Bruninho H. 26/12/2013
Kakure Kirishitan, o Amor Profundo versus Amor Aparente: se redescobrindo na perseguição
Estamos no séc. XVII. O Clã dos Tokugawa ascende no poder, iniciando-se o período que seria conhecido como Edo até a segunda metade do séc. XIX, quando o Japão reabre-se ao mundo.
Nesse arquipélogo do Extremo Oriente, vemos uma flor estranha de profundas raizes aparecer em meio ao bosque de crisântemos e cerejeiras: o cristianismo. Expandindo-se com sucesso no séc. anterior, agora passa por intensa perseguição. São vários os relatos da resistência e força de fé que levavam japoneses e missionários ao martírio. Entretanto, chega a Europa um boato abalador: o grande entusiasta da missão nipônica, o português Cristovão Ferreira, havia apostatado, renegado a fé conscientemente diante da tortura. Apesar de possível mentira, o fato era que não se conseguia receber mais notícias dos cristãos naquele longínquo país onde agora apenas holandeses possuíam legítima relação. Qual melhor esclarecimento do que uma visitação, ainda que mortal? Nesse intento partem para Macau três jovens padres, sendo um deles Sebastião Rodrigues, profundo admirador do suposto apóstata. Nessa viagem, eles começam a descobrir a si mesmos, vendo pelo cotidiano nas terras do xogum, o seu "estilo de cristianismo" sendo contrastado. E diante de tantas ameaças e terror, só recebem o silêncio divino. Ou é neste silêncio que o Todo-Poderoso está falando?
Leitores de diferentes experiências criticam, elogiam, interrogam, sugerem, clamam por mudança em atos e caráter, e participam sobre a vida desses padres num Japão que se apoia na exploração dos camponeses. É uma leitura envolvente e séria, e o que mais a dignifica é o fato de ser escrita por um católico japonês. É literatura, romance histórico, mas por alguém que já entrou em crise com o catolicismo e o "ser japonês". Entrem nessa viagem ao passado com Endo, conhecendo um pouco dos "kakure kirishitan", cristão escondidos, que durante mais de 230 anos de proibição conseguiram guardar sua fé de geração em geração, mudando a vida da ilha de Kyushu até hoje.
O livro, em 2015, ganhará adaptação pelo cineasta Martin Scorsese, primeiríssimo fã do livro que também dirigiu "O Aviador" (2004) e "A Invenção de Hugo Cabret" (2011). Já foram confirmadas as presenças de Andrew Garfield (Espetacular Homem-Aranha, 2012), Ken Watanabe (O Último Samurai, 2003) e Issei Ogata (O Sol, 2005).