Marc 27/10/2015
DC padrão Image
Na década de 90, em resposta aos lucros exagerados das editoras americanas de quadrinhos, um grupo de artistas se reuniu e fundou a Image. Parecia uma revolução, uma vez que os maiores artistas da época tomava uma atitude radical que valorizava a si mesmos, mas que poderia dar exatamente o que os fãs gostariam de ver. No geral, eram todos jovens, acho que mal passavam de 30 anos e eram também leitores, o que poderia significar um canal aberto como nunca antes. Mas não foi nada disso que aconteceu. Cada um deles criou seu próprio estúdio e dali deu origem a seu universo de personagens. Todos tinham suas versões dos x-men (que eram os campeões de venda da Marvel na época), Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, Hulk, Vingadores. Nomes como Jim Lee, Marc Silvestri, Todd McFarlane, Erik Larsen, entre outros, receberam apoio dos grandes escritores (Alan Moore, Neil Gaiman, Grant Morrison) e juraram jamais voltar a trabalhar para DC ou Marvel novamente.
As histórias não eram originais também, prezando muito mais a arte do que os enredos, mesmo quando escritas por grandes nomes da área. Parece que a revolução prometida era muito mais uma reação aos quadrinhos dos anos 80 (só para citar alguns: V de Vingança, Watchmen, Cavaleiro das Trevas, Moonshadow, A queda de Murdock), que tinham grandes histórias, do que em relação à indústria mesmo. Até porque logo no começo dos anos 90 assistimos ao impacto de Lobo de Keith Giffen, que era um personagem que levava ao extremo (embora com muito humor, o que faltava nos personagens da Image) a pancadaria e violência. Todos os títulos dessa editora mostravam páginas e mais páginas de bela arte violenta, com diálogos rudimentares e enredos abaixo da crítica. Felizmente a iniciativa fracassou e muitos deles se tornaram editores. Graças a essa evolução pudemos ler Planetary, Frequência Global, entre outros.
O fim dos anos 90 parecia ter enterrado os quadrinhos de violência gratuita; e Planetary era um fantástico epitáfio para esses personagens. Foi assim com a primeira década do novo século: grandes histórias novamente. Gotham City Contra o Crime talvez seja o melhor exemplo do que os quadrinhos foram nesse período. Mas, como tudo passa, a década atual vem assistindo a tomada de poder dos quadrinhos com enredos ruins. E não pode ser apenas coincidência que tanto a Marvel quanto a DC estejam novamente ocupadas por toda a leva de grandes artistas da antiga Image. E não pode ser apenas coincidência que tantas pessoas elogiem uma HQ como a Corte/Noite das Corujas, porque a aridez de boas histórias impressiona. Logo, qualquer historinha que tenha uma mínima reviravolta já passa como grande coisa. E eis que os tais artistas que fundaram a Image conseguiram vencer finalmente, porque voltaram e estão destruindo as editoras de dentro para fora. Basta ver o que se tornou a Marvel com tanta bobagem sobre os mutantes, por exemplo.
É muito simples: como pode o maior detetive da história viver em sua cidade, que protege incansavelmente, sem sequer suspeitar que exista um grupo de poderosos que a domina verdadeiramente? Ora, ele não apenas é um grande herói, mas um dos homens mais ricos e fatalmente perceberia que seus esforços para melhorar a cidade haviam sido boicotados devido a interesses escusos. Isso é um absurdo tão grande que me assusta que os editores tenham aceitado publicar tal coisa. Agride a mitologia do personagem (não adianta vir com a desculpa de que tudo mudou com “os novos 52!”) e agride nossa inteligência. Por isso, para não dar uma dica sobre a história (porque eu percebi desde o início quem era o vilão, desculpe), não vou falar sobre a história em si. Mas é muito ruim. Padrão Image. Para todo mundo que elogia essa porcaria, valeria a pena um curso intensivo de quadrinhos como Planetary, ZDM, Gotham Contra o Crime, Demolidor de Frank Miller, etc. Isso é lixo, da pior qualidade. Ou melhor, estilo Image, fedido, mas bem embalado por uma bela arte.