Mabii!! 16/01/2024
"O pecado nos mata. Não importa quando tempo seja preciso."
No vilarejo, falar que o pecado mora ao lado é mais do que um dito popular: é uma verdade ameaçadora da qual os moradores se dão conta pouco a pouco. E, para alguns, é tarde demais. Como resistir ao mal? À luxúria, à ganância, à ira? Como não ceder aos pecados da carne quando a guerra chega e o inverno castiga, quando o frio e a fome tomam conta, quando uma força maior parece conspirar e rodear os moradores para que eles se entreguem a seus piores instintos?
?
E mais uma vez me encontro lendo um livro do Raphael Montes. Não esperava pouco, o conheço bem e sei as atrocidades medonhas que ele escreve. "O Vilarejo" é um livro difícil de ser digerido e eu precisei fazer algumas pausas durante a leitura para recuperar a sanidade mental (isso é um pedido de ajuda sim).
O enredo gira em torno dos habitantes de um pequeno vilarejo que após uma guerra foi abandonado e assolado pela fome e pelo frio. São sete capítulos; sete contos que evidenciam o que há de pior na natureza humana, os sete pecados capitais invocados pelos Sete Reis do Inferno: Asmodeus (luxúria), Belzebu (gula), Mammon (ganância), Belphegor (preguiça), Satan (ira), Leviathan (inveja) e Lúcifer (soberba). Em cada capítulo, somos expostos ao lado sombrio de cada um dos moradores do Vilarejo, cada um entregue a um desses pecados. São contos viscerais e desconfortáveis, mas sei que o Raphael não tem medo de escrever sobre o lado mais podre do ser humano.
Apesar de ser uma leitura rápida, os personagens são desenvolvidos de forma meticulosa, cada um com seus objetivos e segredos sombrios. A trama é igualmente bem planejada e o autor conseguiu ligar uma história à outra de uma forma brilhante, de modo que tudo no livro é interligado e as ações de um personagem influenciam na história de outros.
O verdadeiro "terror" dessas histórias é saber que existem pessoas assim fora da ficção.
"Perceba, Anatole, que nunca inseri o pecado ou o mal nas pessoas. O mal já estava lá. Eu apenas o potencializei. Humanos vivem carregados de uma crueldade sufocada."
No fim das contas, resta o questionamento: até onde a humanidade é capaz de ir quando está em momentos de crise?
Vale mencionar ilustrações do livro, muito bem feitas pelo Marcelo Damm.
E vou terminar dizendo que, assim como qualquer outro livro do Raphael Montes, não é uma leitura fraca. Não é seu livro mais pesado, mas não deixa de ser uma leitura desconfortável em algumas partes. Recomendo para quem gosta do gênero!!!
P.s.: Observem com atenção a última imagem do livro. Tem um detalhe medonho e revelador ?