Francine 09/03/2016Aprendi com Marcel que viver e VIVER são duas coisas diferentes.A princípio, dois fatores me atraíram em relação a esse livro: 1) o título, que claramente aborda um relacionamento proibido; 2) e o fato de ser um homem a escrevê-lo, considerando que seu gênero é romance erótico.
Logo nas primeiras páginas, encantei-me com a narrativa direta e objetiva – embora bastante masculina e sexualizada. O protagonista, Marcel, é um senhor de 55 anos de idade. Ele narra com saudosismo as experiências vividas, celebrando os bons momentos compartilhados com pessoas queridas. Os capítulos se alternam entre o passado de Marcel, quando ainda era jovem, e seu presente enquanto revive suas próprias memórias.
Entendemos que Marcel é órfão desde criança, e passou a ser educado pelas caridosas freiras de um convento em Saint-Malo (França). Conforme os anos se passaram, Marcel assumiu responsabilidades no convento numa tentativa de retribuir os cuidados recebidos e, nesse processo, naturalmente se tornou um rapaz forte. Com a juventude, outros interesses surgiram. A puberdade fez Marcel observar uma das noviças de outro modo... Colette era jovem, bela, esbelta e gentil. Ela estava sendo educada para, em breve, assumir os votos perpétuos de castidade.
Entre olhares e pequenos segredos, Colette se encanta por Marcel e ambos vivem um proibido romance. O modo como os acontecimentos são narrados mantém o agradável sabor das expectativas e, embora com uma descrição sexual e masculina, notamos que Marcel nutre um sentimento puro por Colette: o primeiro amor.
No entanto, será que o casal conseguirá ficar junto?
O sentimento de Colette será suficiente para fazê-la decidir abandonar o convento?
Eu gostei de Sedução no Convento, porque o autor (de modo simples) conseguiu problematizar uma situação ainda comum em alguns contextos: até que ponto a vida religiosa permite às freiras experimentar os encantos que a vida traz? Durante a narrativa, Marcel aproveita as belas paisagens históricas e litorâneas de Saint-Malo, mas sente pena da vida árdua que as freiras levam... Ele sente pena de Colette por não conseguir parar alguns minutos para apreciar o pôr-do-sol, por exemplo. Observando a preocupação constante das freiras em sempre fazer serviços comunitários ou rezar, Marcel considera a vida religiosa uma prisão.
É pecado ter lazer?
É pecado se refrescar com um sorvete num dia quente?
É pecado parar o trabalho por alguns minutos, apenas para contemplar as ondas contra as rochas?
Ao mesmo tempo, o autor conseguiu fazer com que Marcel amadurecesse. Apreciei ver o que esse personagem escolheu para si próprio: viver sem arrependimentos; viver sem perder a sensibilidade diante de uma bela paisagem. Ele observava o mar como quem lhe é um amigo íntimo, com o olhar poético que apenas as almas livres têm. Aprendi com Marcel que viver e VIVER são duas coisas diferentes.
No entanto, por sua brevidade, o livro possui fragilidades. O desfecho é inverossímil, mas entendi que o autor não se preocupou em dar mais sentido aos acontecimentos... Ele se centrou em dar ao personagem (e ao leitor) o que esperava. Da mesma forma, a narrativa em primeira pessoa e tão masculina não permitiu ao leitor descobrir como os demais personagens se sentiam. Eu quis desvendar mais de Colette, mas não foi possível. A alternância entre presente e passado também deixou a desejar, porque "o Marcel de agora" está apenas relembrando sua vida, sem mencionar "o eu atual". Não houve, portanto, enfoque sobre a vida desse personagem aos 55 anos.
Por tudo isso, considero Sedução no Convento um romance erótico diferente. Com excelente revisão e diagramação, o leitor encontrará um enredo poético e cheio de saudosismo, no qual as poucas cenas eróticas (sem detalhes excessivos) vêm dar um tom sedutor à vida do personagem. A capa revela claramente o cenário (maravilhoso!) descrito pelo autor e a narrativa objetiva será ótima para quem procura uma leitura rápida.
Resenha publicada no blog My Queen Side:
site:
http://myqueenside.blogspot.com.br/2016/03/resenha-136-seducao-no-convento.html