"Ana Paula" 06/09/2018Violetas ao Vento está no meu Kindle a um bom tempo, mas a vontade de lê-lo não foi tanta quanto senti ao tê-lo impresso na minha frente. Então, assim que cheguei em casa da Bienal, não aguentei e já comecei a lê-lo. Acredito que tenha sido um dos melhores momentos para tal, pois consegui captar toda a alma de Violeta e senti-la com mais intensidade, pois da mesma maneira que Violeta sofreu durante o enredo, eu sofri durante uma parte da minha vida. Mas não, não vou chorar minhas pitangas para vocês! rsrsrs Isso é passado, Eu perdoei meu pai por todo o mal que causou a mim. Hoje, tento muito lembrar dele só com momentos bons; as vezes é difícil, mas sempre encontro algo que me anima.
Violeta é uma jovem de 17 anos que mesmo com a pouca idade, sabe exatamente o tamanho do sofrimento. Ela e sua mãe são agredidas diariamente por aquele que devia cuidar delas, protegê-las. Maurício, pai de Violeta e, consequentemente seu agressor, trata a esposa e a filha como empregadas e, ao menor sinal de oposição a ele, ambas são agredidas tanto fisicamente quanto oralmente. O único que "se salva" das agressões é Narciso, irmão mais velho de Violeta. Narciso é criado pelo pai para ser um machista como ele.
"No fundo, queria que alguém visse que todas aquelas atitudes me afetavam, que aquele inferno no qual eu estava inserida me corroía por dentro. Queria que alguém me salvasse e me tirasse dali. Não viam que me faziam mal? Que eu sofria mais que todos ali?"
Violeta só pode contar com seus amigos e com sua madrinha. Sua mãe se tornou uma pessoa distante, mas mesmo assim, Violeta quer salvá-la desse sofrimento. Mas e quando a pessoa não quer ser salva? O que fazer?
A partir desse questionamento, Violeta enfrentará seus demônios mais íntimos, passará por momentos de dor e agonia, enfrentará o monstro que a assombra e, quem sabe, conseguirá encontrar e viver um grande amor.
Eu sofri demais lendo e resenhando esse livro. Por diversas vezes fechei o notebook e deixei para continuar a escrever essa resenha para depois. Mas uma hora eu teria que terminá-la, certo? rsrs Então, não vou me estender muito descrevendo todo o sofrimento de Violeta. O leitor poderá sentir na pele ao ler este livro. Jéssica escreve com sentimentos e conhecimento do assunto. Não baseia-se em ficção, a realidade de muitas mulheres e resume a isso e, infelizmente, não são todas que conseguem seus "finais felizes".
"Pela primeira vez na vida enfrentei meu pai. Não sabia quais seriam as consequências disso depois, mas tive coragem e é isso o que importa. Era como se uma nova Violeta estivesse surgindo, abrindo-se para o mundo, para as novas possibilidades."
Vemos Violeta crescer, tomando coragem para enfrentar seus medos e acima de tudo, querendo salvar sua mãe mesmo que a mesma não queira. Seu sofrimento é tanto que cheguei a chorar em diversas partes, não por pena, mas por raiva. Não consigo entender como uma pessoa que deveria amar e proteger pode machucar. A forma como Mauricio trata as mulheres de sua família - sim, a mãe dele também é maltratada tanto por ele quanto pelo esposo - é horrível.
Jéssica nos trouxe um enredo rico em realidade. Sua escrita doce e envolvente trata o tema com a doçura necessária para entreter o leitor e nos dar um alerta. A narrativa em primeira pessoa, pelo ponto de vista de Violeta só nos deixa mais tensos, pois acompanhamos o sofrimento dessa jovem que só quer ter uma família que a ame, que a respeite.
A autora soube dosar as partes dramáticas com o romance e isso deixou a leitura gostosa e fluída. Cada capítulo trás um trecho de um poema, Violeta ama poemas e os de Florbela Espanca acompanham o enredo desse livro. Gostei muito disso, vários dos poemas narrados por Violeta neste livro, carregam o peso do sentimento da personagem e isso me tocou muito.
A diagramação é simples, mas bem feita, com bom espaçamento e letras em tamanho confortável para a leitura. Encontrei alguns erros de revisão, mas nada que prejudique a leitura. A capa deixou a desejar, gosto mais da capa antiga do e-book, essa ficou embaçada... parece que desfocada. O jogo de cores também não ajudou muito, faltou destaque.
"A minha dor é um convento ideal. Cheio de claustros, sombras, arcárias...Como podiam simples palavras expressarem todo o meu sofrimento? Os versos de Florbela Espanca continuaram a reverberar dentro de mim:
Nesse triste convento aonde eu moro,Noites e dias rezo e grito e choro!E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém..."
Do mais, indico sim a leitura. Acredito que seja um livro para se ter em escolas e livrarias públicas de todo o país. Violeta tem muito o que ensinar e aprender. Podemos acompanhá-la nesse enredo e quem sabe, ajudar muitas outras adolescentes que passar pela mesma coisa e não tem voz para pedir socorro. Violeta não virou estatística, mas muitas outras sim.
site:
http://www.livrosdeelite.com.br/2018/09/resenha-violetas-ao-vento-jessica.html