Julia G 07/01/2016Quando o vento sumiu Graciela Mayrink conquistou um espaço na minha estante - e no meu coração de leitora - desde que li Até eu te encontrar. Sou leitora fiel aos autores nacionais, e quando um autor me cativa por suas palavras, sinto-me mais próxima e quero ler qualquer novo livro publicado. Por conta disso, A namorada do meu amigo ganhou seu espaço na prateleira em 2014 e agora, em 2015, chegou a vez de Quando o vento sumiu.
O enredo se desenrola no Rio de Janeiro, especialmente na Universidade da Guanabara, onde estudam Suzan, Mateus e Renato. Também como acontece nos outros livros da autora, a trama é leve e suave, centralizando no cotidiano tudo aquilo que pode mudar a vida dos personagens.
Esse foco no cotidiano é um dos aspectos que mais gosto nas obras de Mayrink, já que a autora não precisa lançar mão de acontecimentos mirabolantes para tornar seu texto atrativo. O texto, por si, conquista o leitor, com sua construção de frases sutis, que contêm, no entanto, uma densidade que poucos autores conseguem atingir. A escrita mescla o necessário de descrição e narração e evita que o texto se torne raso demais ou cansativo demais, e a medida certa atinge o leitor em cheio.
"- Você já teve preguiça da vida? - perguntou Suzan, acordando Mateus de seus pensamentos.
[...]
- Acho que não. Bom, não sei bem o que você quer dizer, mas acho que não.
- Não, nunca teve. Senão, saberia o que é. - Ela o olhou, colocando o queixo no peito dele. Mateus sentiu um frio percorrer sua espinha com a proximidade do rosto de Suzan do seu. - Ultimamente, ando com muita preguiça da vida, sabe. Aquela sensação de que não importa o que eu faça, vai tudo continuar assim, sem nada interessante acontecendo.
Ela terminou de falar e voltou a se deitar no braço dele.
- Bem, às vezes a vida pode te surpreender."
Mesmo com essa construção tão suave, Quando o vento sumiu se infiltrou em mim e abalou minhas estruturas. Fui fisgada pela história e me vi sobrepujar, junto dos personagens, todos os acontecimentos. Ao fazer essa leitura, tive um amor platônico, apaixonei-me por um amigo e sofri por perder alguém que muito amava. Ler esse livro foi como me apaixonar pela primeira vez, com todas as vantagens e desvantagem que esse sentimento traz consigo. E, por conta disso, a leitura foi intensa da forma como uma paixão é.
Não posso falar muito sobre os personagens para não deixar escapar nenhum spoiler. Em regra, gostei de todos, ressalvado o fato de que eu nunca me apaixonaria por Renato, já que playboy malandro não faz meu tipo. rsrs Independente desse comentário bem pessoal, os personagens foram bem construídos, verossímeis, cheios de erros e acertos que os fazem convincentes ao leitor.
"[...] Os lábios dos dois se tocaram de leve e depois com mais intensidade, quando ambos fecharam os olhos. Suzan sentiu a eletricidade percorrer seu corpo, seu coração se acelerou e ela teve certeza que tomara a decisão certa. Parou de pensar e apenas sentiu o momento."
A edição da L&PM ficou inacreditavelmente linda. Como eu só conhecia as edições Pockets da editora, achei que o exemplar seria bem simples e me enganei totalmente - felizmente! A capa não poderia ilustrar melhor a história, e a arte e as cores demonstram todo o cuidado que se teve na composição do livro. Além disso, as imagens de dentes-de-leão no início do livro e de cada capítulo deu um charme especial à obra. O título também faz todo o sentido depois que se lê o livro, e tem um significado lindo.
Sobre a história, ainda, ao final, quando me senti devastada pelos acontecimentos da trama, Graciela trouxe à tona a real dinâmica da obra, e surpreendeu mais uma vez. Com isso, a autora me permitiu terminar o livro com um sorrisinho no rosto e com um sopro de esperança no coração.
Quando o vento sumiu é um livro simples, doce, que eu enquadraria facilmente na categoria "de menininha". Isso não significa, porém, que seja isento de valor. Ele facilmente conquistará quem o ler e atingirá seu coração, pura e simplesmente.
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http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2015/12/quando-o-vento-sumiu-graciela-mayrink.html