Ramon 27/04/2019
O mal e o sofrimento
..."o prazer dissipa e entorpece [a consciência]. O sofrimento é o aguilhão que a desperta..."
Com uma bela obra de filosofia moral, Lavelle nos convida a reflexão sobre algo que aflige a todos nós.
Olhamos para o mundo e vemos que ele não é o que deveria ser. Dor, lágrimas e sofrimento invadem nossa vida e transformam tudo em um grande abismo, onde parece não haver esperança, consolo ou descanso. Nossa alma é apertada por todos os lados com as angústias e sofrimentos que a vida trás.
Experimentamos o mal o sofrimento desde de que nascemos, essa parece ser nossa condição natural.
Como compreender as marcas da nossa miséria?
Lendo esse livro do Lavelle, vemos que apesar de enxergar o mundo também dessa maneira, eles nos permite transcende-lo. Se o sofrimento é uma condição inerente a vida do homem, resta a nós fazer o que de melhor podemos para extrair o melhor dessa condição.
Lavelle nos diz que " é ao próprio sofrimento que devo conferir um sentido que o penetre e transfigure", coisa árdua porém necessária é extrair sentido da dor, uma vida onde não há sentido em meio a dor, leva ao desespero total.
A consciência de que sofremos é o que nos desperta, é o que nos torna partícipes do Eu, é o que nos permite penetrarmos em nós mesmos e conferir a nossa alma a elevação espiritual em meio a um caos externo.
Lavelle trabalha com antíteses interessantes, dizendo que é na ausência que encontramos a presença, na escuridão que vemos a luz, na solidão encontramos a comunhão, que tudo isso nos leva a um aprofundamento interior, onde conseguimos perceber a nossa realidade, a nossa essência espiritual.
O sofrimento, significa estar conectado a outros seres, só sofremos porque amamos, pois a indiferença cegaria nossa consciência. Como o autor nos diz " a possibilidade de sofrer mede a intensidade e a intimidade dos laços..." Pelo seres que mais amamos enfrentamos dores, assim como por eles desfrutamos maiores alegrias.
A dor nos molda, nos desperta, nos faz seres melhores dependendo do nosso desprendimento de encara-la. Assim como "o amargor dos remédios cura os males do corpo, assim também é preciso que a amargura da dor seja a cura dos males da alma." Ao invés de se deixar consumir pela resignação e infelicidade, devemos assumir a responsabilidade de sofrer com regozijo, de encarar a realidade e extrair do caos o sentido para nos mover.
A leitura desse livro é de uma belíssima riqueza espiritual, onde dialogamos com o tema do sofrimento não de modo a ignorá-lo ou evitá-lo, mas de modo a transcende-lo. " Ao se evadirem de si mesmos, quebram igualmente os murso de sua prisão."