A Bela Helena

A Bela Helena Miriam Mambrini




Resenhas - A Bela Helena


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Alexandre Kovacs / Mundo de K 13/07/2015

Miriam Mambrini - A Bela Helena
Editora 7Letras - 212 páginas - Lançamento 2015.

Talita contempla sozinha, da varanda de seu apartamento, os fogos e comemorações da chegada de 1999, no entanto, para ela, não é uma ocasião alegre porque o início de ano tem sabor de fim já que, aos cinquenta e nove anos, está encerrando um ciclo e iniciando a "infância" da terceira idade. Esses marcos fazem com que a solitária protagonista perceba que "o seu tempo passou a ser o passado" e dê início a um processo de resgate de suas memórias, escrevendo as lembranças em um caderno. A autora Miriam Mambrini utiliza a técnica da narrativa em primeira pessoa para contar a história de Talita (ou da bela Helena, como ela se transformou), alternando capítulos entre o presente e períodos de um passado romântico, infelizmente esquecido, da cidade do Rio de Janeiro.

A vida de Talita, desde pequena, nunca foi fácil. Com apenas seis anos é abandonada pela mãe, manicure sem condições financeiras para criá-la, na casa dos avós paternos em Copacabana e, rejeitada pelo próprio pai, cresce contando apenas com o carinho da avó Edith. Apesar das dificuldades da sua origem de criança pobre, Talita consegue se tornar uma mulher elegante, atraente e ascender na sociedade carioca.

"Não é fácil escrever, anoto, risco, rasgo, recomeço, mas não quero que as lembranças se percam. Essa, por exemplo: a da noite em que mamãe tirou de dentro do armário a bolsa de viagem marrom. Da cama, tentando dormir, eu a ouvi andar de lá para cá, abrindo armários e apanhando coisas. De manhã, minhas roupas e brinquedos estavam na bolsa. Minha boneca predileta foi enfiada por último e uns tufos do seu cabelo pulavam fora do fecho-éclair. Nunca esqueci daquela imagem: os cabelos amarelos da boneca presos no fecho da bolsa marrom. Lembro tão bem do rosto de louça, dos olhos azuis, das pestanas duras, das pálpebras que baixavam, dos cabelos amarelos, mas não sei em que momento a boneca desapareceu para sempre."

Na sua trajetória até obter o codinome de Helena, Talita passa na sua busca pela felicidade, por encontros e desencontros amorosos e também alguns casamentos frustrados, procedimento não muito recomendável para as mulheres durante a época dos "anos dourados", sendo que o segundo deles é bastante violento e traumático o que faz com que seja afastada do filho pequeno que é levado pelo pai sem deixar rastros, um drama que ela levará muitos anos para tentar superar. Além dos relacionamentos formais, Talita não consegue se afastar de uma paixão recorrente por um homem misterioso que a acompanha desde a adolescência.

Talvez a resenha possa induzir a ideia de que o livro seja uma obra de contestação ou represente algum tipo de bandeira feminista mas, no meu entendimento, A Bela Helena é um romance sem pretensões maiores do que o entretenimento do leitor, através de uma boa história, objetivo que Miriam Mambrini soube atingir com eficiência.

Da página oficial da autora: "Miriam Mambrini é carioca e formada em Letras. Seu primeiro livro de contos, 'O Baile das Feias', foi publicado em 1994. Nesse livro e no que se seguiu, 'Grandes Peixes Vorazes', incluiu contos premiados em vários concursos. Escreveu os romances 'A Outra Metade', atualmente em segunda edição, 'As Pedras não Morrem' e 'O Crime Mais Cruel', os dois últimos adquiridos pelo PNBE do Ministério da Educação. As crônicas de 'Maria Quitéria, 32' falam de sua vida de menina em Ipanema, o bairro onde nasceu e sempre viveu. Publicou ainda, em livro e audiolivro, 'Vícios Ocultos', contos, e 'Ninguém é Feliz no Paraíso', romance."
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Aline T.K.M. | @aline_tkm 01/01/2016

Talita poderia muito bem ser o retrato de cada um de nós, algumas décadas mais adiante
“Minha boca já não merece beijos. Meu rosto perdeu o viço, meu corpo não seduz mais.” É assim que, em determinado momento, Talita expressa seus sentimentos enquanto rememora os versos de um poema de Pessoa. À beira dos sessenta e do ano 2000.

A vida de Talita passa diante de seus olhos em memórias vívidas de sua infância e juventude. Deixada ainda menina pela mãe na casa dos avós, ela narra as dores, esperanças e aventuras de uma vida experimentada no Rio de Janeiro da segunda metade do século 20, vida que daria um bom romance. De fato, Talita passa a escrever suas lembranças, revivendo os períodos de sofrimento e os de felicidade que se intercalam em sua trajetória.

Entre a dualidade da relação com a mãe e o sofrimento relacionado ao próprio filho, Talita – “a bela Helena” – percorre caminhos sinuosos de adultério, intrigas e desencontros. E ainda há Laerte, uma paixão que aparece e desaparece de sua vida inúmeras vezes, mas cujos rastros jamais se apagam completamente.

Se a princípio eu não tinha ideia sobre o que esperar da leitura, A Bela Helena se revelou uma ótima companhia durante aqueles três ou quatro dias em que devorei o livro. Presente e passado se alternam, descortinando períodos da vida de uma mulher que busca pela felicidade. Ausências e perdas, casamentos fracassados, o afastamento do filho pequeno; a vida de Talita, cuja adolescência se passou nos “anos dourados”, é repleta de grandes traumas e decepções. A trajetória dessa mulher dolorida e forte, mas um tanto solitária, envolve quem a lê e por alguns instantes faz pensar sobre o tempo, sobre o processo necessário e quase nunca indolor que é amadurecer e ingressar na terceira idade.

A prosa gostosa da autora Miriam Mambrini aproxima ainda mais protagonista e leitor, o que faz com que certos momentos da trama – em especial, os mais dolorosos – toquem fundo e deixem resquícios de uma dorzinha aqui dentro. Mas, ponto bom e superválido mencionar, o romance não cai no dramalhão que poderíamos – com certo preconceito, confesso – esperar de histórias que trazem a trajetória de vida de protagonistas sofridas.

Se não traz material para uma reflexão mais profunda, A Bela Helena ao menos faz olhar para as lembranças e pensamentos da protagonista e trazê-los para dentro de si, numa constatação do que é o tempo e do que ele – e nossas próprias escolhas – pode fazer com nossas vidas.

LEIA PORQUE...
Talita, “a bela Helena” e a protagonista deste romance, é o retrato de uma mulher forte, já endurecida da vida e que, como todo ser humano na face da Terra, fez escolhas acertadas e outras nem tanto, bem como sofreu as consequências de escolhas de outras pessoas. Talita poderia muito bem ser o retrato de cada um de nós, algumas décadas mais adiante.

DA EXPERIÊNCIA...
Leitura rápida e gostosa. Foi meu primeiro contato com a escrita de Miriam Mambrini e o saldo foi positivo.

FEZ PENSAR EM...
As mudanças no Rio Janeiro ao longo das décadas em paralelo ao decorrer da vida da protagonista. Este é um caso em que o pano de fundo faz diferença e conversa diretamente com a trama – gosto de livros assim.


site: http://livrolab.blogspot.com
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Aguinaldo 27/01/2016

a bela helena
Em "A bela Helena" Miriam Mambrini dá voz a uma mulher que conta sua vida como num romance, num Bildungsroman, um romance de formação. Talita (quem é a bela Helena do título só o leitor alcançará descobrir) reflete sobre seu passado; faz um balanço dos sucessos de sua vida; digressa sobre os momentos chave que experimentou; fala de seus amores, sua família, suas conquistas. O tom não é exatamente melancólico, mas a aproximação de seus sessenta anos e de uma festa de passagem de ano dão a suas memórias uma camada de intimidade que é um bocado triste (não explicitamente triste, mas sim daquele tipo de abatimento que só os amigos ou pessoas queridas percebem num sujeito antes que ele próprio se dê conta). A Talita que Miriam inventou é uma carioca, vive na segunda metade do século passado, mas sua existência parece descolada da história do Brasil. Pouco saberá o leitor dos efeitos sobre ela derivados das transformações políticas, econômicas e culturais pelas quais passou a sociedade brasileira. Isso não é um defeito. Miriam alcança deixar sua protagonista manter o interesse do leitor apenas em sua trajetória. Só seu mundo interior, seus sentimentos, as metamorfoses que experimenta importam. Cees Nooteboom escreveu um livro que diz, com uma falsa clareza: "Eu tinha mil vidas e escolhi uma só". A Talita desse "A bela Helena" parece inverter a asserção e dizer algo como: "Eu tinha uma vida e escolhi ser mil mulheres". Vou procurar outras coisas de Miriam Mambrini. Vale.
[início: 17/10/2015 - 19/11/2015]
"A bela Helena", Miriam Mambrini, Rio de Janeiro: editora 7 letras, 1a. edição (2015), brochura 15,5x23 cm., 210 págs., ISBN: 978-85-421-0349-6

site: http://guinamedici.blogspot.com.br/2015/11/a-bela-helena.html
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