ricardinho 16/04/2022
Jornalismo suspeito
O filósofo Alain de Botton é de Zurique, Suíça, nascendo em 1969. É autor de alguns livros que abordam jornalismo, literatura, amor e arquitetura. Dentre as várias obras, é notória a importância de Notícias: Manual do Usuário.
O jornalismo vem perdendo espaço para as novas mídias e uma alternativa encontrada para atrair olhos e ouvidos, mesmo que não seja tão recente, é criar manchetes mais atrativas para falar de notícias não tão atraentes e, até, antecipar conclusões, mesmo de fatos em andamento. Para isso, as mais diversas estratégias são utilizadas e, melhor que privar/censurar, exitem dinâmicas mais traiçoeiras e cínicas que objetivam confundir, entediar e distrair, apresentando os acontecimentos de maneira desorganizada, fragmentada e intermitente, fazendo com que a maioria não fixe atenção por tempo suficiente no desenrolar das questões mais importantes. Dessa forma, o leitor/ouvinte é atraído para notícias mais "higiênicas", como o novo penteado do famoso do momento, por exemplo.
Há, também, o notíciário populista. Este, busca a liderança do ibope através do sangue alheio, quando poderia mostrar atos de heroísmo do dia a dia. Portanto, além de um braço decepado, há aquela criança salva na linha por um policial; guerreiros patrulhando enquanto dormimos...
Flaubert já alertava para o surgimento de um novo tipo de estupidez: aqueles que, pior do que quem não tinha conhecimento, agitavam as discussões do momento baseados em palavras deste ou daquele periódico. Deve-se considerar que as manchetes são apenas palpites, nem sempre reflexo da realidade, considerando o que pode ser importante em determinadas comunidades.
Outra estratégia forte dos notíciários, é utilizar como atração as marcas. Estas nos convencem sobre a veracidade dos conteúdos ( New York Times, Le Monde, Globo, etc.).
Também é importante dizer que um dos problemas da filosofia destas manchetes "anormais" é que não sabemos o que é "normal" em dada região para termos como parâmetro e analisar. O que é aceito na África, talvez não o seja na Ásia ou o seja parcialmente na América. Que sejam utilizadas as lentes adequadas para a leitura de cada região e atenção às fotos fabricadas.
Na economia, as pessoas não entendem as notícias e as técnicas, indo, muitas vezes, às ruas em busca de revoluções sem entenderem quais as soluções viáveis. Culpa do jornalismo que não se empenha em explicar suas nuances.
Enfim, cada palavra deste livro se adequa à realidade do noticiário brasileiro. Enquanto basearmos nossas atitudes nas opiniões das pesquisas e âncoras do momento, estaremos fadados a sermos os "estúpidos de Flaubert".
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