Betodepoa 04/09/2021
Fadas no Divã
Diana e Mário definem a sua obra como um “traçado inicial do crescimento de uma criança até a adolescência e seus contratempos”. Concomitantemente, dispõem-se a analisar diversas situações vividas na paternidade e na maternidade: papéis, frustações, expectativas, neuroses, fantasias, .... E os contos infantis, segundo eles, ofereceram excelentes oportunidades para ilustrar alguns conceitos.
Por outro lado, inspirados pelo trabalho de Bruno Bettelheim, sentem-se também instigados pelo...
[...] porquê de determinados contos terem se celebrizado, durado, permanecido com um núcleo comum tão preservado, sendo que não são necessariamente muito melhores do que outros (p.23).
Embora sejam bastante contundentes na crítica a certos dogmatismos de Bettelheim, compartilham com ele a ideia de que as narrativas que se popularizaram entre nós foram aquelas que melhor representaram os conteúdos do inconsciente infantil ao longo dos anos (aliás, recomendo começar a leitura pelo capítulo XII -Considerações sobre o Livro: A Psicanálise do Contos de Fadas, Bruno Bettelheim, ...).
É interessante que esses contos tenham sido relegados à infância [...] eles nasceram para todos. Durante séculos, faziam parte de momentos coletivos, em que um bom contador de histórias emocionava sua plateia, incluindo gente de todas as idades (p. 25).
Cada narrativa conteria elementos específicos que interessariam à criança ouvir em certas fases do seu desenvolvimento, ajudando-as, assim, a organizar e entender sentimentos contraditórios. Não seriam apenas os componentes mais evidentes -trama, personagens, costumes, cenário, etc.- que atrairiam esse interesse, mas algo mais subjetivo, talvez “subliminar”, que aflora através combinação desses componentes.
Certos arranjos particularmente felizes por equilíbrio, beleza e força, cristalizam e formam algumas dessas narrativas que hoje conhecemos como as nossas histórias clássicas (p.28).
Como se fossem uma espécie de “oráculo”, essas estórias, ...
[...] assim como muitas outras, podem de fato oferecer caminhos que encenem as paixões humanas e nos suscitem sentidos que ultrapassam nossa consciência. [Porém...] Os contos, como os mitos, são estruturas geradoras de sentidos, eles não têm um sentido em si (p.166).
Ou seja, a ideia é ...
[...] que a eficácia atual dos contos folclóricos em nossa subjetividade não retire sua força necessariamente do que teria sido sua constelação de sentido inaugural, mas em sentidos outros que ela possa evocar no momento presente de sua narrativa (p. 177).
Outras abordagens, como a de Propp (As Raízes Históricas do Conto Maravilhoso, Vladmir Propp, ...), dedicam-se a explicar as origens históricas, mas não avançam, segundo os autores, na análise psicológica e na intrigante questão da perenidade das estórias.
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