Emily422 26/01/2022
Eis a romântica era da razão
Pois então, perscrutando cenas pastorais de uma idade média já há muito decadente e do início efervescente da modernidade, eis, sobre isso, o olhar da romântica era da razão!
Ann Radcliffe, ao passear por construções antiquíssimas não mede esforços poéticos para desvendar seus mistérios e expor a razão, deveras iluminada (se isso não for um grande pleonasmo), de sua época. O mundo é profundamente assombrado por demônios? Talvez, mas, se o for, a estaca de Radcliffe é de madeira polida com a lâmina da racionalidade do brilhante século XVIII, e os demônios se encontram em esferas psicológicas que mais tarde seriam investigadas ou discutidas por pessoas como o querido Carl Sagan, Oliver Sacks, (...).
Independente das resoluções dos mistérios, ou da falta delas, percorrer gigantescas e pesadas fortalezas no estilo gótico saxão é um prazer a parte! Em algumas partes me senti de volta ao mirabolante e obscuro Castelo de Otranto.
Logo, Os mistérios de Udolpho, apesar de capítulos irrelevantes, enrolações/redundâncias astronômicas e a grande tendência insuportável ao desmaio, a cada vento que passa, das personagens femininas (principalmente da protagonista, pelo amor de deus), é uma obra deliciosa que oferece tudo que a primorosa literatura gótica pode dar e mais um pouco: o épico se impõe ao sobrenatural!
Enfim, o livro é constituído de descrições tão minuciosas e apaixonadas das paisagens e dos modos de vida, que senti que depois de lê-lo eu estive, presencialmente, na França e na Itália, entre Alpes "assustadores" & magníficos e campos verdejantes no final do século XVI. Portando, quanto à mágicas de outras naturezas não sei.... mas, novamente, os livros contêm algo de solene, tenho certeza, eles são "[...] a prova de que os homens são capazes de fazer magia".