Li 12/04/2018
Simples, mas provocador
50 Tons Para o Sucesso, J. Edington. Rio de Janeiro: Unipro Editora, 2015.
O autor, J. Edington, é empreendedor desde os 17 anos, quando abriu sua primeira empresa. Palestrante motivacional, decidiu compilar uma lista de conselhos que considera valiosos num livro simples e de fácil leitura para o empreendedor que busca ser bem sucedido.
Apesar de embarcar no sucesso de 50 Tons de Cinza e usar o título como uma duvidosa estratégica de marketing, o autor se mostra bastante sagaz em apresentar a ideia dos 50 tons como 50 nuances que permeiam a vida do empreendedor que almeja uma vida próspera.
O primeiro tom, por exemplo, afirma que sucesso e reclamação não combinam, um início promissor. Mencionando a escritora negra Maya Angelou, uma lutadora ao lado de Martin Luther King pelas direitos civis, contra a segregação racial, a qual foi violentada na infância e se reergueu na adolescência, ele apresenta argumentos interessantes para a reflexão sobre o ato pernicioso de reclamar. Tal prática não é somente feia, mas literalmente afasta a pessoa de qualquer possibilidade de ser bem sucedida em qualquer coisa.
O tom seguinte trata de um assunto bastante explorado no meio corporativo e acadêmico, o uso inteligente do tempo. O dinheiro já não é o mais importante, mas o tempo o é. Se não fosse, a maioria das pessoas não o venderia por dinheiro, faria o contrário. Contudo, as pessoas bem sucedidas investem justamente nesse contrário: pagam para ter mais tempo. Terceirizam, delegam e contratam porque sabem que precisam de tempo para investir no que realmente importa.
Os tons seguintes tratam de aspectos que igualmente entravam a vida do empreendedor. O autor aconselha a não se focar no passado, não ter medo do risco ou de doar, não investir no próprio egoísmo, não dar desculpas, não deixar de ter confiança em si mesmo ou fugir da luta.
A importância de um bom caráter é enfatizada. Algo que se encontra em muita lista de conselhos de grandes empreendedores e gurus corporativos. A desonestidade é uma falha de caráter imperdoável e destrói qualquer reputação. O empreendedor bem sucedido precisa ser humilde para não se ver como maior ou melhor que os outros. Também precisa ser muito focado, disciplinado e saber planejar e executar seus planos.
O ponto é que o empreendedor que busca ter uma vida próspera e bem sucedida já não pode mais caminhar de forma sonâmbula, como a maioria das pessoas. Nossa sociedade está viciada em conforto, entretenimento e facilidades e boa parte desse grupo é funcionário e não chefe. Sonha com o fim de semana e com o adiantamento de férias, enquanto o empreendedor bem sucedido levanta cedo na segunda-feira e tem certeza que o dia será cheio de possibilidades e ótimas oportunidades para o seu crescimento, profissional e pessoal.
É preciso ser visionário: o que será já é em sua mente. Por isso, mantém o foco no resultado que espera, desenvolve seu raciocínio para aprender a chegar onde quer e trabalha sua inteligência emocional para não chorar feito criancinha a cada fracasso. Aliás, fracasso, para o autor, só é fracasso se a pessoa desistiu de continuar. Se falhou, não é fracasso, é aprendizagem.
O empreendedor de sucesso, segundo Edington, também é um influenciador, tem bom humor e, acima de tudo, é grato. Sabe lutar e persistir quando precisa, mas sabe reconhecer o que já tem, valorizar o que já conquistou e celebrar com quem ama cada conquista. Ele também investe em sua vida espiritual, que é o conselho mais importante não só para o autor, mas para muitos outros empreendedores bem sucedidos.
Outro ponto importante diz respeito a companhias tóxicas. É crucial se afastar delas, pois são como ervas venenosas na terra que você está cultivando. Se precisa estar perto delas, seja porque são familiares ou colegas de trabalho, é necessário não acolher as críticas, nem dar ouvidos à negatividade. Daí a importância da inteligência emocional.
Vi críticas positivas e negativas na internet a respeito do livro. Alguém escreveu "mais do mesmo" e "um típico livro de autoajuda". São expressões pejorativas, mas bastante verdadeiras. Explico. É, de fato, um livro de autoajuda, ou, se você preferir, de desenvolvimento pessoal. É uma categorização polêmica e, na minha opinião, bem preconceituosa, porque qualquer livro que dê conselhos sobre qualquer assunto será categorizado como autoajuda, mas se o autor for do meio empresarial, tiver boa formação acadêmica e certa reputação, seu livro será considerado obra de referência ou obra de especialista.
É escolha do leitor, então. E eu digo que sim, parece mais do mesmo e, sim, é autoajuda, mas eu desistiria da leitura se o livro não me servisse de nada. Pelo contrário, me serviu bastante.
São conselhos simples que nos relembram coisas muito importantes, pois costumamos terminar uma leitura super motivados e aplicar tudo o que aprendemos pelas próximas semanas, mas nos esquecemos com o passar do tempo. Curioso é que quando estamos no meio de uma crise específica nos esquecemos de aplicar aquele conselho chave já aprendido, então, na minha opinião, ler livros como esse, com certa frequência, é um hábito inteligente.
A conclusão que chego é que a leitura é agradável quando se está de peito aberto para recebê-la. É quase como se você estivesse com o autor, conversando despreocupadamente, tomando um café: nem em uma sala de reuniões, nem num banco de universidade, simplesmente numa praça ou varanda.
Se você, porém, já estiver muitos degraus acima na caminhada do seu progresso pessoal e não tiver mais paciência para abordagens simples, pode não gostar do livro. Contudo, não acredito que irá perder o seu tempo ao lê-lo.