Euflauzino 08/10/2013O aprendizado pela dorSou daqueles que viajam quando lê sobre outras culturas sejam elas grega, romana, nórdica e principalmente oriental. Acho que eu deveria ter nascido no oriente porque sou totalmente à favor do que eles mais prezam que é o “caminho do meio”, algo entre o certo e errado, um atenuante para os conflitos, uma força que une tudo, o “meio”, enfim uma expressão budista.
A diferença me fascina, por isso Musashi (Estação Liberdade, 1808 páginas), romance publicado em forma de folhetim entre 1935 e 1939, escrito por Eiji Yoshikawa, não poderia ficar de fora dessa minha busca insana pelo entendimento desse “meio termo”, algo que mantém o equilíbrio.
Deixemos pra lá a parte filosófica e passemos para o romance. Ele nada mais é do que a transformação do jovem e selvagem Takezo em um dos mais famosos e sábios samurais – Miyamoto Musashi – passando pelas agruras de seu autoaprendizado, pela ajuda de um monge budista, Takuan, pela grande paixão de sua vida, a jovem Otsu, culminando no grande duelo entre ele e o espetacular espadachim Sassaki Kojiro, que em seu treinamento abatia andorinhas em pleno voo com sua espada carinhosamente chamada de “Varal”, por ser tão longa que era impossível carregá-la nas costas.
O livro inicia-se num momento emblemático na história do Japão feudal, a Batalha de Sekigahara. Musashi (ainda Takezo) estava do lado perdedor, junto de seu amigo:
“... Matahachi surgiu ao lado do amigo arrastando-se com dificuldade e agarrou sua mão, dizendo bruscamente:
― Vamos fugir!
Em resposta, Takezo atraiu para si a mão do companheiro, advertindo-o:
― Não se mexa, finja-se de morto! O perigo ainda não passou!”
Quem já leu ou tomou contato com o universo samurai sabe que um guerreiro prefere lutar a se entregar e se fingir de morto é vergonhoso até para um samurai errante, imperdoável por todos, inclusive pela família. Musashi era um jovem em busca de fama e encontrou a humilhação.
Ele não era um qualquer, era imponente:
“Com quase um metro e oitenta de altura, Takezo era excepcionalmente alto e assemelhava-se a um veloz potro de raça. Tinha braços e pernas longos, lábios vermelhos e as espessas sobrancelhas, de traçado mais longo que o normal, ultrapassavam o canto externo dos olhos conferindo-lhes determinação.”
Por conta própria desenvolveu um estilo de luta com a espada. Guerreiro polêmico, nos dizeres da tradudora de sua obra no Brasil (que em menos de 2 anos de vendas já atingia 70 mil exemplares), “nunca largava as espadas, dificilmente ficava nu e tomava banho”. Musashi (1584 – 1645) escreveu “O livro dos cinco anéis”, um livro de estratégias utilizado até os dias atuais por homens de negócio do mundo inteiro.
Além de rico em ensinamentos, é um livro romântico. Otsu é a musa de Musashi, porém há relatos de que tenha morrido solteiro por causa de sua obsessão pelo aprendizado e sua peregrinação em busca do aperfeiçoamento espiritual.
Enfim, quem como eu se comoveu com o filme “O último samurai” não irá ficar indiferente à cultura, à disciplina e aos costumes deste guerreiro temperado pelo aço da espada e fiel ao bushidô – código de honra samurai.