Capitu 23/05/2017
O conto é rápido e, por isso mesmo, é impossível não ler de uma só vez. A escrita da autora flui muito bem, o que ajuda bastante.
Porém, gostaria que a autora tivesse elaborado mais sobre o relacionamento anterior de Júlia, pois gostaria de entender melhor esse relacionamento que tanto a machucou. Fiquei especialmente confusa no trecho que diz que a personagem "se sentisse usada, apenas para que alguém pudesse se encaixar em seu grupo e descartá-la como uma boneca." - Qual grupo é esse? Como essa pessoa a descartou? Inclusive, depois ela ainda diz que foi humilhada das piores formas, o que ajudou a me deixar confusa e curiosa sobre o que aconteceu antes de tudo estourar na traição que foi a gora d'água.
Da mesma forma, o relacionamento entre Lucas e Júlia também poderia demorar um pouco mais, ser desenvolvido com mais calma ou mais detalhes. Aí talvez seja uma questão pessoal, um gosto meu como leitora, mas prefiro me sentir envolvida e investida no romance do que ser direcionada pelo mesmo. O que quero dizer é: A escrita pode te falar o que acontece, ou te fazer sentir; no primeiro caso, somos espectadores que apenas vamos conforme a maré, no segundo caso, somos a torcida. Infelizmente, não me senti conectada. Achei a amizade, o romance e até o pedido de casamento foram rápidos demais, superficiais para que eu me envolvesse com a história. Sei que pode ser difícil explorar melhor o romance em um conto, pela natureza mais ágil do mesmo, mas fica aqui a observação de qualquer forma, justificando minha nota.
Quero comentar também sobre as descrições. Na verdade, uma em especial, a de Lucas. "Alto, talvez 1,80m, corpo atlético, cabelos castanhos bem penteados [...]". Acho que o uso de "alto" já passa perfeitamente a ideia, enquanto a adição de "talvez 1,80" (além de servir apenas para reafirmar a ideia de que ele é alto) quase quebra a imersão da história. Eu, pelo menos, nunca penso na altura em números, quando encontro pessoas na vida real. Em todo caso, não é uma falha da escrita ou da história, é apenas um comentário meu, quase uma sugestão (mania adquirida nos jobs de edição, talvez).
A ideia da história é comum, mas não deixa de ser agradável: Como mesmo um coração ferido pode se curar e amar novamente. A história até cumpre sua função, terminando com uma fagulha de esperança, e eu realmente gosto da proposta, da essência da história... Apenas mudaria algumas coisas ao longo do caminho, para que o final tivesse ainda mais impacto.