mudou de tempo.
GilbertoOrtegaJr 10/04/2017minha estante
Vc voltou a ler e resenhar s2




Luis 09/02/2016

Feitiço Baiano
João Ubaldo era único. O meu primeiro contato com o escritor foi inusitadamente através da escola de samba Império da Tijuca, que, em 1987, o homenageou tomando como base o fundamental “Viva o povo Brasileiro”, sua obra mais célebre. Naquele ano, uma tia, uma prima e minha irmã, desfilaram na agremiação e eu e meu pai, que as aguardávamos na dispersão, ficamos deslumbrados com as alegorias que retratavam o universo da Ilha de Itaparica, terra natal e cenário de muitas de suas histórias. Infelizmente, os jurados não tiveram o mesmo encantamento. A escola seria rebaixada e amargaria décadas de ostracismo.
Algum tempo depois, já então leitor fanático de jornais, acompanhava semanalmente os “causos” do Leblon e da Bahia, contados com rara graça, publicados na página de opinião de O Globo a cada domingo. Daí para os romances, cujo o primeiro que li foi “O Sorriso do Lagarto”, em 1997, foi um sopro. Menos que um pulo. Não parei mais.
“O Feitiço da Ilha do Pavão” (Alfaguara, 2011, primeira edição da Nova Fronteira, 1997)) jazia aqui na prateleira há pelo menos dois anos. Nesse meio tempo, a morte de Ubaldo, ocorrida em julho de 2014, fez muitos se reaproximarem da obra do baiano, ou, como comumente ocorre no Brasil, finalmente conhecê-lo incentivados pelos editoriais na imprensa. Inconscientemente segui em direção oposta. Só agora retomei o contato literário com o autor. Passada toda a comoção despertada pelo seu passamento, a leitura de “Feitiço” não deixa dúvidas : Tratava-se de um gigante, como poucos que tivemos em nossas letras.
A trama retrata a atmosfera algo excêntrica da Ilha do Pavão; Um lugarejo mítico na Bahia (seria uma releitura da sua Itaparica ?), invisível em mapas, quase que perdida no período do Brasil Colônia. A Ilha abriga uma oligarquia hipócrita, comandadas pelo intendente Dom Felipe, que aparentemente preza pelos valores morais cristãos da Coroa Portuguesa e que vive em guerra com os índios da região liderados pelo esperto Balduíno, amigo do jovem Iô Pepeu, filho do poderoso Capitão Cavalo, que embora proprietário de terras, não participa da elite local, sendo francamente contra as convenções da época, pregando a liberdade (em suas terras não existem escravos) e o respeito às diferenças. O elenco de personagens conta ainda com o alemão Hans Flusser, aventureiro que uma vez jogado à ilha, praticamente se esquece de sua origem europeia tendo filhos com as nativas e assumindo a cultura local. Hans e o Capitão Cavalo se juntam à Degredada, uma espécie de “mãe de santo”, detentora de misteriosos saberes que amedrontam os carolas e Crescência, a bela aprendiz da Degredada, paixão maior de Iô Pepeu, na defesa e da ilha e na divisão de um segredo, o tal feitiço que envolve um pavão multicolorido.
João Ubaldo nos brinda ainda com mais uma majestosa criação : o “Rei” Jorge Diogo. Líder de um Quilombo, Jorge Diogo é um tirano sanguinário e escravocrata (isso mesmo, você não leu errado...), que aplica os conceitos de superioridade de raça às diversas etnias negras africanas, colocando a sua no topo da pirâmide e reservando às demais a alcunha de povos inferiores. Alguns dos melhores momentos do romance envolvem as disputas entre a “aliança” Quilombo-oligarquia e a trupe liderada pelo Capitão Cavalo.
“O Feitiço da Ilha do Pavão” além de ser (mais uma) prova irrefutável do gênio criador de Ubaldo, estabelece uma conexão temática e, por que não dizer, estilística, com Jorge Amado, amigo e compadre do autor. Para quem leu Jorge, principalmente em sua fase pós Grabriela, a atmosfera mágica baiana, temperada de dendê, é reconhecida como um dos muitos elementos desse elo Ilhéus-Itaparica.
Em muitas entrevistas, o escritor afirmava sua devoção aos clássicos, sobretudo a Homero, santo maior de seu altar particular. Pois bem, fazendo da Bahia a sua Grécia, João Ubaldo Ribeiro não deve nada ao pai da “Ilíada”.
Carol Montezuma 10/02/2016minha estante
Belo texto, Luis! De Ubaldo só conheço os Budas...


Luis 14/02/2016minha estante
Obrigado Carol. Um abraço.


Dani 14/04/2016minha estante
Luis, suas resenhas me encantam! A leitura te fez um grande escritor.
Estou na saga dos Terra Cambará, acabei hoje o Continente. Agora vou terminar uns outros três livros que estão pela metade e vou me dedicar a Viva o povo brasileiro.
Um abraço pra você.


Luis 15/04/2016minha estante
Obrigado pelos elogios, Dani. Sou apenas um leitor um tanto quanto curioso.
Érico Veríssimo é tão genial quanto João Ubaldo ou Jorge Amado. Pena, que, na minha opinião, seja bem menos reconhecido e estudado. Ano passado, por exemplo, completaram-se 40 anos de sua morte, infelizmente não vi qualquer homenagem para lembrar a data. De qualquer forma, "O tempo e o Vento" tem lugar de honra na nossa literatura.

Abração e obrigado mais uma vez.




Malu 11/10/2014

A ilha do Pavão e a realidade brasileira com toques de humor e ironia
O romance O feitiço da ilha do Pavão resgata a origem e os costumes do povo brasileiro, com uma linguagem própria do falar brasileiro João Ubaldo traz personagens encantadores e engraçados como o índio Balduíno, fanfarrão ele é responsável por boas risadas. Mas o livro traz momentos de reflexão como a morte da mulher do Capitão Cavalo que o deixa sensibilizado quando a mulher revela a causa de sua tristeza: a indignação por haver tanta riqueza concentrada nas mãos de poucos, que mesmo com tanto dinheiro não eram generosos o que faz com que seu marido reflita sobre suas atitudes e transforme o lugar em que vive num lugar mais justo para todos.
O livro também versa sobre o poder e sua relação com a política e a igreja, trazendo casos de homossexualidade dentro do mundo eclesiástico mas também traições, intrigas e corrupção. Podemos dizer que Ubaldo trata o opressor versus oprimido de uma forma não entendiante, deixa a leitura fluir mas ao mesmo tempo nos deixa a sensação de que a obra fala diretamente a nós.
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Nadine 07/07/2013

Meu único arrependimento de ter lido "O Feitiço da Ilha do Pavão" é ter lido só uma vez.
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