Jeff.Rodrigues 06/08/2017Resenha publicada no Leitor Compulsivo.com.brPublicado em 1981, Cérebro tem todos os ingredientes que consagraram Robin Cook como autor de thrillers, embora eu considere esta obra especificamente como um pouco inferior a outras desse mesmo período de sua carreira. A trama acompanha o Dr. Martin Philips e as dúvidas que o instigam a partir da morte de uma paciente durante uma operação em seu cérebro. Quando mais tenta descobrir as causas do óbito, mais dúvidas, empecilhos e mortes aparecem em seu caminho. O que parecia uma doença estranha ou não diagnosticada começa a soar como uma grande conspiração envolvendo não só médicos como a própria direção do hospital.
Começa então uma corrida em busca da verdade em que necrotérios, laboratórios de patologia, radiografias, exames ginecológicos e jargões médicos se transformam em elementos corriqueiros e familiares para os leitores. Esse, pra mim, é o maior fascínio da obra de Cook. O horror médico de seus livros é palpável porque é uma ficção muito próxima do real. Por mais inventivas que sejam suas histórias, todas elas possuem um pé muito bem fincado na realidade. Em outras palavras, a maioria dos experimentos e situações pode realmente acontecer.
No caso de Cérebro, somos jogados numa trama em que a ética médica é colocada em xeque em nome do avanço das pesquisas. “Os resultados justificam os métodos”, afirma um dos personagens, munido de alto apoio governamental para tocar sua pesquisa em busca de “não vou dar spoilers”. Cook lá no começo da década de 80 já apontava o dedo para a vontade do homem em descobrir os mistérios do cérebro para usos tecnológicos não necessariamente benéficos.
Com uma linguagem veloz, sem muitos rodeios desnecessários, o livro fisga o leitor e vai apavorando à medida que descobrimos o que está por trás das mortes misteriosas. Os personagens são medianamente desenvolvidos, uma característica ruim, mas que mudou consideravelmente para melhor nas obras posteriores do autor. O ponto mais que negativo vai para a péssima tradução dessa edição, algo infelizmente bastante comum no trabalho das editoras brasileiras até meados da década de 1990.
Sou da opinião de que quando gostamos pra valer de um autor, ler sua obra completa é fundamental. Já tive surpresas fantásticas ao explorar livros pouco conhecidos de diversos autores, e com Robin Cook não foi diferente. Cérebro fica a dever em diversas características quando comparado ao conjunto da obra, mas é uma leitura imperdível para termos conhecimento desse universo do thriller médico e nos assombrarmos com as possiblidades escondidas dentro das pesquisas neurológicas.
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