Jeff.Rodrigues 11/04/2018Resenha publicada no Leitor Compulsivo.com.brAté onde você iria para tentar salvar a vida de alguém que ama? Robin Cook, mestre do suspense médico, mostra uma das possiblidades de resposta a essa pergunta em uma de suas melhores tramas. Recheado com todos os ingredientes que consagraram o autor no gênero, Febre mescla suspense, ação e drama em uma história que ultrapassa a ficção para mexer com questões que vez ou outra podem nos incomodar.
O tema principal de Febre é a leucemia (não é spoiler) e os possíveis tratamentos para a doença. Na obra, o cientista Charles luta para proporcionar para sua filha um tratamento que ele acredita ser mais adequado, baseado em pesquisas que vinha realizando, ainda sem resultados concretos. O embate se dá entre um pai desesperado e todo o sistema estabelecido pela medicina. É isso que torna a história ainda mais interessante e instigante para os leitores. Cook constrói um cenário em que nos vemos divididos de um lado pelo drama familiar e as possibilidades aventadas pelo pai, e de outro pelo tratamento aplicado pela medicina.
A maior qualidade de Febre é conseguir envolver o leitor em um drama com profunda carga emocional, afinal trata-se de uma doença de alto risco em uma paciente de doze anos de idade. A forma como isso impacta cada membro da família e principalmente a evolução à medida que o pai, Charles, se desestrutura emocionalmente, mexe facilmente conosco. Completando o drama, questões ambientais e interesses particulares entram no jogo para mostrar, como é comum nas obras de Robin Cook, que não há muitos limites éticos quando o que está em cheque é dinheiro e poder.
Publicado em 1982, Febre trata de questões referentes ao câncer que hoje já foram superadas ou são encaradas com outros olhos. É importante ter essa consciência durante a leitura: muita coisa mudou de lá pra cá com novas descobertas, pesquisas, medicamentos e métodos de tratamento. Infelizmente, a impotência do ser humano diante de uma doença devastadora continua a mesma e isso é retratado de forma minuciosa e magistral na obra. Mesmo nas cenas mais exageradas ou extremamente improváveis de acontecer, é impossível que não entendamos o desespero diante do “não ter o que fazer a não ser esperar”. Nesse aspecto, Febre é aquela história que faz com que nos coloquemos tranquilamente no lugar de cada personagem. A todo momento na leitura acabamos nos perguntando: O que eu faria se estivesse no lugar dessa pessoa?
De ritmo intenso do começo ao fim, Febre vai te levar pelos caminhos da ética médica (ou da falta dela), do desrespeito ambiental independente das consequências, do poder, e do amor de um pai por uma filha.
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