Nós, os afogados

Nós, os afogados Carsten Jensen




Resenhas - Nós, os afogados


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Fuinha1 24/07/2020

Pedra da ressurreição que chama
Esse livro me matou e me reviveu tantas vezes que a pedra da ressurreição ia ficar com inveja, pqp. Por que ninguém conhece ele????!!!!
ELE É FANTÁSTICO! O MELHOR LIVRO QUE EU JÁ LI! TODAS as histórias são lindas e profundas e cada personagem é tão bem descrito que parece que eles são seus vizinhos! Meu DEUSSSSS, o final eu chorei tanto mas tanto que acho que o rio Amazonas me daria um prêmio de tanta água que saiu de mim. Sério gente, leiam essa merda vai mudar a vida de vcs, eu enfiei esse livro goela abaixo li tudo em uns dois dias e reli de novo e de novo.
E. Chorei. Todas. As. Vezes.
Dá vontade de tatuar na CARA o título e sair distribuindo planfeto na rua pras pessoas darem mais atenção a essa obra divina e soberana vinda dos deuses celestias imaculados.

Ai desisto não sei nem explicar o quanto eu amo, ele é o meu livro favorito ever, se eu falar ou pensar mais nele eu surto e tenho um ataque epilético desculpe.
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jota 24/11/2020

BOM (história extremamente longa em que a primeira metade me pareceu superior à segunda)
Em visita aos países nórdicos, tempos atrás, colhi várias informações sobre Noruega, Suécia e Dinamarca e uma delas tinha a ver com a história de Nós, os Afogados: nenhum ponto do território dinamarquês está a mais de 50 quilômetros do mar. Elemento que exerce enorme influência sobre todo o país há muito tempo. No caso do livro de Carsten Jensen, a narrativa abrange apenas cerca de cem anos, entre 1848 e 1945, noventa e sete para ser exato. O que não é pouco para um romance, se bem que volumoso demais: ele tem quase setecentas páginas. Grande parte do tempo a ação se desenvolve na cidadezinha insular (e real) de Marstal, onde vivem os personagens centrais do livro. Todos fictícios, mas construídos a partir de gente que viveu ali de fato. É, pois, ficção, mas com uma boa dose de história, conforme podemos verificar nas fontes bibliográficas citadas no final do volume.

Para a parte ficcional Carsten se inspirou em diversas histórias contadas por autores nórdicos e também em outros, conhecidos universalmente, como Homero, W. Somerset Maugham, Herman Melville, Robert Louis Stevenson, Mark Twain, Joseph Conrad e até mesmo Victor Hugo com seu Os Trabalhadores do Mar. Essa enorme mistura resultou num relato extenso demais e que, como as ondas do mar, tem altos e baixos. Além de trazer algumas coincidências dignas dos romances de Charles Dickens, como o reencontro, depois de muitos anos (e aventuras) de dois personagens importantes, Sophie Smith e Knud Friis, numa situação perigosamente inacreditável. Certas cenas vão lembrar Herman Melville, sem dúvida, embora nenhum personagem aqui tenha de lutar contra baleias, orcas ou “monstros” marinhos, mas contra inimigos humanos e a fúria do mar. Um dos navios da trama tem o nome de Odisseu, clara referência a Homero e, antes disso, a busca do personagem Albert pelo pai Laurids Madsen nos mares do sul remete diretamente a Telêmaco e sua procura pelo pai, Ulisses.

O início de Nós, os Afogados é meio devagar em termos de interesse, demora um tanto para a coisa realmente começar a empolgar. É quando entra em cena o terrível professor Isager, personagem que parece saído diretamente das páginas de Dickens, que mais batia em seus alunos do que os ensinava: as histórias dessa parte do livro (contadas em A corda de bater) são, talvez, as melhores de todas. Prosseguindo na trilha da crueldade vem em seguida outro homem mau, o contramestre O’Connor que, com suas tendências homicidas, aterrorizava os marinheiros a bordo. Para amenizar um pouco temos depois a história do agora idoso Albert Madsen e sua amizade com o garoto órfão de pai (um dos muitos afogados da narrativa), Knud Evid; eles são dois dos mais importantes personagens do livro todo. A mãe de Knud, Klara Friis, é a personagem feminina mais destacada da narrativa, mais do que a própria Sophie Smith, a amada de Knud, a quem um dia ele chamou de cadela. Klara Friis e Albert Madsen vão passar de amigos para amantes, mesmo com a enorme diferença de idade entre os dois.

Todas essas narrativas se desenvolvem até mais ou menos a metade do livro e são as mais interessantes. Compreendem os títulos I (As botas, A corda de bater; Justiça, Jornada, Catástrofe) e II (O quebra-mar, Visões, O menino, Estrela do norte); já nas partes III e IV (As viúvas, O matador de gaivotas, O marinheiro, De volta para casa e O fim do mundo) muitas das histórias começam a se fechar, encaminhando-se para o final, ainda um bocado longe, porém. Nelas há muitas informações sobre as mudanças que vão ocorrendo na cidade de Marstal e no mundo, na atividade náutica com a passagem dos navios a vela para os movidos a vapor, nos negócios mercantis, e também na incipiente aviação, bem como no envolvimento da Dinamarca na Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Aventura, e muita, não vai faltar da metade para o final do livro, mas aqui os personagens já são todos adultos e não têm, a meu ver, o mesmo apelo do tempo de infância e adolescência. De todo modo, Nós, os Afogados, em nenhum momento vai fazer o leitor bocejar de tédio. Muito pelo contrário.

Lido entre 30/10 e 22/11/2020.
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Felipe - @livrografando 29/03/2020

O melhor livro da década
Desde 2017, quando li A Mansão do Rio, obra pouco conhecida do Pat Conroy (o mesmo autor de O Príncipe das Marés), não lia um romance tão denso e com uma história tão profunda, aliada a um excelente texto. Nós, os Afogados, nesse sentido, ocupa um lugar de destaque, simplesmente por se constituir no melhor livro que já li até agora, e essa afirmativa é sustentada por inúmeros argumentos, desde a escrita até mesmo à edição da Tordesilhas, que dá um aspecto simbiótico à obra. De quebra, uma história inesquecível, bem construída, com personagens bem concebidos e baseada numa sólida e extensa pesquisa nos arquivos que Carsten Jensen realizou durante vários anos.
Nós, os Afogados é um romance dinamarquês publicado em 2006 e é baseada na própria história da cidade de Marstal, num espaço de 97 anos, entre 1848 e 1945, tendo como mote central os marinheiros, dentre os quais se destacam três: Laurids Madsen, Albert Madsen e Knud Erik. Iniciando com uma sangrenta batalha no mar, o romance já mostra que a violência terá um papel de destaque, uma vez que a trama irá abordar as duas guerras mundiais. Nessa batalha, Laurids Madsen desaparece sem deixar vestígios, mas Albert acredita que o pai não está morto, mas apenas sumido, então resolve também se tornar marinheiro para poder encontrar seu genitor.
No afã de querer ingressar na marinha dinamarquesa, Albert passa por uma provação: o senhor Isager, conhecido por ser altamente agressivo e autoritário com seus alunos, agredindo-os fisicamente. A escola da marinha era vista como um ritual de iniciação na vida do homem dinamarquês, provando sua masculinidade, baseada na resistência à dor e na rigidez. No entanto, os alunos começam a alimentar um ódio mortal por Isager, cansados da humilhação a qual eram submetidos, e começam a planejar uma vingança que acaba por matar seu animal de estimação, o Karo, além de tentar matá-lo em um incêndio.
Anos mais tarde, Albert já é um marinheiro experiente e numa das suas viagens, consegue encontrar seu pai (não é um spoiler, pois não compõe um dos momentos decisivos da trama), no entanto com outra família e renegando seu primogênito, e é exatamente nesse momento que Albert percebe as consequências da vida de marinheiro e mudanças nas relações familiares. Com o tempo, Albert se torna um grande proprietário de navios, no qual erige uma estátua e um quebra-mar, celebrando o momento de apogeu da pequena cidade de Marstal. Mas esse momento de êxtase e euforia dura pouco, pois a Primeira Guerra Mundial grassa e afunda a cidade em um mar de lágrimas, chorando os mortos do conflito bélico. Sem dúvida, é a partir deste momento que Carsten Jensen mostra sua sensibilidade na escrita, através da atitude de empatia que os personagens têm (afinal, por si só, o título do livro já inspira uma sensação de empatia).
Nessa miríade de emoções que a Grande Guerra proporcionou não só a cidade de Marstal, mas ao mundo inteiro, Albert conhece Klara Friis, viúva de Herman Henning Friis, que morreu em combate no mar, e mãe de Knud Erik, que mais tarde se tornará um dos grandes marinheiros de Marstal, mesmo contra a vontade de sua mãe, temerosa de o que aconteceu com seu esposo se repita com seu filho. Albert começa a se apaixonar por Klara, mas vê em Knud Erik um obstáculo, já que tal relacionamento poderia esfriar entre os dois, o que acaba acontecendo posteriormente. O que Klara não sabia é que Albert levava seu filho para o cais, fato que Herman Frandsen, uma espécie de antagonista do romance, acaba participando a mulher, fazendo com que ela expulse o marinheiro idoso da casa e ele saia sem rumo pelo mar, até provocar sua morte.
Com a morte de Albert, mais uma virada na história: sem saber, Klara se torna herdeira do patrimônio do empresário, e sem saber como lidar com tantos bens, vai à Copenhagen e conhece Isaksen, com quem não terá uma relação amistosa até desembocar no rompimento entre os dois. Nesse ínterim, Knud Erik está disposto a se tornar marinheiro, mesmo sem o consentimento de sua genitora, mas não possui audácia para tanto, até que seus amigos o influenciam para que o menino apresente mal comportamento na escola, fato que começa a se concretizar. Esses seus amigos, além de companheiros de gangue, se tornarão seus colegas de profissão anos mais tarde. Na reta final do livro, Knud Erik conhece Sophie, uma garota que irá balançar as estruturas do jovem marinheiro, fazendo com que ele comece a entrar em conflito interno a respeito do que realmente quer para a vida. Na vida de marinheiro, Knud Erik irá conhecer não só os prazeres e as alegrias da liberdade, como as suas prisões e suas lacunas, o que começa a ocorrer no momento em que o personagem está no mar combatendo na Segunda Guerra Mundial, lutando pela vida e pela sobrevivência não apenas sua, mas dos companheiros de tripulação.
O que torna Nós, os Afogados tão incrível a ponto de se sagrar o melhor livro que já li na década (2011 a 2020, pois é um historiador falando)? Em primeiro lugar, a escrita de Jensen: desde a primeira página, o autor te convida a conhecer a história de uma forma tão simples, mas ao mesmo tempo com um texto irretocável, e que incrivelmente consegue manter ao longo de quase 700 páginas, o que é uma proeza e tanto. O texto da narrativa é dividido em sequências, ocorrendo com que a história transcorra com dinamismo e fluidez, além das palavras sofisticadas e da construção dos parágrafos que beiram o lírico, o poético, por vezes, o que dá um charme a mais no romance. Por meio de um texto sensível, Jensen convida o leitor, por vezes, a refletir sobre os temas abordados no romance.
Em segundo lugar, a própria edição da Tordesilhas, que, para além de uma linda capa com um tom de azul atraente, também a diagramação dos parágrafos traz um aspecto de harmonia, o que permite ao leitor uma experiência agradável com o livro. O que dizer então das divisões do livro com aquele desenho de âncora na parte superior central da página? Simplesmente maravilhoso.
O terceiro ponto que destaco são os personagens, todos muito carismáticos, tanto os principais como os secundários e aqueles que apenas realizam uma passagem pela trama, pois cada um possui sua contribuição para o desenvolver da trama. Acredito que a intenção do autor seja mostrar que a vida de todas as pessoas daquela localidade girava em torno do mar, tanto no que diz respeito aos negócios, ao modo de viver, quanto ao temor da instabilidade da vida e da morte, constantes no romance.
A quarta coisa a destacar são as reflexões que o autor traz ao longo da narrativa. Aliado ao texto de elevado nível, Jensen tece problemáticas que convidam o leitor a pensar sobre as questões da vida, como a humanidade em nosso dia a dia, a valorização das pessoas que estão ao nosso redor, as atitudes que temos em relação ao outro, bem como sobre as consequências dos caminhos que se traçam. Mas ainda há um outro tema que poderia muito bem se encaixar na atualidade: a frágil masculinidade, que reside na demonstração de força, poder e resistência à dor, construindo o arquétipo do homem destemido, corajoso. Knud Erik, por exemplo, é um contraponto a este tipo, pois ao mesmo tempo que reproduz esses estereótipos, é um homem confuso, indeciso, pressionado pela vida e pela sociedade, vivendo de acordo com suas próprias regras, o que se constitui em mais uma genialidade de Carsten Jensen.
Por último, destaco a estrutura narrativa da trama e do seu ritmo, ou seja, como Jensen conduz a trama. A partir do encadeamento do texto denso, mas ao mesmo tempo sensível, com as cenas e os pensamentos de cada personagem, Nós, os Afogados entrega uma simbiose muito rara de acontecer em romances longos. Da primeira a última página o texto é de excelente nível, não destoando em nenhum momento, o que auxilia no desenrolar da trama, sendo mesmo interessante até momentos que não são significativos para o entendimento do romance, devido à fluidez da escrita. Uma história que tem o mar como mote poderia se constituir em uma trama enfadonha, modorrenta, onde nada acontece, mas Jensen prova neste livro que as ações dos personagens é apenas a cereja do bolo.
Por essas razões, considero Nós, os Afogados como o livro mais bem escrito até hoje e que relerei com certeza. Uma história bem elaborada, com personagens bem construídos, e, de quebra, com um texto de alta qualidade e recheado de contextos históricos, Nós, os Afogados entrega uma experiência fantástica para o leitor, onde ele irá conhecer não apenas um pouco da história da Dinamarca (muito interessante, por sinal), uma vez que o autor pesquisou em arquivos para conceber a trama, como também é um ensinamento sobre a vida, sobre a empatia com o outro, sobre o senso de humanidade das pessoas, tão necessária e urgente nesses tempos de individualismo e de egocentrismo exacerbados, como o autor mesmo fala no final do livro: “os afogados somos nós”. Recomendo mil vezes a obra dessa leitura! Quem ainda não leu e quer uma ótima opção de trama que saia do óbvio, essa é a indicada.
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Lina DC 07/08/2015

Maravilhoso!
"Nós, os afogados" de Carsten Jensen é uma obra atemporal. Dotada de lirismo e com um ritmo poético, somos convidados a nos juntar a inúmeros marinheiros, que tiveram suas decepções e alegrias em meio a um instável lar, o mar. A narrativa é direta, mas ao mesmo tempo ao refletirmos sobre o conteúdo, percebemos que o narrador é intimista e que até mesmo defende um ou outro lado da história. É a capacidade do autor em tornar o narrador um dos pontos centrais do enredo.

"As nuvens acima do mar congelado mudavam, mas ele já as conhecia todas. Havia muito com que os olhos se refestelassem, mas nada para a alma. Albert tinha fome de algo que o céu não era capaz de satisfazer. Em algum lugar do planeta, precisava existir um tipo diferente de luz. Um mar que espelhasse novas constelações. Uma lua maior. Um sol mais quente." (p. 108)

A leitura é densa, e muitas vezes, o narrador oculto nos faz questionar da veracidade do que está sendo narrado. Quando a sinopse menciona que o livro nos remete às epopeias, é verdade, pois a história não gira em torno de um personagem, ou conta um determinado acontecimento. Ela representa inúmeras pessoas que passaram suas vidas no mar, conhecendo inúmeros locais, culturas e pessoas, e ainda sim, vivendo dentro de uma cultura particular: as regras de um navio.

"Não tinha nada a ver com obedecer as regras. A vida lhe ensinara algo muito mais complicado do que a justiça. Seu nome era equilíbrio." (p. 244)

Em relação à revisão, diagramação e layout a editora realizou um trabalho impecável. A capa parece um quadro e combina perfeitamente com a trama.


site: http://www.viajenaleitura.com.br/
LivMessias 07/08/2015minha estante
Adoro suas resenhas, Carolina!


Lina DC 10/08/2015minha estante
Obrigada Lívia ;)




Blog MDL 07/02/2016

Cem anos de história. Nesse livro, iremos embarcar na vida das pessoas de Marstal, cidade pequena e orgulhosa, cidade de marinheiros, porém pertencente às viúvas e aos órfãos. De 1848 a 1945, há muita história a ser relatada por uma narrativa poderosa, um grande elogio a um modo de vida que ficou para trás deixando apenas lembranças naqueles que viveram ou fizeram parte dos prazeres e sofrimentos presentes ali.

O livro está divido em quatro partes bem elaboradas, de modo a auxiliar o leitor a compreender melhor todos os acontecimentos. Na primeira parte, acompanhamos os marinheiros a uma disputa de um ducado pela Dinamarca na guerra contra a Alemanha em 1848. Dando maior visibilidade a Laurids Madsen, aquele que “foi ao céu e voltou” depois da explosão do navio em que estava e de como passar por essa guerra o mudou, fazendo-o largar sua família e ir embora, deixando todos sem saber se estava vivo ou não.

A partir de um pedaço da primeira parte até a terceira parte do livro, temos Albert como personagem principal, onde sua vida e suas aventuras são narradas, desde o momento em que ele se torna um jovem marinheiro e sai mar afora em busca de respostas e do paradeiro de seu pai, Laurids Madsen, seu amadurecimento e sua evolução de marinheiro a capitão até quando ele decide se fixar em terra, depois de uma longa vida ao mar. Mesmo sendo um dos maiores corretores de navios da cidade de Marstal, sem mulher ou filhos e tendo uma vida boa e confortável, Albert só acha razão para uma possível felicidade depois que conhece o jovem Knud Erik, filho da viúva Klara Friis, com os quais estabelece um laço de amizade e confiança.

Depois disso, passa a ter como personagens principais Klara Friis e seu filho Knud Erik, dando uma pequena conclusão nessa saga de cem anos de muitas aventuras ao mar, muito pranto na terra e muito aprendizado e evolução na pequena cidade de Marstal.

“Nós, os Afogados” me surpreendeu de várias maneiras que eu não esperava. Primeiro: sua narrativa. Nunca havia lido nenhum livro narrado pela primeira pessoa do plural. Esse “nós” que nos conta a história o tempo todo nada mais é todos os marinheiros, as pessoas que ali vivem. Isso trouxe uma abordagem totalmente inusitada, já que os relatos podem ser apenas fofocas das pessoas da cidade ou a mais pura realidade.

Depois: sua temática. Mesmo mantendo o foco em alguns personagens, a história não é sobre eles. Nem mesmo sobre a Dinamarca ou a pequena cidade de Marstal; mas sim sobre o tempo e como as coisas mudam ao longo dele. O tempo nada mais é do que a chave para entender de verdade o que o livro realmente que nos passar. Mesmo relatando a dura vida das pessoas que ali vivem, Carsten Jensen ainda consegue introduzir um humor sagaz em vários momentos ao decorrer do livro.

Não recomendaria esse livro para um leitor “iniciante”, pois além de ser um livro grande, ele é repleto de reflexões e uma filosofia que, para muitos, pode se tornar complicado de compreender. É uma leitura bastante intensa e também relata uma realidade muito cruel da vida dos marinheiros e das pessoas que estão ao seu redor. Mesmo assim, ele traz consigo muitas questões que podemos dizer que são ideais que toda pessoa tenha conhecimento sobre e leve consigo.

Preciso também falar que a editora Tordesilhas, por mais que publique poucos livros, estes são de uma qualidade incontestável. Não li nenhum livro que estivesse abaixo de “muito bom”. Ela consegue cativar os seus leitores de várias maneiras diferentes. Uma das coisas que mais me agrada é trazer livros fora do eixo EUA, muitos da parte Nórdica e mais fria da Europa, com cenários magníficos para a imaginação de cada leitor. “Nós, os Afogados” não está nem um pouco atrás do selo de qualidade Tordesilhas.

Apesar de ser uma história bastante densa, é escrita de uma maneira bem simples, condizendo com a simplicidade do cenário e de seus personagens e narradores. Não é um gênero que eu estou acostumada a ler. Também, acho que nunca li nada parecido. Mesmo assim, é um livro impressionante, um dos melhores que já tive o prazer de ler. Ainda que eu ache que as pessoas que estão começando a se envolver no mundo da leitura agora não devam começar com algo tão intenso, esta é uma leitura mais que recomendada. Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei.

site: http://www.mundodoslivros.com/2015/11/resenha-nos-os-afogados-por-carsten.html
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Túlio 23/04/2018

Monumental! (vou resumir sem muito nhem-nhem-nhem)
Eu estava receoso a respeito do livro, porque havia lido algumas resenhas e críticas (até boas), mas que classificavam o livro {repleto de lirismo, etc...} e essa baboseira toda. Então temia que fosse um daqueles calhamaços maçantes, e tal. No entanto me surpreendi! Foi a melhor leitura do ano! E suspeito que vai ser difícil ler algo melhor ainda este ano.

O livro é basicamente uma mistura de epopeia com romance de formação. Pois atravessa gerações, e ilustra muitíssimo bem como nos influenciamos uns aos outros. Se eu fosse definí-lo em poucas palavras diria que se trata de violência; sobrevivência; fé; raízes, e por aí afora. É simplesmente brilhante! Personagens irão ecoar na memória por muito tempo. O texto em si tem a fluidez de um Jonathan Franzen (calhamaço, mas anda bem...), mas acredito que do ponto de vista estilístico se assemelha muito a um Victor Hugo moderno. Assim fica fácil de sacar a pegada da obra. Leia! Só isso. Livro bom é para compartilhar! Leia!...
Erika.Carvalho 23/04/2018minha estante
Já me convenceu a querer ler, Tulio! Vou procurar o livro ;)


Túlio 24/04/2018minha estante
Meu!... Q livro!... Começa devagar e então depois de umas oitenta páginas engrena q é uma beleza!


27/04/2018minha estante
Me deu vontade de ler em


Túlio 27/04/2018minha estante
Muito, muito, muito bom.




jugueiroos 08/02/2016

Resenha feita para o Blog Mundo Dos Livros
Cem anos de história. Nesse livro, iremos embarcar na vida das pessoas de Marstal, cidade pequena e orgulhosa, cidade de marinheiros, porém pertencente às viúvas e aos órfãos. De 1848 a 1945, há muita história a ser relatada por uma narrativa poderosa, um grande elogio a um modo de vida que ficou para trás deixando apenas lembranças naqueles que viveram ou fizeram parte dos prazeres e sofrimentos presentes ali.

O livro está divido em quatro partes bem elaboradas, de modo a auxiliar o leitor a compreender melhor todos os acontecimentos. Na primeira parte, acompanhamos os marinheiros a uma disputa de um ducado pela Dinamarca na guerra contra a Alemanha em 1848. Dando maior visibilidade a Laurids Madsen, aquele que “foi ao céu e voltou” depois da explosão do navio em que estava e de como passar por essa guerra o mudou, fazendo-o largar sua família e ir embora, deixando todos sem saber se estava vivo ou não.

A partir de um pedaço da primeira parte até a terceira parte do livro, temos Albert como personagem principal, onde sua vida e suas aventuras são narradas, desde o momento em que ele se torna um jovem marinheiro e sai mar afora em busca de respostas e do paradeiro de seu pai, Laurids Madsen, seu amadurecimento e sua evolução de marinheiro a capitão até quando ele decide se fixar em terra, depois de uma longa vida ao mar. Mesmo sendo um dos maiores corretores de navios da cidade de Marstal, sem mulher ou filhos e tendo uma vida boa e confortável, Albert só acha razão para uma possível felicidade depois que conhece o jovem Knud Erik, filho da viúva Klara Friis, com os quais estabelece um laço de amizade e confiança.

Depois disso, passa a ter como personagens principais Klara Friis e seu filho Knud Erik, dando uma pequena conclusão nessa saga de cem anos de muitas aventuras ao mar, muito pranto na terra e muito aprendizado e evolução na pequena cidade de Marstal.

“Nós, os Afogados” me surpreendeu de várias maneiras que eu não esperava. Primeiro: sua narrativa. Nunca havia lido nenhum livro narrado pela primeira pessoa do plural. Esse “nós” que nos conta a história o tempo todo nada mais é todos os marinheiros, as pessoas que ali vivem. Isso trouxe uma abordagem totalmente inusitada, já que os relatos podem ser apenas fofocas das pessoas da cidade ou a mais pura realidade.

Depois: sua temática. Mesmo mantendo o foco em alguns personagens, a história não é sobre eles. Nem mesmo sobre a Dinamarca ou a pequena cidade de Marstal; mas sim sobre o tempo e como as coisas mudam ao longo dele. O tempo nada mais é do que a chave para entender de verdade o que o livro realmente que nos passar. Mesmo relatando a dura vida das pessoas que ali vivem, Carsten Jensen ainda consegue introduzir um humor sagaz em vários momentos ao decorrer do livro.

Não recomendaria esse livro para um leitor “iniciante”, pois além de ser um livro grande, ele é repleto de reflexões e uma filosofia que, para muitos, pode se tornar complicado de compreender. É uma leitura bastante intensa e também relata uma realidade muito cruel da vida dos marinheiros e das pessoas que estão ao seu redor. Mesmo assim, ele traz consigo muitas questões que podemos dizer que são ideais que toda pessoa tenha conhecimento sobre e leve consigo.

Preciso também falar que a editora Tordesilhas, por mais que publique poucos livros, estes são de uma qualidade incontestável. Não li nenhum livro que estivesse abaixo de “muito bom”. Ela consegue cativar os seus leitores de várias maneiras diferentes. Uma das coisas que mais me agrada é trazer livros fora do eixo EUA, muitos da parte Nórdica e mais fria da Europa, com cenários magníficos para a imaginação de cada leitor. “Nós, os Afogados” não está nem um pouco atrás do selo de qualidade Tordesilhas.

Apesar de ser uma história bastante densa, é escrita de uma maneira bem simples, condizendo com a simplicidade do cenário e de seus personagens e narradores. Não é um gênero que eu estou acostumada a ler. Também, acho que nunca li nada parecido. Mesmo assim, é um livro impressionante, um dos melhores que já tive o prazer de ler. Ainda que eu ache que as pessoas que estão começando a se envolver no mundo da leitura agora não devam começar com algo tão intenso, esta é uma leitura mais que recomendada. Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei.


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Coruja 01/02/2018

Embora seja escrito em prosa, não tenho dúvidas de que o romance dinamarquês Nós, os Afogados mereça a classificação de epopéia - no sentido de ‘uma extensa narrativa heróica que faz referência a temas históricos, mitológicos e lendários’. No espaço de um século, acompanhamos a história de três homens - Laurids Madsen, seu filho, Albert e Knud Erik, um órfão que Albert acaba ajudando a criar -, confundidas com a história da cidade de Marstal, na Dinamarca, e dos conflitos em que os homens de Marstal se envolvem, incluindo as duas guerras mundiais. Sendo Marstal uma terra de portos e navegadores, essa é também uma narrativa de marinheiros, da evolução dos veleiros para os barcos a vapor e, claro, de ‘histórias de pescador’ - um pé, pois, no realismo fantástico.

O livro é dividido em três partes, cada qual acompanhando um desses personagens em suas jornadas. Tudo começa com Laurids Madsen, que teria ido ao céu após a explosão do seu navio, num conflito entre Dinamarca e Alemanha em 1848. São Pedro lhe nega entrada no Paraíso e ele cai em pé, salvando-se graças ao peso de suas botas. Os primeiros capítulos nos mostram os dinamarqueses capturados na batalha, prisioneiros enquanto aguardam um acordo entre seus governos. Laurids, que pode até não ter visto os portões do paraíso, mas certamente sobreviveu milagrosamente ao combate que acabou com o navio em que era tripulante, muda com a experiência, e um dia embarca num navio para os extremos do mundo e nunca mais retorna.

O foco muda então para Albert, o filho de Laurids. Primeiro assistimos o conflito das crianças com o violento professor da única escola de Marstal, Isager, que não se contenta com a palmatória, somando ao seu repertório socos, chutes e a corda. Esse é um conflito de gerações mas que, segundo alguns dos meninos que já foram para o mar, é necessário, visto que, ao se tornar adulto e marinheiro, as surras apenas aumentam. A violência com que eles precisam se acostumar está presente desde muito cedo, é parte de sua experiência de vida. Passado esse primeiro aprendizado, Albert se torna marinheiro, passando por diversos navios, vivendo a lei do mar e a lei da terra e, após alguns anos, sai em busca do pai, indo parar em ilhas de canibais e cabeças encolhidas. Aqui temos as primeiras referências diretas à Odisséia, com Albert identificando-se com Telêmaco à espera e em busca do pai.

Já velho, Albert tem sonhos premonitórios nos quais enxerga Marstal como uma cidade de navios e marinheiros fantasmas. São os primeiros dias da Primeira Guerra Mundial e, embora a Dinamarca tenha se mantido neutra, seus barcos caíram muitas vezes vítima de submarinos alemães. É dessa maneira que entra em cena o terceiro protagonista do romance: Knud Erik, que ainda menino, perde o pai num desses navios. Albert, que nunca se casou ou teve filhos, acaba se aproximando do garoto, tornando-se a figura paterna na vida dele - e envolvendo-se também com a viúva, Klara Friis.

Albert acaba deixando a fortuna que fez em sua carreira como capitão e corretor de navios para os Friis… e assim temos a terceira parte do romance, que se divide entre o amadurecimento de Knud Erik, sua partida para o mar, e seu envolvimento na Segunda Guerra Mundial; com a história de sua mãe, cujas perdas para o mar fazem com que ela o enxergue como um inimigo e cuja fortuna herdada permite a ela encontrar meios de se vingar.

Todos esses personagens passam por processos de desumanização e depois de reencontro com a própria humanidade, através da violência, de suas buscas pessoais, e do aprendizado que tiram do mar. Klara serve como um interessante contraponto colocado a todos esses homens - ela é a mulher sempre deixada no porto, para quem o mar é uma ameaça, representante do outro lado desse mundo de sacrifícios e imensidões.

O enredo é quase todo em primeira pessoa, mas não enxergamos o narrador (exceto por alguns capítulos em que Albert conta sua jornada) - ele é um dos homens de Marstal, uma das testemunhas daqueles acontecimentos, ele é um homem adulto e é uma das crianças e é também um dos marinheiros nos diferentes barcos por onde passamos; ele é um e muitos e por isso está sempre falando “nós, os homens”, “nós, os meninos”, “nós, os marinheiros”, "nós, os afogados". Não me lembro de ter visto antes essa técnica narrativa, mas embora tenha estranhado de início, foi uma escolha que fez sentido, especialmente a se considerar o coletivo do título. Há também um elemento de universalidade nessa forma de narrar, de abarcar o mundo naquela cidadezinha da costa dinamarquesa; num tom que nos faz pensar em História e Tradições Orais, algo bem presente no fim do livro.

Curiosamente, minha jornada com Nós, os Afogados é também uma pequena odisséia. A primeira vez em que ouvi falar desse livro, foi numa indicação numa revista de avião; em algum ponto sobre o mar entre Recife e Lisboa - e a capa da edição portuguesa foi o que realmente me chamou a atenção. Anotei o título, coloquei na minha lista de ‘querências’ e deixei lá por um tempo. Não sei exatamente quando foi que descobri que o livro também tinha sido publicado no Brasil, mas sei que o encontrei para troca no Skoob e foi assim que ele chegou na minha estante. Foram dois anos até que eu me decidisse por começá-lo - quatro, desde que o descobri naquela viagem - mas, bem, aqui estamos.

Terminando… Nós, os Afogados é um livro intenso, ambicioso, mas que faz jus a essa ambição. Ele me fez viajar, e me deixou com vontade de colocar os pés na areia, de navegar e olhar as estrelas no meio do mar, sem terra à vista. É uma bela e poderosa narrativa, uma boa aventura, repleta de momentos de ‘história de pescador’, sem deixar de ser realista, especialmente em suas perdas e na forma como apresenta a guerra. Mas é também um livro denso, complexo, que se recomenda degustar aos poucos.

site: http://owlsroof.blogspot.com.br/2018/02/desafio-corujesco-2018-uma-aventura-no.html
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