Ellen - @anotacoesliterarias 22/07/2020AngustianteNo mar conta a história de Donald que insatisfeito com a sua vida tira um trimestre sabático para realizar o sonho de velejar. Três meses em alto mar, só ele e seus pensamentos.
"Um barco pode zarpar, mas no fim tem que retornar a um porto. O mundo é assim. Os únicos barcos que permanecem no mar são os que naufragaram."
Mas, a última travessia da viagem de volta para casa, que vai da Dinamarca a Holanda ele quer fazer na companhia da sua filha Maria de 7 anos. No início a esposa se opõe, mas depois acaba cedendo, afinal ele só quer fazer um programa de pai e filha e compartilhar com ela sua paixão pelo mar e são só 48 horas, o que pode dá errado?
No início da travessia acompanhamos seus pensamentos e devaneio em relação sua vida profissional e pessoal. E toda insatisfação com sua existência.
Quando chega o momento de encontrar a filha, Donald está animado e cheio de expectativas e a chegada da Maria põe fim a sua solidão e trás alegria. Ele assume o papel de pai capitão e ensina pra filha tudo sobre a vida marítima, diário de bordo, mapas. E, tudo ia bem, até Maria desaparecer numa noite de tempestade.
"Grito por ajuda, ainda que não tenha ninguém para escutar. Grito para ouvir a mim mesmo."
Donald entra em pânico e o leitor também, não tem como não se envolver com a sua busca, a leitura se torna angustiante diante da indecisão do protagonista, de pedir ajuda ou fazer a busca sozinha, as mensagens da esposa chegando e ele sem saber o que responder. Que aflição. Só fui respirar aliviada quando virei a última página do livro.
No mar é um livro curto, que dá pra ler em um dia. Tem uma narrativa que vai das águas tranquilas a ondas turbulentas e um narrador não confiável, durante a leitura questionei algumas das suas atitudes, mas logo em seguida tudo parecia possível. Foi uma leitura angustiante, mas que me trouxe algumas reflexões e que no final não deixa de ser uma metáfora sobre a vida, quem num momento de insatisfação já não quis ir para bem longe ou no meu caso, diante de um problema tem dificuldade de pedir ajuda e acha que pode resolver tudo sozinho.
"cada milha que eu velejava me levava para mais perto do mundo do qual eu fugira."
Edição linda da finada Cosac Naify, os capítulos vão se alternando como se fosse as ondas do mar, alguns de iniciam no fim da página, outros no meio e no topo da página.
Livro 5/10 do projeto #1livroacada7dias