Claudinei 24/01/2024
Fantasia pra mestre de RPG nenhum botar defeito...
Um livro que mistura muito bem os conceitos de “Espada e Feitiçaria” e “RPG”. Uma trama aventuresca no melhor estilo que esse gênero pode oferecer. Heróis que alcançaram o status de lendas, monstros e criaturas dignas dos piores pesadelos, graças aos versos de bardos entusiastas que compõem as canções que permeiam o universo de Baldúria, criação do autor André Gordirro. Este é o primeiro de três volumes da série, e apesar de deixar um gancho para uma continuação, a história aqui é autocontida, então não precisa se preocupar em ficar sem saber o final da aventura.
Há mais de 30 anos, o demônio Bernikan, após uma falha humana, conseguiu romper os portões do inferno e dizimou duas grandes cidades humanas em seus arredores. No entanto, Krispinius, um cavaleiro; Danyanna, praticante de magia; Caramir, um elfo; e Dalgor, o bardo, conseguiram conter a investida da vil criatura e fechar o portão, selando-o com magia e erguendo no local uma fortaleza onde homens do reino serviriam de vigia para tal passagem. O grupo recebeu honrarias pelo ato heróico, sendo constituídos como rei, rainha, suma magéia, alguém de alta patente militar e um conselheiro real e leal. Além disso, é claro, da mística criada em torno dessas figuras. Assim, por seus feitos, Krispinius e Danyanna foram consagrados deuses, e uma nova religião nasceu desse episódio.
No tempo presente, marcado por guerras e traições de aliados, e o desejo de vingança dos Elfos que outrora foram banidos da superfície para o subterrâneo, Bernikan vê a oportunidade de novamente romper os portões do inferno e causar aos seus algozes uma tortura eterna, trazendo a escuridão sobre o mundo. Para detê-lo, um sombrio aliado do grande rei Krispinius, um articulador no reino, reunirá um improvável grupo tido como párias pela sociedade. Um cavaleiro desertor, um bardo de uma raça antiga praticamente extinta, um mercenário condenado à morte, um garoto com ofício de chaveiro e habilidades de um verdadeiro sobrevivente das ruas, um Kobold, uma criatura de uma raça escravizada em todo o reino, um mago das terras demoníacas especialista em geomancia e, por fim, um assassino profissional pertencente à raça dos Elfos que declararam guerra à superfície.
O grupo receberá missões que possivelmente um grande exército não seria capaz de realizar, mas dadas as habilidades individuais de cada um, as chances de êxito são grandes. Isso, claro, se aprenderem a deixar as diferenças de lado e trabalharem em equipe, confiando uns nos outros. Isso seria a parte mais complicada das missões.
André Gordirro explorou muito bem esse universo de Baldúria nesse primeiro volume. Todos os conceitos que o regem são muito bem explicados, proporcionando cenários incríveis, criaturas fantásticas e batalhas épicas, intercalados com doses certeiras de humor. A narrativa é fluida e cativante, colocando o leitor na torcida pelo falho grupo que tem a missão de salvar o mundo. A narrativa não é linear, mas vai se alternando entre passado e presente e entre os núcleos de personagens. Os melhores momentos, sem dúvida, são focados nos 'heróis' dessa viagem fantástica.
Falando em personagens, todos são muito bem trabalhados e construídos. O autor nos mostra a visão dos heróis, tanto como descritos nas canções que os exaltam como grandes pessoas, quanto como realmente são, com suas qualidades, mas também suas falhas. Talvez essa apresentação tenha sido a parte que dá aquela 'barriguinha' à narrativa, mas superados esses trechos, temos uma verdadeira imersão narrativa nesse reino fantástico. Algo que me incomodou, mas que certamente estará nos próximos livros, foi o aprofundamento em um dos personagens, talvez a figura que criou todo o plano para salvar o reino, mas que não teve seu fechamento descrito pelo autor nesse primeiro volume.
Claramente, há muita influência de Dungeons & Dragons aqui, talvez até de World of Warcraft. O próprio autor é um jogador de RPG declarado, e dessas narrativas enquanto mestre foram surgindo as ideias para a criação do seu livro. Enfim, foi um bom livro para começar as leituras do ano.
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