spoiler visualizarLais Bermejo 03/06/2022
Glass Sword - SPOILERS - **
O livro começa exatamente onde o outro parou, no trem com a Mare finalmente voltando a realidade onde o Shade estava vivo e que eles estavam lutando contra o tempo para escapar do Maeven. O novo rei que traiu não apenas a revolução, não apenas a Mare, mas o pai e o irmão.
Depois do primeiro livro eu ainda não conseguia odiar o Maeven, apesar de tudo o que ele fez e como ele agiu. Assim como a Mare durante boa parte do livro eu tive problemas em esquecer a versão falsa dele que nos foi apresentada no primeiro livro.
Mas obviamente fica cada vez mais fácil odiar ele, especialmente depois da primeira "carta" que ele deixa para a Mare, aquele foi o ponto em que eu entendi que não havia mais volta pra ele, onde eu passei a odiar ele.
E nesse livro, assim como no primeiro, temos nossa querida lighting girl ignorando seus sentimentos pelo Cal, confusa em relação ao Maeven (mesmo que o ódio dela vá evoluindo) e se sentindo mais sozinha do que nunca.
Eu de fato aprecio que a autora manteve os efeitos do trauma. É complicado, é difícil e é brutal. Ela não confia em mais ninguém a não ser no próprio poder e eu não posso julga-la por isso, quem poderia?
E a cada página Mare cai cada vez mais profundamente nos seus traumas, pesadelos e medos. Ela teme ficar sozinha, mas ela afasta todas as pessoas pois ela não consegue confiar que eles não vão traí-la.
E isso é interessante, pois ela faz como muitos sobreviventes de traumas, ela se fecha, ela tranca todos os sentimentos dentro dela, coloca uma mascara e faz aquilo que ela acha que deve ser feito, aquilo que é necessário.
Ela tenta ser forte, ela tenta salvar as pessoas, ela tenta protege-los do que ninguém foi capaz de protege-la, inclusive ela tenta protege-los dela mesma, o que é tão triste, mas realista.
E até a morte do Shade ela estava apenas tentando salvar o máximo de pessoas possível, mas aquilo foi o limite. Assistir o irmão morrer sabendo que ele levou o ataque que era destinado a ela. Que o unico motivo de ele estar ali era pra salvar ela. Isso quebra a Mare de um jeito que o livro não disse, mas deixou evidente.
É como se ela tivesse morrido com ele. É como se ela perdesse parte fundamental de quem ela é no instante em que ela entende que ele esta morto por causa dela.
E as mortes que se seguem, as pessoas de ambos os lados que morrem, as pessoas que ela perde dos newblood que ela levou até aquela prisão, ela se culpa por todas elas, por todas as pessoas que morreram pela mão dela ou por suas ações, os fantasmas que ela carrega sozinha.
As decisões que ela toma, apesar de serem em linha com as atitudes da revolução, não são a Mare, e ela sabe disso.
E ela também sabe que a missão para a qual ela esta se enviando pode não ter volta, e mesmo que não seja dito, eu entendo que a Mare não quer voltar.
Em diversas partes do livro Mare diz que a Mare Barrows morreu quando caiu no escudo da arena e que ela matou Mareena Titanus quando foi capturada e marcada para execução. Que ela não sabe dizer quem ela é mais.
E no final, quando ela aceita que ela ainda é Mare Barrows, quando ela pede desculpas para a família, se deixa chorar pelo irmão, acompanha seu enterro e se desculpa com a Farley, eu consigo ver que ela esta tentando, como o Julian pediu que ela fizesse.
Mas no momento em que ela se depara com os resultados de suas decisões, é como assistir a Mare morrendo pouco a pouco por dentro, quando ela aceita a morte ao cair do avião com o Cal é como se ela estivesse em paz com o fim, como se fosse o que ela merecia morrer ali.
E então ela se entrega para o Maeven para salvar todas as pessoas que estavam com ela, ela se sacrifica por eles porque ela não consegue assistir ninguém mais morrer por causa dela, ela para de lutar e desiste pois ela acha que é isso que ela merece depois de tudo o que ela fez.
Mas o que me fez sentir pior, foi quando ela se ajoelha para o Maeven, sendo publicamente humilhada sem nem ao menos pensar. Ela não resiste, ela não luta, ela não questiona. Ela está tão quebrada que ela simplesmente obedece.
E isso me abalou de uma forma, pois a resposta dela a situação é tão realista. Uma pessoa que vivesse tudo o que ela viveu em tão pouco tempo, toda a dor, a perda, os traumas se acumulando. Ninguém conseguiria resistir. Todas as pessoas possuem um limite, e livros as vezes esquecem que os heróis também tem limites e isso me fez gostar tanto do livro que eu de fato estou lutando comigo mesma para não começar a ler o próximo nesse instante.
O relacionamento da Mare e do Cal é uma coisa que me irrita, mas ao mesmo tempo não irrita, não chega a ser tóxico, mas beira codependencia.
A Mare não consegue aceitar, sequer pensar, nos sentimentos dela pelo Cal e ele, apesar de demonstrar muito mais do que ela, sendo que ele normalmente é quem inicia todas as cenas entre eles, não consegue confiar nela o suficiente para fazer o relacionamento deles funcionar.
Apesar de todos assumirem que os dois estão juntos, e eles dividirem o mesmo quarto. Não passa disso. Tem alguns beijos entre eles e é basicamente isso, o relacionamento deles e quase inexistente.
E isso me irrita. Os dois são claramente apaixonados um pelo outro. Tudo bem, os dois mentiram, eles se traíram. A Mare mais do que o Cal. Porém, depois de tudo o que eles passam, depois de todas as vezes que um salva a vida do outro, depois de todas as vezes que eles se recusam a abandonar um ao outro, ou quando eles seguram a mão um do outro por apoio, por segurança, por medo, por qualquer coisa. Depois de dividirem o mesmo quarto por sabe-se-la quantas noites e se respeitarem absurdamente.
Ainda assim eles não movem. É como se eles estivessem presos nessa situação onde um não vive sem o outro, mas não confia que a outra pessoa não vai quebrar seu coração e/ou sua confiança em algum ponto. E eu entendo isso, porém é um livro inteiro onde não tem progresso no relacionamento deles, e eu nem me refiro a parte romântica, a amizade deles está tão abalada que é difícil ver a conexão que eles tinham, é difícil acreditar que eles dependem tanto um do outro quando mal conseguem conversar.
Eu não sei como vou ler o próximo livro sabendo que o Shade morreu. Eu não consigo aceitar isso, eu literalmente joguei meu celular do outro lado da cama no segundo em que meus olhos leram a passagem que dizia que ele morreu.
Eu não sei como eu não vi isso chegando, era óbvio que alguém próximo a Mare iria morrer. Ela estava "sobrevivendo" bem de mais. Sabe aquele ditado "the calm before the storm"? Basicamente eu estava pressentindo um acontecimento trágico, mas não o Shade. Não o Shade.
E pra me deixar ainda mais triste tem a Farley colocando a mão na barriga depois do enterro. Além de matar o Shade eu ainda preciso chorar pela criança que nunca vai conhecer o pai? Eu to muito triste.
Eu meio que não consigo colocar o quão destruída eu me sinto em palavras. O Shade era meu personagem favorito e eu não estou bem.
E essa é minha resenha muito grande.