A Cabana do Pai Tomás

A Cabana do Pai Tomás Harriet Beecher Stowe




Resenhas - A Cabana do Pai Tomás


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Flávia Menezes 15/12/2023

PODE O HOMEM SER DIGNO DE CONFIANÇA, QUANDO MUNIDO DE PODER?
?A Cabana do Pai Tomás? é um romance que nos fala sobre a escravatura nos Estados Unidos, escrito pela professora, escritora e abolicionista Harriet Beecher Elisabeth.

Inicialmente a história foi publicada em 1851 em forma de série semanal, durante 40 semanas, no jornal abolicionista ?The National Era?, mas o que era para ser uma narrativa curta prevista para durar poucas semanas, acabou se tornando um sucesso tão grande que quando a escritora falhou em uma das semanas de publicação, foram vários os protestos que os escritórios do jornal receberam, a ponto de chamar a atenção do editor John P. Jewett, que propôs à autora transformar a série em formato de livro.

Publicado em 20 de março de 1852, ?A Cabana do Pai Tomás? vendeu 3.000 cópias no primeiro dia, esgotando depressa sua primeira edição. O romance ainda foi traduzido para diversas línguas, e nos Estados Unidos chegou a ser considerado o livro mais vendido após a Bíblia.

Com uma narrativa poética e repleta de emoções, Harriet nos insere em uma história atemporal, muito embora retrate uma época remota nos Estados Unidos, onde a escravidão era uma realidade perversa e brutal.

E essa era uma sensação que me acompanhava quanro mais eu avançava, porque existem duas temáticas apresentadas pela autora que não morreram no dia em que a abolição dos escravos foi assinada. E estas são:

1) a luta pela liberdade;

2) a maldade que se comete contra os semelhantes.

Liberdade... Mas o que é ser livre? Será mesmo que nascemos livres e vivemos uma vida de liberdade unicamente porque ninguém (pelo menos em tese) pode nos comprar? Aliás, será mesmo que a escravidão é apenas uma memória de um passado remoto, ou ainda hoje, por diversas razões e situações nos vemos aprisionados de alguma forma a uma vida de escravidão? A que (ou a quem) estamos sendo escravizados hoje?

E se a primeira temática já nos faz questionar tantas coisas, pensar sobre a maldade humana é algo que faz parte do ontem, do hoje e (inevitavelmente) do amanhã. Afinal, como podemos ser tão maus com os nossos semelhantes? E aqui eu não estou falando unicamente sobre ter um coração convertido ao amor ao próximo e a todo tipo de bondade que podemos ver nas almas preciosas daqueles que um dia foram santificados. Eu estou me referindo ao condicionamento da maldade e crueldade a que todos nós estamos expostos hoje.

Alguém te feriu e lhe fez algum mal? Paga a ele em dobro! Alguém te traiu? Nunca lhe conceda o perdão! Alguém te rejeitou? Destrua essa pessoa de todas as formas possíveis! E nisso as redes sociais vão nos enchendo de frases de ódio e vingança que só fazem crescer o mal no mundo, tornando nossos corações tão sombrios quanto a terra de Sauron!

E pensando em tudo isso é que eu preciso te alertar: passar por essa leitura é vivenciar uma grande transformação! Especialmente com essa figura bondosa do Pai Tomás, com quem vamos aprendendo que sejamos negros ou brancos, escravos ou senhores, o quanto o amor ao próximo e o poder do perdão é muito mais libertador para uma alma em sua condição de imortalidade, do que a frivolidade das condições humanas tão efêmeras de rancores e vinganças.

Harriet explora a temática da escravidão de forma tão sublime, que passamos a compreender todas as suas nuances, desde o fato de que por muito tempo essa foi a forma mais humana de preservar a vida e a dignidade de alguns desses homens, mulheres e crianças, assim como a imprudência ou a fatalidade da morte lançava esses mesmos oprimidos com tanta brutalidade à realidade de senhores com um coração tão repleto de malícias e maldades, que o desejo de nunca ter nascido passa a ser a única prece que evocam desses lábios.

Um outro ponto que a autora abordou com muita maestria e que me trouxe muitas reflexões, foi a questão da tratativa à desobediência e rebeldia dos escravos. E aqui (obviamente!) eu não estou falando de senhores perversos, mas de senhores e senhoras educados para ser bons cristãos, mas que se viam às voltas com escravos que um dia foram tratados com atos de barbaridade, e que, quando comprados por senhores que os tratavam da forma mais humana possível, ainda assim, cometiam delitos ou respondiam aos seus senhores.

Quando li essa parte da história, eu fiquei pensando em crianças que nasceram em lares desafortunados, e que, quando entregues aos orfanatos, mesmo após ser adotados por famílias de bom coração que as recebiam de braços abertos, ainda assim traziam dentro de si as marcas da desconfiança e descrença que a maldade que sofreram outrora enraizou em seus corações.

Eu confesso que não esperava tudo o que ganharia com esse livro, especialmente porque ele me tocou profundamente na questão da minha espiritualidade, na minha relação com Deus, e nos valores e deveres cristãos. E ao final, eu pude sentir meu coração tão reabastecidos por todos esses ensinamentos, que foi como se o próprio Pai Tomás tivesse me ensinado através da sua figura de puro amor, bondade e entrega.

?A Cabana do Pai Tomás? é muito mais do que uma história que fala de algozes e vítimas, de servidão e injustiças. mas sim de tudo o que se esconde no coração humano. Das maldades, invejas e vinganças, até os maiores atos de coragem para salvar outros tanto quanto se deseja salvar a si mesmo. Atos de heroísmo de pessoas tão altruístas que somente podem ser felizes se tiverem ao lado todos aqueles que amam. Pessoas tão cheias de uma bondade que vai além da nossa compreensão humana, capazes de perdoar até aquele que mais o feriu apenas porque daria a vida pela conversão de uma alma inclinada ao mal.

E esse é o Pai Tomás, e seus ensinamentos de amor, de perdão, e de obediências às leis de Deus ficarão para sempre no meu coração!
Dani 15/12/2023minha estante
Cinco estrelas ?


Flávia Menezes 15/12/2023minha estante
Amiga, 5 estrelas favoritado! ? Que livro mais perfeito! E o final? ??


Mateus.Caixeta 16/12/2023minha estante
Que resenha maravilhosa!!! Aumentou a minha vontade de ler. Acho incrível o quanto as suas resenhas são bem escritas


Núbia Cortinhas 16/12/2023minha estante
Uauuu! Que resenha linda!


Flávia Menezes 16/12/2023minha estante
Mateus, muito obrigada pelas palavras e pela paciência de ler algo tão extenso. Mas esse livro é tão fundamental, que eu penso que todo mundo deveria ler. Achei que fosse sobre escravidão, mas é sobre ?ser humano?, e que belas lições a Harriet nos deixou. E lições que valem para os nossos dias também.
Espero que goste quando for ler! A experiência sem dúvida será transformadora! Te garanto.


Flávia Menezes 16/12/2023minha estante
Núbia querida, muito obrigada! Olha? tenho por mim que você vai gostar desse. Você tem lido tantos livros sobre religião, e neste livro, eles falam muito sobre ser cristão. No final, você sente seu coração tão convertido e cheio de perdão.


AndrAa58 16/12/2023minha estante
Depois de ler sua resenha, simplesmente vou ter que ler. Flávia, você consegue passar toda a emoção que teve com a leitura para as suas resenhas. Amo ??


Flávia Menezes 16/12/2023minha estante
Andrea querida, muito obrigada. Mas esse eu fico feliz de poder passar toda a emoção que eu senti, porque esse livro é transformador. Espero que goste, embora seja muito dificil não passar por toda a transformação que a Harriet nos proporciona.


Alan kleber 21/12/2023minha estante
Essa resenha também é 5 estrelas.


Flávia Menezes 21/12/2023minha estante
Puxa, Alan!!! Muito obrigada! ?




Jardim de histórias 11/05/2023

Triste realidade histórica! Emocionante!
Considerando a enfadonha discussão religiosa que permeia a história, reflexo do posicionamento da autora, é, em geral, uma história muito emocionante e que apresenta um contraste muito interessante, se observar contextualmente os acontecimentos da escravização da época. O que normalmente, devido às condições sub-humanas que os escravizados eram submetidos, e se esperava um comportamento de efeito, brutal. Es que surge, uma resposta totalmente resiliente, sendo o ponto focal, protagonizado pelo pai Tomás. Surpreendendo e indignando uma grande parcela de personagens, leitores e críticos da época. 

Tanto a opinião de ideologia escravagista, quanto abolicionista, massacrou Harriet Beecher Stowe. Segundo os escravagistas, "a autora, tenta despertar a ideia de que o povo negro educado, se tornará tão importantes quanto os brancos" os escravagistas, acreditavam na supressão de direitos e na doutrina de dominação, como forma de controlá-los. Já os abolicionistas, "enxergavam a ideia de resiliência de Harriet, um tanto quanto subserviente, destacando a educação religiosa, como uma forma de aceitar a escravização como uma condição". Na verdade, o que a autora nos conta, não é uma história sobre escolhas e sim de domínio, segregação e privilégios. A resiliência, é somente uma forma subjetiva de lidar com o sofrimento. Era o refúgio em um contexto, onde inexiste qualquer acolhimento, direitos, razão. A resiliência é simplesmente, a esperança.  

Esse comportamento resiliente, ocorre pela influência religiosa e a ideia de que a educação e sabedoria, seria um diferencial. É claro, que não serão todos a ter esse privilégio, e veremos o efeito do comportamento mais brutalizado, dos que só conheceram a violência como doutrina, criando uma base de reflexão poderosa. 

Uma emocionante história de superação, sem essa de homem branco do bem, porque até os ditos bons, são escravagistas, como aqueles racistas, que se dizem não racistas, se justificando, que até tem amigos negros. O olhar de autora referente aos escravagistas, é sensacional. Mostra, a falsa sensação ou idealização moral perante a sociedade e religião, tentando normalizar o inaceitável, trazendo a tona, a estruturação do racismo, tentando perante a sociedade e a consciência, legitimar a escravização e a cultura escravocrata. 

Um livro obrigatório e inesquecível. 
Paloma 12/05/2023minha estante
???? Excelente resenha! Não tinha muito interessante nele, mas agora desejo ler um dia.


Jardim de histórias 12/05/2023minha estante
Muito obrigado pelo retorno positivo. Espero Paloma, que a leitura desta obra, lhe traga a mesma emoção e também indignação devido os fatos históricos, que trouxe para mim. É uma escrita carregada de visceralidade, rancor, amor, onde é muito presente a carga emocional transmitida pela autora.




Vinícius 29/10/2020

Praticamente perfeito!!!
Um clássico da literatura americana escravocrata, é uma obra curta, de simples entendimento e envolvente. Mesmo tratando de um tema delicado não é tão forte como 12 anos de escravidão, embora tenha momentos bem impactantes que leva a reflexão sobre a barbárie que era a escravidão. É uma ótima opção para quem não tem costume de ler por ser uma obra simples e para leitores assíduos leitura indispensável por se tratar de um clássico.
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omanoel 16/04/2021

EMOCIONANTE
Realmente foi um trabalho impecável da escritora. Uma Obra cheia de dor, sofrimento e injustiças. Impossível ler o livro e não se emocionar. Só de pensar que situações assim já foram normais um dia, onde a Liberdade era algo que a cor de nossa pele nos privaria de ter.
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Edna 08/05/2020

Notável
"Não foi para outra coisa que nascemos __ Se não fôssemos capazes de enfrentar qualquer perigo por uma boa causa, seríamos indignos de viver."

Ao publicar este livro em 1852, a autora fez despertar toda a consciência do povo norte-americano que vinha escravizado e humilhando toda uma raça, negando-lhes o mais básico dos direitos humanos, a Liberdade, esse livro foi citado em Fharenheit 451, me despertando para fazer essa leitura tão esplêndida, mesmo sendo recontada do original que mais é um Documentário histórico, Herberto Sales resumiu a essência da obra para contar em 180 pág. a história de homens dignos, confiantes em Deus, que retratados em Tomás, injustiçados e explorados por um sistema cruel não abandonaram a fé nem a esperança em dias melhores.

Tomás o homem humilde, mas que em determinado tempo viveu sob o domínio de amos humanos, George Shelby o filho dos Seus Srs o ensinou a ler, o que o sustentou em diversos momentos de sua vida, lia a Bíblia e cria naquelas palavras.

Mesmo submetido ao escravismo e contrariando aos costumes da maioria dos Senhores de escravos onde imperava a desumanização ele era um negro educado, servil mostrando a igualdade que todos podem ser educados e levados a praticar o evangelho, alimentando a esperança de ser livres, livres de serem separados dos filhos, vendidos como animais para donos maus que jamais aceitaria um negro com conhecimento, alguns eram torturados apenas por ter uma idéia, embora o beneficiado por essa idéia fosse seu dono, eram tratados como insolentes.

Não é um livro religioso, apenas relata a fé como ponto base que era como um apoio com valores Cristãos para suportar a escravidão, as separações dos seus entes queridos, as fugas e todo o contexto social abordado, que sempre houve e haverá quem resiste Como os Shelbys à um sistema desumano e que não apoiava o conhecimento em igualdade de direitos.

Encontramos algumas famílias que ajudavam os escravos que fugiam e uma familia Rachel Halliday e Van Trono, povo "Quakers", realmente pertenciam à velha seita protestante fundada na Inglaterra no século XIII..

É impossível sair dessa história ilesa,
balança as estruturas, viajamos juntos Mississipi até o velho Rio de águas primorosas e espumantes que inspirou tantos poetas e romancistas.

Quero reler em breve essa grande obra.
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Aninhar0 15/02/2021

Belo
E todavia, não tinham um palmo de terra que lhes pertencesse; tinham gasto até o último dólar... tinham o mesmo que a ave nos céus, a flor no campo... e não podiam dormir por excesso de felicidade!

Cada página uma lição de bondade e resistência no sofrimento.
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Sharon 04/02/2009

Religião demais! Deus demais! Foi muito importante para a época em que foi lançado, mas acho que como literatura é um lindo panfleto cristão...
Eliezer.Santos 08/07/2020minha estante
Uma pena que você tem uma visão distorcida sobre o verdadeiro Deus e o seu Amor pela humanidade, oro para que um dia você tenha um encontro real , não com o Cristo histórico ou apresentado pela religião que destorce a imagem d'Aquele que é a essência do Amor, então seu coração se abriria para esse fato que transcende a mente humana. Deus te abençoe!




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Gláucia 17/02/2010

Bom
Retrata a crueldade da escravidão e parece um livro religioso, pregando a fé que as pessoas têm que ter a despeito de qualquer situação difícil. A mensagem é: confiai em Deus.
Wagner 19/06/2013minha estante
numa conversa entre o presidente Lincoln e a autora Harriet Stowe; o presidente disse que este livro foi o responsável pelo estopim da guerra civil (secessão) e a autora disse que o mesmo foi ditado por espíritos e não escrito por ela. Portanto este livro não deixa de ser uma psicografia espírita e a autora médium. Este romance não deixa de ser um romance espírita ou espiritualista um alerta contra a barbárie e as injustiças da escravidão.


Gláucia 19/06/2013minha estante
Wagner, bem lembrado, não sabia desse detalhe. Mas eu li um livro chamado Sessões Espíritas na Casa Branca, esse sim mostra bem isso que vc falou. A.Lincoln veio realmente com uma missão e foi inspirado e assessorado a vida toda a fim de bem cumprir essa difícil tarefa.




Josi 05/04/2024

Reza a lenda que esse livro foi um dos estopins da Guerra de Secessão, que acabou com a escravidão nos EUA.

Mas o que pode haver de errado em um livro supostamente responsável por uma façanha tão positiva?

Simples: a autora, ao mesmo tempo que condena o suplício a que os escravos eram submetidos, reforça diversos estereótipos atribuídos aos negros e utiliza a evangelização como finalidade principal da abolição.

A obra tem vários pontos positivos. A autora não mede esforços para defender seu ponto de vista, descrevendo situações de violência, injustiça e crueldade gratuita contra os escravos. Um retrato bastante realista e impactante, que certamente causou grande desconforto na época, especialmente no sul escravagista, mas sem poupar críticas também à hipocrisia dos abolicionistas e da própria igreja, que usava a religião como justificativa para a escravidão.

O que mais me incomodou durante a leitura foi a insistência na falácia da suposta inferioridade e ignorância natural dos negros e a valorização do "escravo bom", aquele religioso e resignado, que aceita tudo sem reclamar, como é o caso do protagonista, Pai Tomás. Não há espaço para respeito aos costumes e individualidade dos escravizados. Ao contrário, apela-se para o cristianismo e situações dramáticas envolvendo personagens brancos, como forma de sensibilizar e mobilizar os leitores.

Aliás, há em diversos pontos da narrativa a presença do branco salvador, afinal é uma história contada sob o ponto de vista branco, e o personagem que deveria ser central acaba ficando em segundo plano.

O maior acerto do livro, para mim, foi a interessante trama envolvendo uma família de escravos fugitivos, ainda que a autora lance mão do colorismo para criar uma maior identificação de seus leitores com esses personagens.

É um livro que envelheceu mal, mas que também tem seus méritos, sendo o maior deles sua inegável contribuição para a causa abolicionista. É aquele tipo de obra que, por mais bem intencionada que seja, só reforça a importância de termos negros como autores e de fato protagonistas de suas histórias.
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Wellington 29/07/2021

A Cabana do Pai Tomás – 5,5
“O objetivo destes quadros é despertar compaixão e bons sentimentos pela raça africana” (sic). Contida no prefácio da própria autora, a passagem anuncia seu intuito e viés. Posta num contexto onde o escravo era demonizado, desumanizado, invisibilizado, etc. por todos, torna-se compreensível que Harriet tenha escolhido usar características do momento para gerar empatia no leitor. Tal esforço foi bem sucedido: proibida em lugares como o Brasil (adivinhe o porquê) e lida com voracidade nos EUA e na Europa, A Cabana do Pai Tomás desempenhou importante papel ao abrir os olhos de muita gente.

Hoje, trata-se mais de leitura histórica que revolucionária. A infantilização dos personagens e o intuito descarado de manipular a opinião de quem lê são inegáveis. Não se trata de denúncia contundente sobre o lixo que a escravidão foi num nível global, ou que esclareça quão próximo racismo é de colonialismo; mas de alguém que diz que “o africano é sensível pela sua raça” (sic)” num sentido de quão fácil e desejável seria caso todos se convertessem ao cristianismo. Tomás é retratado como heroi, e o que ele é senão a encarnação do escravo benevolente, pio, manso, inspirado em Cristo? Até parece que a escravidão é injusta só por não ser “cristã de verdade”! Ora essa.

É fácil entender como a visão de um Paraíso pode confortar alguém esmagado, como a espiritualidade pode ser o refúgio e salvação de quem nada tem. De forma alguma questiono a fé dos personagens, tampouco a fé em si. Ela tem o seu valor. Meu intuito é mostrar que a autora usou de recursos que não concordo. Há até menções cínicas sobre o Haiti, diminuindo a importância da independência do país só porque não são considerados cristãos.

Minha raiva à parte, a escrita é fácil e gostosa de ler, desde que você ignore as constantes menções bíblicas e esforços que... Ah, serei rígido mesmo. Acho alguns esforços infantis. “Não precisa se esforçar para fazer o leitor chorar; conte algo emocionante, ele chorará”; tal proposta é de Ivan Turguêniev, e Harriet faz o contrário. Tem uma cena triste? Lá vai ela escrever: “mães! Vedes a si mesmas em tais situações, vedes a injustiça de tal ato!”; ou ainda: “não choraríeis se fosse o seu filho?”. É. Falei que ia deixar a raiva de lado e não consegui. Harriet força muito as cenas e alguns personagens são esquecidos no meio do caminho (Topsy, Ophelia, Sambo, Quimbo).

Trama: há mais personagens que Tomás, inclusive com capítulos em diferentes perspectivas. Edição e revisão: impecáveis! A Carambaia caprichou no projeto; o posfácio é longo e repleto de material bibliográfico da época, para quem se interessar. Não vi nenhum erro. Ilustrações: dão cor e tom à miséria escravocrata, bem escolhidas. Senti raiva, mas gostei do livro e considero uma leitura importante; é só não vir esperando revolução, o valor é histórico.

E o Vento Levou, obra sulista que passa pano para a escravidão, faz uma menção irônica a este livro; denuncia que a "libertação dos escravos" visou mais interesses econômicos que humanos. Vendo como o mundo ainda é, tendo a concordar.

Memórias de um Caçador, livro de Turguêniev, foi apontado pela crítica como A Cabana do Pai Tomás para a servidão na Rússia. Pode ser, pelo impacto que teve na sociedade da época... Mas só. O resto é balela. Aquele livro traz servos bons e maus, gentis e rudes, “ímpios” e católicos – enfim, humanos. Já esse aqui traz só uma imagem: a do pobre escravo gentil e obediente que é impedido pelos donos de se tornar o missionário cristão que todo mundo deveria ser.

Ps: minha avó leu antes de mim e, para ela, o livro é nota 10. É uma boa obra, eu que sou chato.

Resenha disponível em:
@escritosdeicaro
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Deghety 14/10/2021

A Cabana do Pai Tomás
A Cabana do Pai Tomás é um livro bem diferente de outros que li onde se retrata a escravidão.
Em A Cabana do Pai Tomás a autora se preocupou mais em destacar as personalidades dos escravos, seus defeitos e virtudes. Obviamente que não é possível falar em escravidão sem mencionar as crueldades às quais os negros foram acometidos, no entanto, enfaticamente, a autora mostrou os personagens, negros em especial, o lado humano, coisa que em outras obras é quase esquecido, já que se destaca a visão dos escravagistas e a submissão resignada dos escravos.
Pai Tomás, é um personagem admirável pela sua fé, índole, perseverança e temperança e a sua cabana vai além do físico, é como a morada da esperança.

"A harpa do sentimento humano é feita de tal forma que, se um choque não lhe quebra ao mesmo tempo todas as cordas, ainda é possível tirar dela algumas harmonias"

Esse trecho resume em uma frase o espírito do protagonista.
Sobre a escrita, é de fácil leitura, mas não é uma narrativa de linguagem comum, por vezes é lírica e beira o poético, além de interativa com o leitor, tornando a leitura ainda mais profunda.
4/5.
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Inlectus 01/07/2009

Magistral.
Uma obra que merece todas a ovações, beleza e revolta se juntam, contra essa baixaria, essa nojeira que foi a escravidão, história bela e suavemente arrebatadora. Leitura altamente recomendavel.
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