Luiza Helena (@balaiodebabados) 18/08/2020Originalmente postada em https://www.balaiodebabados.com.br/"Num mundo de matadores, é mais difícil ser gentil do que ser cruel."
Filho Dourado se passa depois de alguns anos após os acontecimentos de Fúria Vermelha. Darrow continua infiltrado entre os Ouros, plantando sua semente para uma futura revolução (que um dia vem). Confesso que não sabia muito o que esperar e ver nesse livro, e com certeza fui surpreendida mais uma vez.
Assim como em Fúria Vermelha, o foco de Darrow aqui ainda é a sobrevivência, mas agora ele vai ter que aprender a jogar a política dos Ouros e manipulá-la a seu favor. Entretanto, uma derrota e humilhação logo no início do livro faz o ex-Vermelho ligar o botão do foda-se. Essa atitude dá início ao uma guerra civil e (nem preciso dizer mas já dizendo) sangrenta entre os Ouros.
Desde o livro anterior, sempre achei Darrow um personagem inteligente, perspicaz e esperto. E realmente ele é. Aqui, ele só elevou esses traços a outro nível, com seus jogos e manipulações. Em certos momentos eu realmente me questionei porquê ele se colocava na linha de fogo por essa classe que ele tanto odeia, mas tudo são meios para o fim: fim da tirania dos Ouros em relação às outras cores.
"Dor é a maneira pela qual eles nos controlam."
Em Filho Dourado temos um foco maior na política entre os Ouros. Não muito diferente de pessoas que estão no poder, as alianças são frágeis, o poder sobe à cabeça e não se pode confiar em ninguém. Darrow utiliza essa situação a seu favor, quase sempre prevendo os passos adiantes, o que faz com que ele se destaque e consiga alguns inimigos no caminho.
"Todo mundo é honesto até ser pego numa mentira."
Gostei do destaque dado aos personagens secundários. Por mais que Darrow saiba que não se pode confiar em Ouros, ele também se veria perdido sem as amizades conquistadas. Sevro continua sendo um dos meus personagens favoritos, com sua boca suja e sua leal para com o Ceifero. Mustang também tem seu destaque. Desde o livro anterior, a filha do ArquiGovernador de Marte se mostra, além de inteligente e sagaz, uma mulher justa e sensata. Inclusive, se não fosse por sua ajuda, com certeza Darrow estaria em apuros. Desde o Instituto, os dois formam um ótimo time, visto que praticamente conseguem ler a mente um do outro.
"O tempo não prova a lealdade de ninguém [...] Cicatrizes sim."
Já em relação ao romance entre Darrow e Mustang, bem... foi tudo um tanto atropelado no final de Fúria Vermelha e aqui sabemos que muita coisa aconteceu entre eles nesse meio tempo entre o livro anterior e esse. Gostei muito da dinâmica dos dois e a química presente, mas nem tudo são flores. Além de esconder a verdadeira identidade, Darrow ainda é bastante preso na memória da ex-esposa. Já Mustang sabe e respeita a lembrança dessa pessoa do passado dele, assim como sabe que ele esconde algo que pode mudar toda a relação e amizade entre eles.
O livro tem um ritmo acelerado e constante do início ao fim. Nessa continuação, Pierce deu uma diminuída nas cenas gráficas de violência nas lutas. Apesar das cenas de ação, o livro é praticamente todo voltado a jogos políticos e traições. Chegou em um ponto que eu realmente não me espantava com mais nada que o Darrow pudesse fazer. A única ressalva que tenho é sobre uma certa sequência na reta final, que se prolongou mais do que necessário.
E quando se pensa que tudo está bem, a reta final é cheia de revelações e reviravoltas. Inclusive uma dessas revelações me deixou de queixo caído, já que era um personagem que nunca dei muita atenção. Se o livro passado era Hunger Games Mars Edition, o último capítulo aqui só pode ser definido como Red Wedding Mars Edition. Cabeças (literalmente) rolam, alianças e amizades são desfeitas, pessoas são expostas, tudo isso faz com que o final chocante te deixe super ansioso para Estrela da Manhã.
"Daqui a dez anos. Daqui a cinquenta. Daqui a mil. Nós arrebentaremos as correntes, não importa o quanto isso custe. Vocês não podem nos deter. Somos a onda."
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