bowldelaire_ 02/02/2023
Todo escritor tem sua obra prima, aquela que fica marcada pela excelência de estilo, por exemplo, o que pode vir a ser o caso de ?Uma semana para se perder? dentre os demais livros de Tessa Dare. A excelência desse livro se dá pelo conjunto da trilogia: o desenvolvimento das personagens protagonistas ocorre desde ?Uma noite para se entregar?, que com o insucesso de Susanna e Bram, pelo menos oferece ótimas personagens secundárias, caso de Colin e Minerva.
Com seus traumas e problemas sendo abordados desde o primeiro livro, no segundo da trilogia você percebe um amadurecimento das ideias. Minerva, que em alguns momento acaba por ser imaturamente impulsiva, tem seu psicológico mais desenvolvido, você entende como funciona a mente e a insegurança dela, a qual não advém exclusivamente dos problemas com a mãe, mas da opressão social enquanto mulher realmente. Afinal, uma mulher cientista já seria um exagero para a época, pois como se explica uma mulher (que não frequenta a Academia) ser mais inteligente que os homens da Sociedade Geológica Real? Nesse ponto mora a essência de Minerva, que se apaga diante das possibilidades que se fecham para seu gênero.
Colin, por outro lado, é subestimado em excesso pelos demais, o que gera uma insatisfação cruel consigo, quase masoquista nas tentativas de estragar tudo em que toca. A vida inteira sendo tratado como inconsequente, sem nunca ter seus problemas resolvidos, Colin acaba por ser desconhecido pelas pessoas que ama. Devo dizer que gosto pouco de personagens masculinas cujo passado é sempre sombrio, cheio de traumas e obstáculos constantes contra a felicidade, e que por fim acabam por conhecer uma mulher que subitamente tem o poder de expurgar todo o mal que lhe foi causado por terceiros. A graça e complexidade de Colin reside nesse aspecto: seus traumas não são resolvidos. Sim, ele conhece uma mulher extraordinária, mas as inseguranças de Minerva também são complexas, e apesar dela repetir alguns arquétipos, como a necessidade de salvar Colin, ainda assim é sutil o suficiente para que se acabe por gostar do desenvolvimento.
Outro ponto positivo para o livro é a escrita mais robusta e amadurecida, a riqueza de detalhes e a construção do desejo enquanto elemento narrativo são bem desenvolvidos, devo dizer que o melhor de Tessa até esse momento. A pesquisa e o compromisso com os problemas sociais são mais trabalhados neste livro, ainda fraco nesse aspecto, porém demonstrando certo primor na necessidade de se melhorar. Ainda, trata-se de uma construção de ambiente ainda marcada pelo anacronismo, mas se nota menos que em outros livros do gênero, o que considero uma conquista de Tessa e o trabalho duro na construção da narrativa.
Por fim, o segundo ponto negativo do livro é a vontade de se correr com a narrativa. Muita coisa acontece em poucas páginas, dá para desenvolver e deixar mais espaçado os problemas que decorrem ao longo da história. Uma sequência de elementos improváveis aparecem e desaparecem conforme os poucos capítulos aparecem, isso pode cansar alguns leitores. A mim, parece apenas falta de planejamento com a narrativa, pois nas últimas páginas se tem uma resolução tão corrida quanto todo o restante, no entanto, em estilo é a mais bem desenvolvida de Tessa, o que marca o livro como sua obra mais bem escrita até o momento.