Anderson Luiz 21/03/2024
O Direito à Preguiça ? Paul Lafargue
Paul Lafargue (1842 ? 1911) foi um escritor, ativista político e socialista revolucionário franco-cubano. Genro de Karl Marx, tendo se casado com Laura Marx, seu trabalho mais conhecido foi o panfleto político publicado na França em 1880, pelo jornal socialista L'Égalité, intitulado Le Droit à la Paresse e traduzido como ?O Direito à Preguiça?.
Em um primeiro momento, no seu texto ?O Direito à Preguiça?, Lafargue aponta para degradação provocada pela ?paixão? exagerada pelo trabalho, que degradava cada vez mais o proletariado através das longas jornadas de trabalho nas fábricas do século XIX, podendo passar de 13 horas diárias na França da época. Para o autor, essa ?estranha loucura?, o trabalho, apresentado como algo ?benéfico? e ?dignificante?, seria o principal responsável por degradar os corpos e debilitar os espíritos das nações nas quais reinava o capitalismo, deixando as classes operarias sem tempo livre para desfrutar da vida e de suas alegrias.
Para Lafargue, ao proclamar o direito ao trabalho como princípio revolucionário, o próprio proletariado acabou por produzir as misérias que recaíram sobre si a partir da superexploração de sua força. Assim, ao contrário, deveriam ter proclamado o ?Direito à Preguiça?.
O autor discute ainda a dominação que se deu através da religião, que construiu uma ideia de trabalho como uma forma de ?santificação? e termina por apontar essa ideia como um ?dogma desastroso?. Assim, não é por acaso que elege um pecado capital, a preguiça, como um direito a ser reclamado.
Um ponto interessante brevemente abordado por Lafargue é a ideia de que o aumento da produtividade, proporcionado pelas máquinas à vapor de sua época, já poderia garantir um aumento do tempo de descanso ou ociosidade dos trabalhadores, no entanto, isso não acontecia. Para o autor, é como se os trabalhadores estivessem constantemente competindo com as máquinas sem compreender que estas poderiam ser as ?redentoras da humanidade?. Aqui, podemos pensar que na medida em que temos mais ?tempo livre? apenas o completamos com outras tarefas. Em outras palavras, mesmo com a possibilidade de uma ampliação do tempo de descanso, a lógica capitalista faz com que preenchamos esse tempo com outros trabalhos, com cada vez mais produção. Afinal, se a máquina passa a fazer um trabalho, o homem precisa buscar outro para conseguir comprar o direito de não morrer de fome.