Glauciareads 11/12/2023Nosso vigia é nossa consciência.O livro narra a volta de Scout à Maycomb, Alabama. Nessa volta, Scout revê o pai, os tios e a vizinhança lá de "O sol é para todos". São também inseridos alguns personagens novos e retirados outros (que só aparecem através de lembranças).
Scout está mais velha e descobre coisas sobre seu pai e a cidade ao qual ela discorda e não aceita , e então o livro aborda, de forma reflexiva, como ela enfrenta essas descobertas, que a machucam e mexem com sua identidade (que basicamente foi moldada a partir das ideias e discursos do pai).
O livro tem uma escrita fluida, mas em certas partes são cansativas. São intercalados passado e presente o que deixa a leitura mais dinâmica, mas também cria uma confusão em certos momentos.
Eu percebi alguns furos e contradições durante a leitura que me incomodaram um pouco, porém há passagens com diálogos muito bem construídos (principalmente entre Scout e seu tio).
Aqui a narração é em terceira pessoa (diferente de "O sol é para todos" que é em primeira), e eu prefiro quando a história é narrada pela Scout, pois conseguimos sentir de forma muito mais enérgica a sua personalidade e os acontecimentos. Não que em "Vá, coloque um vigia", não se consiga, mas a energia que se passa com ela narrando se perde um pouco.
Os personagens continuam bem construídos, mas dessa vez eu senti menos conexão com eles.
A descrição dos lugares e pessoas ainda são um ponto muito forte nesse livro, mas tem um tom mais melancólico e em alguns momentos até rancoroso.
Esse livro NÃO É uma continuação de "O sol é para todos" como muitos dizem, e sim um rascunho do que viria a ser, ou seja, foi escrito primeiro. Não leia como continuação, visto que tem algumas informações diferentes que há em "O sol é para todos", mesmo assim ainda vale a leitura, pois a escrita é boa e os temas levantados aqui são importantes a serem debatidos.
Eu gostei da história, mas não chega aos pés de "O sol é para todos". Nesse livro faltou energia, conexão e principalmente o que me fez gostar de "O sol é para todos", a visão pura e envolvente da Scout.
O final não é emocionante e não responde completamente a questão principal do livro (Atticus é ou não racista?) o que me deixou com a sensação de que eu li e não li, mas enfim, ainda bem que Harper Lee tinha uma carta na manga com "O sol é para todos".
Recomendo esse livro se você tem curiosidade sobre o grande clássico da autora (quer outra perspectiva da história) e também sobre questões de desigualdade racial ou história americana.