Érika 26/10/2021Apenas primeiras impressões sobre a sérieOntem à noite terminei de ler este livro, o primeiro dos seis livros do ciclo “Contos de Kolimá”, de Varlam Chalámov, que contêm histórias sobre a vida nos campos de prisioneiros soviéticos no século XX. Farei uma resenha mais profunda quando terminar a série inteira, hoje dou apenas noções superficiais sobre este, nos limites da legenda do IG.
Chalámov foi condenado duas vezes ao Gulag: em 1929, por distribuir um texto de Lenin alertando a sobre a periculosidade de Stalin; e em 1937, na maior onda de repressão do período Stalinista. Com mais algumas condenações que acumulou no campo de prisioneiros, ele passou ao todo 17 anos nos trabalhos forçados, como mineiro e depois enfermeiro. Solto em 1951, só voltou a Moscou em 1953, e passou até 1973 escrevendo os seis livros da série.
Adquiri essa série faz um tempinho e estava enrolando para ler por causa do tema pesado, mas entrei para um grupo de leitura conjunta da obra que me deu a coragem que precisava para começar.
Se eu soubesse que era tão bom, teria começado antes.
O autor já me conquistou no primeiro conto, “Pela neve”. Curtinho, ele faz um paralelo entre o trabalho dos homens que abrem caminhos inexplorados pela taiga (floresta do Norte russo) e o trabalho dos escritores. Com esse conto, Chalámov conseguiu traçar o cenário para o livro que viria adiante e ao mesmo tempo nos passar um postulado seu sobre a arte, que dita o caminhar do livro nesse aspecto. No segundo conto, ele fixa mais algumas estruturas, dessa vez jogando-nos direto em um recorte comum – e brutal – do campo, enquanto pincela referências literárias desde a primeira frase.
O que me surpreendeu no autor foi a sutileza como ele transmite a brutalidade, a dureza da realidade retratada. Parece paradoxo usar “sutileza” e “brutalidade” na mesma frase, mas não. Eu tinha receio de encontrar muitas descrições gráficas de violência e dos horrores cometidos naqueles lugares. Não é por aí. A força das histórias está nos detalhes, em coisas não ditas, ditas pela metade. Não que o autor esconda algo, use de afetação. Mas a forma como ele relata os ocorridos desperta pensamentos na nossa mente por um lado que nem estávamos esperando.