Mariana 06/03/2022
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"Eu Sobrevivi ao Holocausto", é um relato hemocionante de uma mulher que sobreviveu a tortura Nazista, Nanette Blitz.
"Eu lembro para poder viver, porque esquecer é morrer e perder de vez minha família."
Uma das amigas de Anne Frank que, inclusive, encontrou ela e sua irmã, Margô em Bergen-Belsen.
Nanette, foi separada de sua mãe, sei irmão e viu seu pai morrer, naquelas terríveis condições.
"No dia 14 de fevereiro de 1944, mais uma vez estávamos a postos para ouvir a lista de nomes que seguiriam para um lugar ainda mais desconhecido. Dessa vez, não haveria alívio momentâneo para minha família: Nanette Blitz, Martijn Willem, Helene e Bernard deveriam apresentar-se no dia seguinte no trem rumo à deportação. Essa rotina ainda seria repetida muitas vezes na nossa ausência:
seria apenas no dia 15 de setembro de 1944 que sairia o último transporte de Westerbork, também rumo ao campo de Bergen-Belsen, levando algumas pessoas e deixando menos de mil prisioneiros no campo de transição.
Enquanto outros iam embora rapidamente, eu e minha família permanecemos quatro meses ali.
Não sabia dizer se aquilo seria o fim ou o começo. A mesma cena que fora repetida tantas vezes agora era protagonizada pela minha família: nós quatro, esperando o trem, muito tensos e ansiosos.
Intimamente, torcia para que esse trem nunca chegasse e eu não precisasse partir dali. No entanto,
isso não aconteceu, e tivemos que embarcar."
"Os campos eram divididos em subcampos, que funcionavam em diferentes períodos. O campo de residência, que funcionou até abril de 1945, era dividido em quatro campos menores: Campo Especial (Sonderlager), Campo Neutro (Neutralenlager), Campo Estrela (Sternlager) e o Campo Húngaro (Ungarnlager)."
""Todos os que estavam nos outros campos não poderiam permanecer com suas roupas: deveriam utilizar aquelas vestes com aparência de pijamas listrados. Imagine utilizar a mesma roupa todos os dias, sem nenhuma outra opção? Com o tempo, a situação ficava realmente repugnante. Apesar de nunca as ter utilizado, deve ser por isso que não consigo gostar de nenhuma roupa listrada até hoje."
"A vida em um campo de concentração está além do compreensível. Apenas quem passou por essa situação consegue dimensionar com exatidão o horror, a incerteza, a insegurança e a anormalidade de tudo isso. Muitas vezes, nem quem passou por isso sabe exprimir o que vivenciou, pois faz de tudo para apagar qualquer vestígio desses tempos da memória. Um dia, sem termos cometido nenhum delito, eu e minha família fomos enclausurados e isolados da sociedade. Esse destino é concebido somente àqueles que não conseguem viver em comunidade. Qual crime havíamos cometido para estar ali? Ser judeu tornou-se um crime, e nós iríamos sofrer por isso."
"Apesar da grande ansiedade em que estávamos, dormi logo pelo cansaço da viagem. Estar naquele barracão, em Bergen-Belsen, era o começo de uma nova vida para mim. Toda a forma de vida que eu conhecia e achava que era minha, não existia mais. A ansiedade e a incerteza em relação ao futuro eram constantes. No entanto, quando você se encontra em um campo de concentração, sua principal preocupação é sobreviver ao dia. Não pensávamos mais em anos, mas no que cada dia reservaria para nós."
"Dá para perceber que o que se sucedeu no Holocausto só foi possível por causa da quantidade de pessoas envolvidas na operação. Quando se fala sobre Holocausto e Nazismo, o primeiro nome associado é o de Adolf Hitler, o líder de tudo isso. No entanto, cada engrenagem tinha um papel significativo para que tudo funcionasse corretamente. Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda, por exemplo, era também uma pessoa extremamente antissemita. Era ele quem disseminava por toda a Europa as ideias do Partido Nazista, incluindo o ódio contra os judeus. Hitler não teria conseguido fazer tudo sozinho: milhões de pessoas cegas e doutrinadas pelas ideias do Führer ? ideias que muitas vezes já tinham sementes próprias também ? foram necessárias para que todo o horror acontecesse."
"Quando uma ideologia se torna tão entranhada a ponto de sustentar barbaridades para um objetivo abominável, é algo alarmante para qualquer sociedade"
"Estávamos no escuro,
cegos, pois nunca se sabia qual era o humor dos nazistas: você poderia estar parado sem fazer nada e mesmo assim incomodá-los. Era algo inexplicável: a nossa simples existência já os incomodava."
"A religião era um aspecto que, apesar de tudo, também fazia parte do campo. Era curioso observar que havia dois caminhos que as pessoas mais religiosas seguiam: ou ficavam mais fervorosas, mantendo sua prática e devoção, ou então desacreditavam totalmente em Deus e passavam a não crer mais em um ser superior."
"Apesar de os judeus serem as principais vítimas do ódio nazista e de todo o sistema de destruição que operavam, não eram os únicos a sofrer: nessa época também foram perseguidos e enviados aos campos outros grupos considerados ?inimigos do Estado?. Hitler costumava dizer que tempos de guerra eram ótimos momentos para exterminar ?doentes incuráveis?. Os nazistas aproveitaram, então, a Segunda Guerra Mundial para avançar com as ideias de ?superioridade de raça?, que envolvia toda espécie de preconceito.
Além dos comunistas, que eram inimigos políticos de Hitler, os ciganos também eram considerados uma raça inferior. Eles também sofriam com preconceito antes da guerra, assim como os judeus enfrentavam o antissemitismo. As Testemunhas de Jeová, um grupo cristão que realiza a pregação de seus princípios de casa em casa, seguem uma doutrina que afirma que é necessária a neutralidade política, não concordando, portanto, com o serviço militar para um país, algo que desagradou o governo de Hitler.
Os homossexuais também foram enviados a campos de concentração, pois eram vistos como ?anormais?. Em junho de 1935, o Estado nazista decretou que até mesmo a amizade entre homens homossexuais seria considerada crime. É muito irônico que todas essas atrocidades tenham sido realizadas com base em leis promulgadas e acatadas. Que tipo de leis são essas?
Os deficientes físicos e mentais encaixavam-se no grupo de doentes incuráveis, que deveriam ser eliminados conforme a doutrina nazista. Por isso, muitos deficientes, considerados um fardo à sociedade, foram executados pelos nazistas, com intensa cooperação de médicos alemães. É assustador perceber que Hitler contou com um vasto apoio para conseguir executar seu plano maligno."
"No dia 8 de abril ainda chegariam mais milhares de prisioneiros em Bergen-Belsen: já não era possível receber mais ninguém, mas isso não impedia as ações desesperadas dos nazistas ? eles estavam encurralados. A população do campo já somava sessenta mil prisioneiros; sessenta mil pessoas que não seriam executadas, mas que não teriam as menores condições disponíveis para sobreviver ? não deixou esse de ser mais um método de assassinato em massa dos nazistas."
"Josef Kramer não fugiu como outros membros da SS. Ele permaneceu ali, para receber as tropas do inimigo e ?entregar? o campo, como se fosse uma cerimônia de passagem de posse. Ainda teve a frieza de explicar a situação de Bergen-Belsen, sem que nada alterasse a sua expressão facial. Era impressionante comparar a falta de empatia daquele homem diante dos horrores que praticava com a descrença dos britânicos no que viam e ouviam."
"O recolhimento dos corpos foi um trabalho intenso e difícil, porque a princípio os britânicos não sabiam como fazer aquilo. Como perceberam que os alemães já haviam começado a cavar valas imensas para isso, decidiram continuar com o trabalho. Afinal, não haveria outra possibilidade de enterrar todos os milhares de corpos.
E quem os ingleses colocaram para realizar esse trabalho? Quem não deveria nem ter começado com isso tudo: os próprios alemães. Alguns dos guardas da SS que ainda estavam lá foram obrigados a recolher os corpos e colocá-los nas valas. Era impressionante a indiferença com que eles executavam essa tarefa horrível; não demonstravam o menor remorso diante daquilo tudo."
"O Terceiro Reich havia mesmo chegado ao fim e o mundo entrava em uma nova configuração, apesar de a guerra só ter sido oficialmente encerrada em setembro de 1945, com a capitulação dos japoneses. Hitler não desejava amargar mais uma derrota alemã, fato que já havia vivenciado na Primeira Guerra Mundial como soldado, decidindo então, com uma atitude drástica ? ou covarde ?,
não ser preso pelas tropas dos Aliados, seus inimigos. No dia 22 de abril de 1945, os Aliados enviaram um telegrama recomendando que os alemães protegessem Berlim ? Hitler sabia que era tarde demais para qualquer tentativa que objetivasse evitar a derrota. Ele e sua mulher, Eva Braun,
estavam escondidos em um bunker quando deram fim à própria vida, no dia 30 de abril de 1945.
Hitler deu um tiro na própria cabeça e ela tomou veneno. Esse foi o desfecho do homem que liderou o maior massacre da história contra todos aqueles que não pertenciam à ?pura raça ariana? segundo suas convicções."
"Irma Grese, inclusive, ao ser questionada se era obrigada a torturar os prisioneiros, respondeu objetivamente: ?Não!?. Assim como também negou estar arrependida de todos os seus atos. Ela acabou sendo condenada à forca aos 22 anos de idade e, na hora de sua execução, sua última palavra foi ?Schnell!? (?Rápido? em alemão)."
"Em abril de 1945, minha mãe estava trabalhando em péssimas condições na fábrica de componentes para aviões em Magdeburg. Com o final da guerra se aproximando e toda a operação de transferência que os alemães estavam realizando, no dia 10 de abril de 1945, 2 mil mulheres que trabalhavam nessa fábrica de aviões foram colocadas em um trem sem destino. Esse trem eventualmente chegou à Suécia, mas minha mãe nunca chegou até lá. A data oficial de sua morte é dia 10 de abril de 1945. No entanto, ela deve ter falecido alguns dias depois da partida do trem, talvez por não possuir mais forças. Esse foi o relato que as senhoras fizeram ao amigo do meu pai. Não sei o que foi feito com o corpo da minha mãe, então nunca tive a oportunidade de me despedir dela.
Em relação à morte do meu irmão, eu nunca soube ao certo o que aconteceu, não tive como confirmar. Eu imagino que os militares da SS o tenham fuzilado assim que chegou ao campo de Oranienburg, local para onde foi deportado um dia antes de minha mãe partir, e seu corpo tenha sido jogado em uma vala. Apesar de ter feito pesquisas no registro do campo, nunca consegui confirmar nada: não há registro da morte do meu irmão, como se ele nunca tivesse existido. A certeza que tenho é de que eu nunca mais voltei a vê-lo. Minha família foi inteiramente destruída."
"Apesar de ter uma vida feliz em família, eu nunca consegui esquecer o que havia passado nos anos de campo de concentração. Um sobrevivente começa a sofrer os traumas desde o momento em que ele deixa o campo. Minha alimentação foi alterada para sempre devido às privações em BergenBelsen: até hoje não posso comer massas, churrasco, pãezinhos e nenhum alimento em grande quantidade. Mais tarde, fiz uma cirurgia nos joelhos, e alguns médicos disseram que o problema que eu tinha era devido a uma má-formação de ossos acarretada pelo desenvolvimento inadequado em uma idade que é tão crucial para o crescimento de um ser humano."
Nanette se casou e teve três filhos. Se mudou para o Brasil, por causa do trabalho de John, seu marido, e também morou nos EUA e retornou 8 anos após seu casamento para visitar seus tutores na Holanda.
"Infelizmente, apesar de gritarmos constantemente ?nunca mais?, a história do homem se dá até hoje pelas guerras ? guerras sem justificativa, nas quais se esquece o valor da vida. E é por isso que o Holocausto é um acontecimento tão atual, que deve ser lembrado eternamente.
Já faz mais de setenta anos desde que fui libertada de Bergen-Belsen e pude deixar aquele campo de horror e, no entanto, lembro tudo que eu sofri naquela prisão como se fosse hoje. Para que essas experiências não aconteçam com mais ninguém, deixo a minha história registrada para o mundo.
Espero que todos os jovens e todas as pessoas possam desfrutar de uma vida feliz, sempre exercitando a tolerância e o respeito ao outro."
Essas foram apenas algumas das marcações que fiz nesse livro, foram mais de 70.
Não tenho palavras para descrever, tenho apenas a minha indignação pelas pelas pessoas que ainda apoiam essa "ideologia" sanguinária.
Eu recomendo muito. É uma história que não pode ser esquecido, para que ninguém passe mais por isso.