Augusto 07/11/2015Um bom início para uma saga promissoraOs Senhores dos Dinossauros definitivamente é um dos livros do ano. Para quem gosta de fantasia, é um prato cheio, mas atenção: não vá com alta expectativa. Nesta resenha vou apontar minhas opiniões gerais a respeito do livro, a respeito de cada protagonista e do desenvolvimento do livro. Repetindo, são opiniões pessoais. Caso não queira ler o texto inteiro, no último parágrafo resumo sobre o que achei da obra.
Quero, antes de tudo, deixar claro que eu gostei bastante do livro, apesar de ser uma obra de fantasia no máximo “ok”. Não entendam errado: não é ruim, mas poderia ser bem melhor. Há bastante ação, aventura e exploração. Boa ambientação, intrigas políticas, e claro, dinossauros.
Falarei primeiramente sobre os dinossauros que, convenhamos, é o atrativo da obra. Os “senhores dos dinossauros” são pessoas, geralmente um tanto pobres, que domesticam os dinossauros para seus donos, que são de fazendeiros, nobres, a militares. Os dinossauros são seres bastante convencionais em Nuevaropa, o universo criado pelo autor. Apesar do esperado, o autor não explica como surgiram e como foram domesticados pelo homem. Não é um ponto negativo, pois estamos falando de fantasia, não há necessidade de explicar cientificamente porque há dinossauros ou não. Isso não é ficção-científica. Assim, tanto convencionais, os dinossauros não são de fato o chamariz da obra. São meros animais para transporte de carga ou montarias de guerra. Além dos dinossauros de Rob, Karyl e Jaume, não há muito destaque para eles. Para mim, se trocasse os dinossauros por dragões ou outro ser mítico, o livro vira qualquer livro de fantasia em sua estante.
Particularmente, gostei bastante da ambientação da história. Nuevaropa, claramente inspirada no continente europeu, é muito diversa e possui países também inspirados nos países da Europa. São citados a Alemania e Anglaterra mas o principal seria a Spaña. Os nomes dos locais citados no livro são geralmente em espanhol, e constantemente os personagens soltam expressões também na língua espanhola, o que dá um charme a mais aos diálogos e ao texto em geral.
O desenvolvimento do livro me pareceu um tanto estranho. A obra é narrada em capítulos intercalados em alguns núcleos de personagens (ao decorrer da obra, aumenta a complicação da trama). É interessante como o autor escolheu a forma de desenvolver a obra, mas para mim não funcionou muito bem no livro, visto que uns núcleos são melhores desenvolvidos que os outros, deixando um núcleo muito interessante e outro, entediante.
São quatro protagonistas que preenchem estes núcleos. Um deles, o de Rob e Karyl, é excelente do início ao fim. Muita aventura, bom desenvolvimento dos personagens e boa ambientação; o que se espera de um livro de fantasia. Rob é de longe o melhor personagem para mim; percebe-se que muda de opinião a respeito de Karyl ao longo do livro, é bastante desenvolvido nesse ponto. É sempre irônico, bastante inteligente e habilidoso com armas, apesar de ser um trovador. Porém, não mais habilidoso que Karyl. Este é uma verdadeira “lenda viva” mas bastante misterioso. Ex-líder de exército, possui conflitos não resolvidos com seu passado, e apresenta o melhor desenvolvimento de personagem na obra, o que é compreensível já que o autor escolheu como o grande protagonista da saga. Esta primeira trilogia de livros (a saga contará com seis livros, aparentemente) é chamada “A Balada da Última Aventura de Karyl” (tradução literal de “The Ballad of Karyl's Last Ride”).
Os outros núcleos, de Melodía e de Jaume, deixam a desejar. Não sei dizer se é porque concentra a maior “parte política” da obra, onde há discussões de reinos, tratados e guerras, que me pareceram chatos. As cenas em que há discussões políticas são, na maior parte, entediantes. Os diálogos são em certos momentos confusos, surgem personagens sem motivo aparente que, em geral, são dispensáveis. Talvez isso se reflita na minha própria postura que, pessoalmente, não gosto muito dessas partes dos livros de fantasia, e o autor cedeu bastante espaço para elas.
Melodía é uma princesa, filha mais velha do atual imperador. Minha expectativa com a personagem era alta, já que é a única protagonista feminina da história, mas francamente, Melodía é uma personagem que me pareceu muito medíocre. Minha impressão é que o autor não sabe ou não quis desenvolver personagens femininas. Enquanto há conflitos familiares e políticos envolvendo Melodía - o que enaltece o papel da personagem -, as outras princesas, amigas de Melodía, são extremamente infantis e sem profundidade. Em certos momentos, o autor até me pareceu um tanto misógino, caracterizando outras personagens femininas secundárias de forma muito rasa e estereotipada. Muitas vezes as mulheres são apresentadas como simples objetos de desejo dos homens. De certa forma, numa fantasia medieval, é compreensível que os homens ajam desta forma e os autores destacarem tal comportamento, mas me pareceu desnecessário, principalmente porque há poucas mulheres com destaque na história e não são bem retratadas. Quem sabe numa continuação o autor se redima.
Por fim, Jaume é um personagem até que muito interessante, mas sua parte no livro foi deixada meio de lado, principalmente mais para o final da aventura. É um líder de exército e é bastante criticado por sua postura, apesar de ser a mão direita do imperador. É, de certa forma, um personagem conflitante. Em vários momentos, encontra-se em dilemas que exigem uma tomada de decisão clara. Um dos pontos interessantes é o fato de ser criticado por ser “bissexual” (entre aspas porque não há uma discussão clara a respeito da sexualidade do personagem. Somente afirma-se que no exército de Jaume, o próprio permite que homens se relacionem com seus companheiros. Para ele, cria-se um laço maior entre os membros, revertendo em melhor disposição para o combate). A população, principalmente os homens da história, são bem preconceituosos com esse tipo de comportamento.
Agora, as cenas de ação são bem complicadas, para não dizer bagunçadas. Na maior parte do tempo não conseguia discernir quem estava atacando e quem havia sido atacado. Muitas vezes essa confusão se replicava até nos diálogos em cenas mais lentas. Aí que parto pra crítica sobre a edição do livro.
A edição da Darkside é lindíssima. Capa dura e com texturas. Há ilustrações ao longo do livro, e uma fita de cetim para marcar as páginas, que são amareladas de ótima qualidade. Porém, a revisão do texto deixou muito a desejar. Vi alguns erros de ortografia, alguns até de tradução. Há constantes, e repito, constantes erros de pontuação. Em alguns momentos, até confundia o que estava sendo dito.
Definitivamente, Os Senhores dos Dinossauros não é uma união de Jurassic Park e Game of Thrones mas é um bom início para uma saga bastante promissora. Alguns problemas aqui e ali não impedem a obra de ser um grande destaque de 2015. Para mim, foi uma leitura em certos pontos cansativa, mas no geral muito boa. Vale a pena ser lido, até mesmo para tê-lo em sua estante, já que o trabalho com o acabamento da Darkside para o livro ficou caprichado. E fico no aguardo da continuação já confirmada, “The Dinosaur Knights”, que sai ano que vem.