Lud @quoteseplots 23/03/2022Uma história sobre dependência, dor e gatilhosEsse é o meu primeiro contato com a autora Cinthia Feire, no qual eu estava ansiosa para conhecer há bastante tempo. Tem três dias que terminei e estou pensando em como escrever essa resenha, portanto, vamos lá.
Em Meu Erro conhecemos Carol, uma garota com síndrome do pânico e estresse pós-traumático que finalmente está conseguindo seguir sua vida, sair de casa e fazer faculdade. Não foi fácil conseguir esse tipo de liberdade, contudo, após muitas terapias e uma colega de quarto que é como uma irmã, ela tem levado o melhor possível, dada as circunstâncias.
Logo no início do livro ela ouve falar de Gabriel, vulgo Gabe, um garoto misterioso que sua amiga saiu em uma noite e ela acabou ouvindo-os pelo telefone. Sim, é o que vocês estão pensando haha Depois desse dia Carol sente uma curiosidade e uma ligação inexplicável com o garoto, mas que acaba sendo convertida ao ódio, após alguns acontecimentos.
Gabe é um garoto problemático. Ele é dependente químico, tem problemas de raiva e uma vida quebrada. Ele se joga cada dia mais no fundo do poço e talvez estaria até morto se não fosse o seu melhor amigo Allan sempre ali por ele. Nada o move, nada o motiva. Sua vida é vazia e sem esperança, até ele conhecer Carol e sentir essa conexão irracional por ela. Nesses encontros e desencontros, Carol e Gabe precisam lidar com os problemas um dos outros e seus próprios monstros se quiserem ficar juntos para sempre.
De antemão preciso falar que não tem como ler esse livro e usar a mesma régua que usamos em outros romances, a começar que estamos tratando de um dependente químico. Não é bonito e nem fofo. Vai te trazer dúvidas, raiva, sofrimento e dor. Vai te fazer questionar se é certo, se vale a pena ou se o amor é capaz de superar tudo mesmo. É com esse misto de emoções que eu escrevo aqui, pois ao mesmo tempo que por vezes achei o relacionamento tóxico, eu me perguntava também se era certo apenas abrir mão da pessoa, se às vezes tudo o que ela precisa é de alguém ao lado para o incentivar. Complicado, eu sei. Mas se uma coisa que os livros trazem é reflexão, então, independente de qual será o seu resultado ao terminar essa leitura, o mais importante já foi feito, a análise.
Um coisa que eu gostei da Cinthia Feire é que ela não alisou ou camuflou as dificuldades da dependência. Gabriel é um garoto de altos e baixos. Muitas vezes mais baixos que altos. Ainda que ele tente, ainda que ele tenha alguém ali com ele agora, não é simplesmente fácil deixar tudo para trás. E, em contrapartida, temos Carol, tendo lidar com suas próprias dificuldades e ainda com a barra que é acompanhar seu namorado nessa luta.
"Enquanto olho para o rosto desse rapaz que para todos é um erro, um perigo para minha saúde, eu só consigo enxergar o garoto perdido, sem direção, a pessoa assustada e sozinha, exatamente como fui um dia."
Como eu disse, é muito difícil escrever um livro que trabalhe essa temática e esperar um romance fofo e saudável 100%. Como um dependente químico no fundo do poço pode ser um bom namorado para alguém?
Apesar de tudo, a autora trabalha várias variáveis durante o livro, inclusive, um ponto importante foram as citações das terapias durante todo o processo, até porque, o amor pode ser um incentivo, mas não cura tudo. Eu gostaria até que tivesse mais algumas coisas.
"Porque neste momento sou apenas isso, um homem sujo, de coração puro, que, por alguma razão, recebeu o privilégio de poder amar um anjo."
No começo do livro eu confesso nãos senti muita conexão com o casal. Achei rápido e instantâneo demais e eu prefiro slow burn , mas no decorrer da leitura eu gostei e o final eu achei bem bacana. Quanto a escrita, estranhei algumas questões de passagem de tempo, mas Cinthia tem um jeito intenso e viciante de fazer com que a gente comece a ler e só sossegue quando parar. Há um certo acontecimento na reta final que me deixou sem chão e apesar de eu esperar em partes por algo do tipo, nem de longe eu poderia imaginar da forma e a causa que foi.
Após esse texto gigantesco, deixo a bola agora com vocês e fico curiosa para saber o que vão achar. Enquanto isso, eu parto para a história do próximo casal e em breve trago mais da série #Segredos para vocês.
"Viu, mãe? Eu ainda não sou um caso perdido"