Jardins de Kensington

Jardins de Kensington Rodrigo Fresán




Resenhas - Jardins de Kensington


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Daniel 19/11/2012

I read the news today, oh boy

Numa das epígrafes que abrem este livro há uma citação do escritor James Matthew Barrie: “Deus fulmine todo aquele que escrever uma biografia sobre mim”.

“Jardins de Kensington” conta duas histórias: uma real e outra fictícia. A real é uma espécie de biografia do escritor J.M. Barrie, criador do famoso “Peter Pan”. A outra história, fictícia, é sobre Peter Hook (notem a mistura dos nomes do herói e do vilão da história de Barrie), filho de roqueiros que cresceu nos anos 60. Peter Hook também é um autor de livros infantis que tem como herói Jim Yang, um viajante no tempo numa bicicleta mágica. A história de Barrie (verídica) e de Hook (fictícia) são narradas ao leitor e também a um misterioso ouvinte, Keiko Kai, pelo narrador/personagem Peter Hook. Londres e os Jardins de Kensington são o cenário nas duas épocas diferentes das histórias: o começo do século XX e os anos 60. A narração fictícia de Peter Hook começa com um fato que aconteceu de verdade: o suicídio de Peter Llewelyn Davies no metrô de Londres no dia 05 de abril de 1960, data que coincide com o nascimento do nosso narrador... E assim realidade e ficção vão sendo contados com limites habilmente imprecisos.

Acredito que quanto maior a quantidade de informações o leitor tiver destes dois períodos, mais ele vai curtir as inúmeras referências às personalidades famosas que se misturam aos personagens fictícios de Rodrigo Fresán. Acho essencial que quem for se aventurar pelos “Jardins de Kensington” deverá pelo menos ter lido a obra original de Barrie, “Peter Pan”. Ouvir o Stg. Peppers também ajuda a entrar no clima londrino da história, assim como assistir o “Em busca da Terra do Nunca”, filme que retrata de maneira romanceada a relação de Barrie (interpretado pelo sexy Johnny Depp, nada mais distante do escritor) com a trágica família Llewelyn Davies. Foram os filhos do casal Llewelyn Davies que inspiraram Barrie na criação de seu eterno herói que se recusa a crescer... Eu fiquei comovido ao encontrar na internet fotos verídicas de Barrie e de Peter Llewelyn Davies caracterizados como Capitão Gancho e Peter Pan, brincando nos Jardins de Kensington em 1906 (!)...

Rodrigo Fresán escreve extraordinariamente bem. Os delírios de Peter Hook sobre o tempo, memória, sobre a morte, sobre a cidade de Londres, sobre a própria literatura são de tirar o fôlego. As páginas vão correndo numa vertigem lisérgica.

Trecho: “Algumas frases sublinhadas na minha edição de Peter Pan. Algumas poucas palavras que dizem mais de mim do que tudo o que eu poderia alegar numa hipotética defesa num hipotético tribunal. Essa, acredito, é sempre a função de nossos livros favoritos (...): descobrir neles que alguém já nos escreveu muito melhor do que nós mesmos jamais conseguiríamos. E saber que este livro (...) espera por nós em algum lugar, que precisamos apenas procurá-lo e encontrá-lo.”

Eu tenho sorte: encontrei este livro.
Arsenio Meira 08/02/2013minha estante
Putz, Daniel: terminei agora de ler "Jardins de Kensington". Havia - criminosamente - deixado escondio na estante! Assumo e faço o mea-culpa.

Belly, minha esposa, leu num piscar de olhos. Eu, praticamente o devorei, como se fosse o último livro da face da terra.

Fundamental ter as referências que você cita na resenha (Beatles, Barrie, o filme...)

A felicidade, ou contentamento parece não ter fim!
O romance já nasceu clássico. 10 estrelas.
Valeu demais pela resenha.

São inúmeros benefícios que a literatura proporciona, e um deles, é o conversar sobre escritores e livros e aprender. E mergulhar na leitura.


Daniel 08/02/2013minha estante
Legal Arsenio, que vc também gostou!
Às vezes ficou com um pouco de receio de recomendar livros que gostei demais:
1) pode ser que eu tenha gostado por questões pessoais, tipo o livro certo na hora certa; ou
2) elogio tanto que quem lê acaba se despontando ("mas é só isso?"), rs!

Engraçado que só soube deste livro aqui no SKOOB mesmo, a edição dele aqui no Brasil me passou batido... Eu nunca teria deixado prá trás um livro com sinopse como esta.


Renata CCS 18/06/2013minha estante
Daniel, o Skoob tem me ajudada a encontrar obras inestimáveis tb. Muito de meus livros incluídos recentemente na lista de leituras (atuais e futuras) eu peguei por indicações aqui.
By the way: uma bela resenha!


Daniel 18/06/2013minha estante
Obrigado Renata. Eu ando acertando bastante com minhas escolhas, e o skoob tem ajudado: é só seguir as pessoas certas (lembrando que o certo para alguns pode ser o errado, e vice versa!)


Patricia Dias 23/11/2016minha estante
Comprei esse livro hoje graças a sua resenha excelente. Vou ler e ouvir suas indicações antes da leitura desse livro. Obrigada.




Arsenio Meira 08/02/2013

Na verdade, 5 estrelas não é justo. O justo seriam 10.
Aqui, o crédito vai para o amigo Daniel. Através dele, cheguei a este romance estupendo.

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jackguedes 04/01/2011

Jardins de Kensington – Rodrigo Fresán
Pode parecer exagerado o excerto de crítica que compara Fresán a um Borges pop na capa do livro, do mesmo jeito que pode parecer descabida qualquer referência a Cortázar. Após a leitura de Jardins de Kensington – que, sim, é ousado e ambicioso – contudo, a comparação passa a fazer sentido.

Quando publicou Jardins de Kensington (que saiu por aqui em 2007, pela Conrad), o argentino Fresán já era um veterano, com outros quatro romances publicados, diversos elogios e comparações a Roberto Bolaño, de quem era amigo.

Neste livro, Fresán lança mão de uma escrita lírica, típica dos mais consagrados escritores latinos – daí a comparação – para, numa trama intrincada, narrar a biografia romanceada do escritor inglês J.M. Barrie (autor de Peter Pan) ao mesmo tempo em que conta a biografia de um autor fictício Peter Hook (codinome inspirado no vilão e no herói de Peter Pan), filho de astros do rock inglês da década de 1970.

Outras subtramas se desenvolvem nesse romance que pode ser descrito como lisérgico, alucinante, lírico (de novo), pop: além da família que inspirou a criação de Peter Pan, Fresán dá vida ao personagem Jim Yang (ou o Peter Pan do escritor Peter Hook) que em algumas das passagens mais psicodélicas da trama, chega a travar contato com o próprio Barrie.

No meio disso tudo, Fresán insere fatos reais sobre pessoas reais na badalada Londres dos anos 70 – com um capítulo que mais parece um quem é quem na Swinging London – em contraposição (ou em perfeita simbiose, a depender do ponto de vista) à Londres vitoriana em que viveu Barrie.

A vida do autor de Peter Pan, por si só, é suficientemente encantadora para render uma boa história. Com o domínio narrativo, a ousadia e o lirismo de Fresán, Jardins de Kensington fica ainda mais saboroso. A tempo: Jardins de Kensington é o nome do parque contíguo ao Hyde Park, onde uma estátua de Peter Pan foi erguida.

http://jackguedes.wordpress.com/
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purplesealion2 07/08/2010

Lindo, lindo, lindo. Fresán não só mantém um mistério (sem mistérios de fato) do início ao fim, como gruda JMB à você de uma maneira que você sente que o conhece melhor que ele mesmo. Às vezes, até te faz preferir simplesmente tratar o autor e o personagem pelo primeiro nome e convidar para tomar um chá... Ou dar uma volta no parque... Quem sabe, modificar um documento fundamental para a vida (ou a morte) de cinco crianças.
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Raphaela Rezende 06/08/2018

Frenético e lírico
Só consegui passar do primeiro capítulo na terceira tentativa de iniciar a leitura. Estranhava demais o ritmo da narração, mas quando enfim ultrapassei esse marco, a experiência dessa leitura me arrebatou.
Peguei a indicação com o saudoso Arsenio Meira, que recomendou fortemente que eu começasse a leitura. Infelizmente, não o fiz naquela época e agora já não é possível conversar sobre as impressões que me foram causadas.

Esse livro faz uma espécie de biografia sobre o J. M. Barrie, autor de Peter Pan. Outra história contada é a do Peter Hook (que é o narrador), um autor de livros infantis que nasceu no mesmo dia em que Peter Llewelyn Davies se suicidou. Peter Hook é filho de roqueiros dos anos 60 (para quem é fã tanto desse período musical, dos atores e atrizes é um prato cheio de histórias e informações) e está contanto todas essas histórias para alguém chamado Keiko Kai.
É uma história frenética e lírica ao mesmo tempo, coisa que não parece possível, mas a qual Frésan faz com maestria. Não vou falar mais sobre a história, pois estragaria a experiência. Deixarei aqui alguns dos trechos favoritos:

"Bem-aventurados aqueles que leram muito durante a infância, porque deles, talvez, nunca será o reino dos céus, mas poderão chegar ao reino dos céus dos outros e lá aprender mil maneiras de escapar do próprio inferno graças às estratégias não-fictícias dos personagens de ficção."

"Os pais, é sabido, são invenções dos filhos. São os filhos que os transformam em pais e, portanto, tornam-se seus autores. Talvez haja um pouco de revanche e reflexo automático nisso. Os filhos começam sendo uma nota de rodapé dos pais, e os pais acabam sendo uma nota de rodapé dos filhos, a vida é assim mesmo e, certo, vivemos num mundo cruel."

"O nada de se aproximar do equador de sua vida. E não seria fantástico se a gente pudesse sentir o centro exato da própria vida? O momento em que a morte se muda para a casa vazia do nosso corpo e começa a decorá-la sem pressa, mas também sem pausa?"

"Keiko Kai: o amor é um país sempre terceiro-mundista. Uma república sujeita a ditaduras, e as crises financeiras, e a revoluções e a secas, e a epidemias. Um reino onde cedo ou tarde acontece um terremoto, onde sempre alguém vai sair caminhando por entre os escombros e as chamas sem conseguir entender o que aconteceu e por que justo comigo, hein?"

"Kensington gardens como o X no mapa de um tesouro e a silhueta branca delimitando o local exato onde acabou de florescer um morto."
Daniel 12/05/2021minha estante
Raphaela, fui eu que indiquei este livro pro Arsênio, em forma de retribuição a tantos bons livros que ele me indicou...
Volta e meia tiro meu exemplar da estante, dou uma folheada, releio alguns trechos e saio recompensado, como alguém que crê deve deve se sentir quando lê a Bíblia




jota 05/11/2019

Peter Pan e Sgt. Pepper se encontram em Neverland
Peter Hook (atenção para o nome), o delirante escritor inglês imaginado por Rodrigo Fresán conta para Keiko Kai (ator que interpreta Jim Yang, personagem criado por Hook; Yang é um garoto que viaja no tempo e suas histórias venderam milhões de exemplares mundo afora) e aqui seguimos a editora, “(...) a história de seus pais roqueiros, sua infância lisérgica, sua fatídica relação com a maior criação de Barrie [J. M. Barrie (1860-1937), autor de Peter Pan] sua devoção pela maior criação dos Beatles, a canção “A Day in the Life” (...)” e muito mais.

Temos em Jardins de Kensington o encontro psicodélico (para usar um termo muito em voga no tempo dos Beatles) entre duas épocas distintas, separadas por cem anos de história (e histórias), os tempos em que James Matthew Barrie viveu (época vitoriana em grande parte; com muitas citações a Charles Dickens e outros autores) e a revolucionária década de 1960, lembrada aqui sobretudo através do famoso quarteto de Liverpool. Tudo, ou a maior parte do tempo, se passando nos majestosos jardins londrinos de Kensington.

Como o próprio Fresán alerta nas notas finais, seu livro não tem a rigorosa intenção de ser uma biografia do autor de Peter Pan e menos ainda um preciso mapa de Kensington Gardens e seus arredores. Nesta biografia romanceada de J. M. Barrie o autor argentino tomou certas liberdades que facilitassem sua narrativa e também para que ela fluísse agradavelmente para o leitor. O que nem sempre ocorre: o primeiro capítulo é, ou parece ser, um tanto confuso ou delirante e um outro, lá pela metade do livro, com mais de cem páginas, parece nunca terminar e faz menção a muita gente nem sempre conhecida de todos.

Mas a maior parte do tempo as histórias contadas por Fresán são extremamente cativantes e então mergulhamos no texto com muito prazer. Mas temos de estar preparados para uma enxurrada de citações a atores, cantores, grupos musicais, escritores, políticos, personalidades etc, alguns deles presentes na capa do célebre disco gravado pelos Beatles em 1967, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, que contém, entre outros sucessos, a fabulosa “A Day in the Life”, a canção preferida do imaginário Peter Hook. Isso – a profusão de citações - ocorre em todos os capítulos. E nem todos os citados existiram de fato...

A história de Peter Pan, o menino que não queria crescer, todo mundo conhece, mas tem também a história dos meninos e dos adultos que não queriam morrer (alguns, sim), ou seja, a história por trás da história do inesquecível personagem que alguns imaginam ter sido criado por Walt Disney mas não. Ela pode ser encontrada aqui, contada de modo um tanto, digamos assim, e vamos usar novamente aquele termo, psicodélico. Tudo começa com um suicídio e muitas mortes virão depois nessas quinhentas páginas. Mas também virão muitas páginas saborosas (nem todas, também há trechos bastante tristes) povoadas principalmente pelos cinco belos filhos do belo casal Sylvia e Arthur Llewelyn Davies: os meninos serviram para Barrie como modelos para a criação do personagem Peter Pan e suas aventuras na Terra do Nunca e nos magníficos Jardins de Kensington.

Lido entre 23/09 e 04/10/2019. Minha avaliação: 4,7.


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