Rub.88 01/08/2020Vida a DoisNa construção de uma narrativa literária o enredo é tão importante como o tema. Pode parecer que são coisas similares, mas não é bem assim. Enredo é a sequência de eventos, os fatos descritos e a movimentação da trama. O tema é o objetivo que o autor quer discutir, colocar em evidencia. As vezes são vários temas tratados, dependo do folego da obra, que são correlacionados ou paralelos. O sucesso pode ser medido pela clareza e simbiosidade de ambos. O talento para conseguir esse equilíbrio é raro. O mais comum é que um lado, é isso não é precisamente um defeito, se sobressaia.
No livro Um Longo Amor de Pearl Buck, publicado em 1949, o casamento com muito Love é o foco.
Edward Haslatt, jovem muito sério e austero está perdido de amor por Margaret Seaton que exibi um comportamento mais leve e menos rígido que a maioria das moças da época tinham. A estória tem início algo antes da Grande Depressão norte americana de 1929 e tem como cenário uma cidade pequena da Nova Inglaterra.
Quando digo que Ned está perdido de amores por Maggie, é porque ele não encontra palavras que traduzem minimamente o que sente. Fica envergonhado facilmente e é melindroso. Engasga sempre quando tenta, sem sucesso, declarar algo mais eloquente. Gosta de livros e sonha em transformar a tipografia que trabalha com o pai numa grande editora.
Vai pedir novamente Margaret em casamento. A terceira vez é a da sorte. Depois de um dia de preparações e circunlóquios, dispara o pedido e foi aceito com algumas condições. Ela diz que não se sujeitará a caprichos alheios e será sempre direta com ele. A vida em comum vai sufoca os dois rapidamente se segredos, ressentimentos e distanciamento excessivo virar uma constante. Claro que ele aceita os termos, pois não sabem muito sobre relacionamentos. A família dele é rígida e travada. Econômica nas palavras e pobre em gestos afetuosos. O tratamento é tão formal que pode ser classificado com ríspido. Já o pai de Margaret é um simpático falador, é tão aberto em certos assuntos que deixava Edward sempre desconcertado. E o fazia de propósito.
O foi casamento marcado para o natal, data importante em futuros eventos do livro. Tudo ocorreu sem drama, até um tanto chato. Vão começar a convivência marital com a promessa de priorizarem um ao outro em tudo que lhes acontecer. Será uma provação que pequenos e causticantes percalços, todos eles de certa maneira comuns, tentará corroer. Ano após ano.
A estória de Um Longo Amor é pouco variada. Dividido em três fases com a primeira tratando das ansiedades pre-casamento, o modelo familiar e social do período e a inocência não de toda perdida quando se chegar falsamente à maturidade, devido ao matrimonio. A parte dois é a consolidação do negócio de impressão de livros. A expansão da família com o nascimento periódico das crianças saudáveis e espertas. Os problemas com e dos parentes. E o escritor talentoso, que sendo das camadas mais simples dos morados da cidade, vem com sua genialidade colocar a nu a hipocrisia dos moradores e dá uma estremecida no casamento de Edward e Margaret. No último ato, a vida estável e bem sucedida. Os filhos crescidos e donos dos próprios narizes. Um pouco de conflito de gerações e preocupações com os tempos que correm. Finda a segunda guerra mundial e a advento da bomba atômica. E o arremate é a pior coisa que pode acontece para um pai e uma mãe.
Essa obra é de ideias, que a trama dá oportunidade de pensar. São basicamente reflexões da escritora sobre a vida em comum. A mudança de atitude entre as gerações e novos anseios que naturalmente surgem. A procura no outro daquilo que lhe falta ou que não conhece. A pergunta que fica é se essa necessidade pode ser suprida. E a que custo?