relamounier 05/09/2016As suplicantes - Para proteger um ser humano, até a guerra pode ser justificável.A peça narra a chegada de um grupo de mulheres fugidas do Egito à Atenas. Essas mulheres suplicam abrigo à cidade pois foram forçadas a se exilar em razão da recusa de se casarem com os noivos que lhe foram escolhidos. Tal recusa, em sua terra, seria punida com o assassinato.
As fugitivas, que tinham cor, religião e costumes diversos dos atenienses, relatam a sua desventura ao Rei Pelasgos e lhe pedem abrigo.
O Rei entende que se decidisse por abrigar as suplicantes, haveria guerra quando os egípcios decidissem buscá-las. Todavia, reconhecia também a existência de um dever sagrado de hospitalidade perante os deuses, o de abrigar os desventurados que pediam refúgio. Assim, existia, por um lado, o dever sagrado de hospitalidade e, por outro, o de evitar a guerra.
Ante o conflito de deveres e direitos, Pelasgos, em exercício democrático, remete a decisão do dilema à pólis:
"Difícil é decidir. Não me tomes por juiz.
Já disse antes: sem o povo não cumpriria
Isso, nem se pudesse, para que o povo
se houvesse infortúnio, nunca me diga:
'ao honrar advindas, destruísse o país.'"
Como é clássico das peças gregas que chegaram aos nossos dias, a democracia e os valores gregos são exaltados e, especificamente em "As suplicantes", ainda que os estrangeiros não fossem considerados cidadãos na Atenas antiga, podemos vislumbrar uma primeira discussão daquilo que viemos posteriormente chamar de 'dignidade da pessoa humana', afinal para proteger um ser humano, até a guerra pode ser justificável.