Dani_LJI 14/12/2015
Resenha Intempérie
O que dizer de um livro de apenas 182 páginas que é capaz de causar todos os questionamentos possíveis em uma narrativa em terceira pessoa rebuscada, poética e singular. Quando solicitei esse livro para resenha li a sinopse coisa que não tenho hábito de fazer, mas a capa e o título incomum chamaram a minha atenção. A história parecia simples a fuga de um menino sem expectativas da sua vida penosa e pobre.
Meu julgamento foi errôneo e equivocado, a leitura iniciou bem devagar como disse o autor é rebuscado e poético ao extremo, recorri ao dicionário inúmeras vezes, fiquei com pé atrás com a história por que ele divaga demais na sua narrativa para descrever o situação, o lugar e os sentimentos dos personagens, mas é aí que entra o lado poético do autor.
E depois que você capta a essência da história tudo começa a fazer sentido, e o ritmo da história torna-se algo intrigante e desafiador.
Nossos personagens principais não tem nomes, e se faz desnecessário nomes nessa história, pois a densidade do livro é o suficiente para tornar os personagens marcantes, o menino que foge de sua casa, foge de uma realidade triste, sofrida e devastada pela seca e a maldade humana. Nada tinha sido planejado, seu esconderijo dentro de uma caixa mal dava para se mexer, e enquanto a sua agonia o consumia, homens estavam a sua procura, sua ideia era fugir o mais longe da aldeia onde morava com sua mãe e pai.
Em sua jornada ele passa fome, se priva de água e seu corpo começa a dar ares de cansaço, até ele ser pego por uma insolação. Quem o salva é um velho pastor de ovelhas, que o ajuda alimentando, curando suas feridas e suas alucinações causada pela febre e exposição ao sol. A comunicação entre eles não passava de frases monossilábicas do pastor para o menino que respondia com seu silêncio. A relação dos dois nessa jornada é uma cumplicidade silenciosa, eles caminham procurando pastos para as ovelhas, tentando sobreviver na região castigada pela seca, pobre em alimentos, e sem qualquer habitante próximo a quem pudesse pedir ajuda.
O medo do menino é presente a todo o momento, o pastor não o questiona o motivo da sua fuga, mas lhe da companhia e alimento, e ele o segue sem mais questionamentos, é o que o mantém vivo, e ele aprende a lidar com situações que ele pensa que está sendo castigado na sua vida.
O que acontece nessa jornada, é algo que deixa o leitor temoroso, triste e enojado. Esse menino tão novo é obrigado a uma realidade nua e crua em sua vida, a maldade dos homens chega ao extremo, e a expectativa de ter uma vida normal parece algo distante. Ele narra com tanta veracidade que fica impossível não se emocionar com a história, tive que parar algumas vezes para me recompor e continuar lendo, é um livro que instiga e que mostra uma coragem por parte dos personagens que é ausente em muitas pessoas, a busca por uma realidade diferente, a busca pela mudança do destino.
Jesús Carrasco traz um drama intenso, crível e denso, é um livro que tira o leitor da zona de conforto por completo. Nada do que eu li até hoje se compara com essa narrativa sofrida e silenciosa, em poucas páginas ele resumi os dias de sofrimento de dois personagens castigados pela vida, que aprende lições da pior forma possível, ele mostra como a maldade é algo inconcebível e absurda.
Uma leitura madura, com personagens marcantes, com narração poética e com uma incerteza da vida dos personagens. É um livro que termina de modo pensativo e reflexivo, mas que não se questiona da maneira que foi, pois é um romance dramático cheio de incertezas e que não conta com um final feliz, mas sim com um final cheio de grandes recomeços.
site: http://www.livrosajaneladaimaginacao.com.br/2015/12/resenha-intemperie.html