Hereges

Hereges Leonardo Padura




Resenhas - Hereges


20 encontrados | exibindo 16 a 20
1 | 2


Poesia na Alma 25/04/2018

Na contramão do que está fora
O herege – palavra de origem grega ‘hairesis’ que significa ‘escolher’, mais tarde, pela igreja, passa a ter um novo significado “o que está fora da Igreja” – para além do senso comum e da visão marginalizada, é um corajoso disposto a causar estranhamento num grupo a ponto de promover mudanças. ‘É preciso ter valor para ser herege’, segundo Leonardo Padura, autor do livro HEREGES, 503 páginas, Boitempo Editorial.

(...) chegavam com a ratificação de uma condenação à morte já anunciada, Daniel Kaminsky, chafurdando nas brumas de sua dor, tomou a drástica decisão de, por vontade própria e do fundo do seu coração, a partir desse instante renegar sua condição de judeu.

HEREGES é um romance de caráter histórico e policial, com três protagonistas: Daniel, Elias e Judith que têm em comum o quadro Rembrandt e a necessidade de liberdade. A história do Saint Louis em 1939 e o envolvimento de Cuba é ponto de partida. Daniel Kaminsky, judeu de apenas oito anos, está em Cuba aos cuidados do tio e espera sua família – pai, mãe e irmã – refugiados do Holocausto que virá no navio Saint Louis. Sua família era portadora de um quadro de Rembrandt desde o século XVII que poderia garantir a estadia em Cuba.
A proposta é que o navio aportasse em Havana e depositasse “sua carga humana de 937 judeus alvoroçados por sua boa sorte”. Assim como a Europa, Cuba havia sido tomada por campanhas nazistas contra os Judeus.

O mais doloroso, contudo, foi ver como a gente comum, sempre tão aberta, muitas vezes repetia o que lhe inculcavam: os Judeus são sujos, criminosos, trapaceiros, avarentos, comunistas, diziam. (...) Era evidente, como depois chegaria a entender, que a propaganda e o dinheiro nazistas haviam atingindo seu objetivo, com a colaboração – por ele prevista – do governo dos Estados Unidos e sua política de cotas de imigrantes.

Após dias, atracado em Havana, o Saint Louis fora rejeitado por Cuba, Estados Unidos e Canadá, e Daniel, apenas com oito anos, viu sua família partir naquele navio direto para morte. “Também aprendeu, para sempre, que o processo de manipular as massas e trazer à baila os seus piores instintos é mais fácil de explora do que se costuma pensar”. Resultando num dos mais vergonhosos e desumanos atos políticos do século XX.

Daniel neste momento renega sua condição de Judeu e decide viver integralmente a cultura e rotina de Cuba ao passo que o Rembrandt desaparece. E então o já conhecido Conde, personagem de outros livros do autor, agora ex-policial, contratado pelo filho de Daniel anos depois, também participa dessa trama.

A segunda parte do livro, Elias, traz a história de Elias Ambrosius, no século XVII, discípulo de Rembrandt, emprestou seu rosto para pintura do quadro de famoso quadro Jesus de Nazaré e é condenado por heresia. A terceira parte do livro traz o desaparecimento de Judith Torres, uma jovem ‘emo’ de dezoito anos e mais uma vez a presença de Conde se faz necessária fazendo um pingue pongue entre romance histórico e romance policial.

O último capítulo do livro, Gênesis, o autor sustenta a relação dos três personagens centrais pelo prisma da liberdade e heresia. Durante a narrativa, outros personagens vão também dando vida ao conceito de liberdade, de romper com o imposto que engessa e propõe repensar o sentido da vida.

O Herege não é aquele que está fora, é aquele que está dentro. Daniel não deixa de ser judeu visto que essa também é uma questão de memória celular, mas ele rompe com o dogma, ele deixa de ser um dogma, o mesmo se pode pensar de Elias Ambrosius e Juduth é a representação do juvenil e melancólico, como se fosse o resultado de uma história que não deve mais se repetir, que grita por progresso “Os emos eram netos de um avassalador cansaço histórico”. Também pode ser vista como a finitude de um conflito existencial de gerações. Conde seria o elo entre todos esses personagens e esses conflitos e Elias, filho de Daniel, a necessidade da verdade, para que se deixe de lado a angústia e possa gozar da liberdade.

Se um país ou um sistema não permite escolher onde se quer estar e viver, é porque fracassou. A fidelidade por obrigação é um fracasso

A necessidade histórica e humana da heresia mesclada ao mistério policial faz com que mais de quinhentas páginas possam ser lidas rapidamente, onde o único crime é o de não ser livre e o enigma, repensar valores para o coletivo. Poderia descrever de várias formas viscerais a força dessa leitura, entretanto, deixo aqui as palavras de Eric Nepomuceno “Fica, então, uma advertência: ler este livro até o fim pode mudar sua maneira de ver a vida e mundo. Para melhor, é claro.”

site: http://www.poesianaalma.com.br/2018/04/resenha-na-contramao-do-que-esta-fora.html
comentários(0)comente



Adriano Barreto 07/10/2017

Melhor leitura do ano
Conhecia o autor por "O homem que amava os cachorros", e já havia criado uma certa expectativa positiva com relação a esse. O que, às vezes, é ruim por que, se o livro for mediano, ficamos frustrados. O que não aconteceu, muito pelo contrário, elevou ainda mais o conceito que havia formado do autor. Um livro que, além de explorar a questão da liberdade sob diversos pontos de vista nas três histórias que o entrelaçam, tem a capacidade de transportar o leitor, sob o olhar do romântico Mario conde, a Havana do século XX ou a Amsterdã do século do XVII.
comentários(0)comente



Egídio Pizarro 03/06/2017

É o segundo livro que leio de Leonardo Padura - o outro, "O homem que amava os cachorros", é ótimo.

Aqui ele mantém um estilo bastante parecido, mas há alguns detalhes que deixaram a obra um pouco abaixo do que eu esperava. O mistério da primeira parte, por exemplo, não foi mistério em momento algum para mim. Posteriormente, a forma como ele explora a cultura emo ficou destoante - em qualidade - do resto da narrativa. Usa 4 personagens, mas todos dotados de um mesmo nível filosófico, o que torna a situação um pouco irreal.

A despeito desses pequenos defeitos, é possível perceber no trabalho de Leonardo Padura um estilo bastante próprio que o alça ao posto de um dos melhores autores latino-americanos. Nos dois livros que li, percebi tons de elogio à simplicidade da vida cubana, porém ele sempre faz notar que o cerceamento às liberdades individuais é uma falta grave e defende essa ideia com maestria.

Recomendo bastante a obra dele.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Daniela.Carvalho 01/06/2016

Hereges
A obra é subdividida em vários livros. O ponto em comum entre todos são as reflexões sobre a vida e a liberdade. Quando a história segue a narrativa de Mário Conde, o livro torna-de irresistível.
comentários(0)comente



20 encontrados | exibindo 16 a 20
1 | 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR