MatheusPetris 28/09/2023
Poesia é poesia, não precisa de adjetivo
A última frase do livro, uma citação do poeta Nicolas Behr, incendeia “O que é poesia marginal”: “Poesia é poesia, não precisa de adjetivo”.
A necessidade em definir um movimento — coisa que a poesia marginal não é, pois não é organizada de forma homogênea, não elaborou projeto estético, programa — é mais acadêmica do que crítica. E, mais do que academicismo literário, é histórico, antropológico, em suma, cultural.
É essa demolição que propõe Glauco Mattoso, ele não erige uma teorização/definição, pelo contrário, aponta para as contradições da possibilidade de uma conceituação. E a poesia marginal é isso, contradição, revolta, desbunde, uma orgia no mais amplo sentido que esse substantivo possa ter. O autor aposta menos em fechos do que aberturas, e assim passeia por características desse momento da poesia brasileira.
Não à toa, com exceção da introdução, todos os capítulos se intitulam como perguntas que surgem de antagonismos e flertam com a própria poesia marginal, palavras que se trocam-fundem, trocadilhos lidos como troca de lados.
Talvez, algo que seja uma característica comum a toda essa poesia, seja um elo entre poesia e vida, quando essas barreiras se quebram, quando os pólos se misturam, seja ela de qual desdobramento for. E convenhamos: isso não é originalidade, é diálogo com tradição; o que não significa que seja ruim.
Leminski, ao falar sobre os poetas de 22, ataca o seguinte: “Em lugar do verbo agradar, passaram a usar o verbo agredir”, naquilo que guarda as proporções, podemos recontextualizar essa frase para a poesia marginal.
E assim ela foi. Não apenas contracultural (mas em alguns casos, também), pois não é só isso, é revoltosa ao status quo, e não apenas o do establishment, mas também o poético.