Doug Cavalcante 25/05/2012
Uma Jornada para Escutar a Verdade
O autor católico usa como pano de fundo a presença portuguesa no Japão no contexto tardio (séc. XVII) da Era dos Descobrimentos e das Grandes Navegações.
Ele utiliza um episódio real dessa época para iniciar sua história: a apostasia do padre Cristóvão Ferreira. Missionários portugueses, que vinham nas embarcações, iniciaram o trabalho catequizador com bastante sucesso em terras nipônicas.
Os japoneses, que no início se mostraram bastante receptivos ao catolicismo com um considerável número de conversões, inclusive contando com a adoção da religião por poderosos senhores feudais, passaram a ser perseguidos pela mudança de atitude por dirigentes japoneses quanto à tolerância religiosa, que viam na doutrina católica uma ameaça externa.
Os fiéis japoneses continuaram a praticar o catolicismo, mesmo em segredo, junto ao trabalho dos missionários estrangeiros. Durante essas perseguições feitas pelo governo japonês, existia uma prática que consistia em torturar o cristão até ele negar Deus, isto é, cometer apostasia. Era uma forma de intimidar e abalar psicologicamente os outros cristãos, principalmente quando se tratava de uma autoridade importante.
Em uma dessas perseguições, o padre Ferreira, depois de duradoura seção de tortura, renunciou a sua fé. Na época existiam diversos mártires que aguentavam a tortura até a morte, sem renunciar suas crenças. Como ele se tratava de uma figura importante na nascente igreja católica do Japão, esperava-se que ele morresse como um mártir. Com sua apostasia, nem é preciso dizer que a notícia chegou na Europa como uma bomba... Além desse triste fato, ficou sabendo-se que Ferreira tinha casado com uma mulher japonesa (o que era normal), mas que agora colaborava com as perseguições do governo, como um intérprete!
Shusaku Endo usa esse fato histórico para a aventura de seu protagonista, o jovem padre Sebastião Rodrigues, que parte para o Japão atrás de respostas sobre seu antigo professor e para ajudar organizar a resistência da igreja católica no Japão.
O livro mostra o protagonista passando por diversas adversidades que o autor e o personagem vão pontuando com metáforas bíblicas. A narração começa em primeira pessoa, como cartas do Sebastião, depois passa para a segunda pessoa. O título "Silêncio" é referência à crise religiosa enfrentada pelo padre durante seu percurso, que diante das grandes dificuldades, ele se questiona do porquê Deus se manter tão silencioso diante dos sacrifícios dele e dos cristãos japoneses.