Cinema no Divã

Cinema no Divã Danit Falbel Pondé




Resenhas - Cinema no Divã


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jmrainho 21/02/2016

Cinema no Divã
A psicóloga (Makenzie) Danit Falbel Pondé, especializada em psicanálise Winnicottiana, fala de psicanálise com exemplo de filmes e séries conhecidas, analisando personagens como "casos clínicos".

Donald Woods Winnicott (1896-1971), pediatra e psicanalista inglês. Trabalhou muito com crianças abrigadas na época da 2a. Guerra, em Londres. Um acontecimento relevante da vida desse autor foi a chegada em Londres, no ano 1926, de Melanie Klein (1882-1960), uma das mais importantes analistas de criança da sua época, logo fazendo escola e seguidores. ( - ). A convicção do Kleinianos na importância suprema, para saúde psíquica, do primeiro ano da vida da criança, foi compartilhada por Winnicott. (Wikipedia).

Para Winnicott, a relação bebe-criança-mãe, resultam nas condições psicológicas da vida adulta. Não basta a mãe cumprir suas funções técnicas de criação, tem que se envolver emocionalmente e proporcionar segurança em momentos de decisão.
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Filmes citados e analisados:
- Fim de Caso (1999)
- Contos de Nova York (1989)
- A série de tv The Big Bang Theory (2007)
- O casamento de Rachel (2008)
- Bonequinha de Luxo (1961)
- Amadeus (1984)
- Melancolia (Dinamarca, 2011)
- A vida dos outros (Alemanha, 2006)
- Precisamos falar sobre o Kevin (2011)
- Alpha Dog (2006)
- O segredo dos seus olhos (Argentina, 2009)


TRECHOS

No mundo contemporâneo, o conhecimento religioso tem sido, de certa forma, marginalizado, renegado pela associação com as trevas da Idade Média. .. A experiência religiosa é depreciada e entendida como produção irracional, porque é atribuída a pessoas carentes de recursos intelectuais e ou emocionais. Na origem da palavra, religião está a idéia de religação ao transcendente, que só pode ser entendida dentro da instância da fé.
No nível pessoal, essa ligação não é matéria de aprendizagem, mas de uma vivência baseada no acreditar em. Não existem injeções de crença, assim como não se chega à aquisição de princípios e valores morais por meio do aprendizado.
Do ponto de vista do desenvolvimento humano descrito por Winnicott, trata-se de uma conquista, essencial no salto qualitativo do viver, pois certamente não rege somente a relação com Deus, mas também com o mundo.

Por uma perspectiva desenvolvimentista, afirmar que a racionalidade e a cognição são inatas é tão inválido quanto dizer que se nasce com a fé. Trata-se de características que podem ser desenvolvidas .A interligação entre essas três instâncias - psique (emocional),soma (corpo, no caso falando do tecido cerebral e mente (intelecto) - é muito mais complexa.

Grosso modo, pela perspectiva de Freud, a religião está associada à necessidade infantil de proteção e gerência de um pai, mesmo que abstrato, diante das frustrações ou dificuldades da vida.

O filósofo Rodney Stark, na esteira do utilitarismo afirma haver racionalidade na busca e prática religiosa, o que coloca em primazia essa relação utilitária.
Para alguns, a visão religiosa sobre a vida enriquece o escopo crítico e o reflexivo no que se refere a fazer a diferença entre o joio e o trigo do que é essencial. Mas certamente seus efeitos são bem concretos na maioria dos fiéis por aportar maior segurança, minimizar os efeitos do imprevisível, à medida que coloca tudo dentro de um ciclo previsto, mesmo que inatingível, de justiça divina. Considerando a máxima de que ninguém usaria drogas se não fosse bom, o mesmo pode ser dito sobre a religião ser o ópio do povo. Atualmente, é mais compreensível o uso de medicamentos psicotrópicos como amortizadores das dores do viver.
Não se corda de manhã e simplesmente se resolve acreditar em Deus. A fé não é da ordem da decisão consciente, mas fruto da possibilidade subjetiva. A pretensa racionalidade em seu exercício contempla somente uma parte pequena e posterior da experiência, aquela que contabiliza seus efeitos benéficos.

A questão imposta a todo e qualquer um de nós em meio a tantas atividades e relações afetivas a que nos dedicamos é como adaptar-se às exigências do mundo externo sem que haja a perda daquilo que é mais pessoal e que, por isso, dá sentido à vida.

A palavra transtorno, cuja concepção se refere aos padrões comportamentais ou psicológicos de um indivíduo, comportamentos que estão associados à sua qualidade de vida e aos prejuízos que podem acarretar em sua vida cotidiana.. Como ser relacional, no entanto, o ser humano está em constante troca com o ambiente, o que faz dele um ser passível de ser transtornado pelo ambiente, ou alguém que causa transtornos para o ambiente.
Para Winnicott, esses problemas, mais que comportamentais, são emocionais e estão relacionados aos cuidados recebidos da mãe, dos quais todos somos dependentes desde que chegamos ao mundo.
Assim, o fato de alguém ser transtornado coloca em evidência os impactos do ambiente no desenvolvimento emocional desse indivíduo. Portanto, está além do ônus pessoal, cuja lógica da culpabilização é bastante aplicada em nossa sociedade sobre aquele que fica doente.

Salvar os filhos de sua própria irresponsabilidade e impotência faz parte da função paterna.

Para os viciados em drogas (adicta), obviedades como viver um dia de ada vez, recomeçar tudo do zero, levar um ano para admitir que era adicta e depois enxergar outras possibilidades são falas simples, as assertivas empiricamente. Não há espaço par abstrações, necessita-se de continência e rotina. Algo que o mantra demonstra muito bem:"Deus, dá-me serenidade para aceitar o que não posso mudar, coragem para mudar o que posso e bom senso para saber a diferença." Mantra é ritual, ritual é rotina, rotina é estabilidade é previsibilidade, é passado, presente e futuro, é perspectiva.

Nas ideologias marxistas do socialismo, o seu ideário prevê solução nas quais tudo gira em torno da distribuição de bens e condições aos menos favorecidos. Mesmo sem sabê-lo, essa perspetiva está dentro de uma chave deturpada do discurso religioso instituído ao longo de muitos séculos pela prática pastoral cristã. Os ricos são aqueles a priori culpados. Dar aos pobres e doar à Igreja comprava um pedacinho do paraíso, garantia absolvição. Na utopia atual a salvação está no coletivo, pensar em conjunto, viver em conjunto, prover o conjunto. No coletivo ninguém quer nada só para si, ninguém engana, frauda, tira vantagem, como também não tem pena de gastar o seu dinheiro consigo mesmo e com outros; enfim, os reconhecidos pecados derivados que giram em torno do peado capital da avareza. E assim viveremos todos felizes e iguais. No campo real, onde a ética se faz necessária, é um tanto óbvio que o mocinho e o bandido bem definidos nesse universo social dicotômico entre privilegiados e desprivilegiados, ricos e pobres, são insuficientes para descrever o que permeia as relações entre os homens. A matéria é nebulosa. De um lado, fica assombrada pelo relativismo. Cada homem ser a medida de todas as coisas (máxima de Pitágoras, citado no Teeteto de Platão) implica uma espécie de "achômetro".
Um mandamento simples como "Não roubarás" fica muito mais complicado se pensarmos num indivíduo que está passando fome. As circunstâncias entram como contrapeso na reflexão moral. como dizia Aristóteles.
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Numa elaboração mágica, permeada de milagres, graças, dons divinos e pecados, fica óbvio o crédito miraculoso aos dons de Mozart. No entanto, apesar de se reconhecer que não se nasce uma tábula rasa e, portante, se vir ao mundo com certos conteúdos potenciais, esse músico certamente cuspiu sangue para consolidar sua genialidade. E isso deve ter lhe custado muito ao longo de sua breve vida. Na vida real, como respondeu Michael Jordan, grande jogador de basquete americano quando perguntado por um jornalista a respeito de sua sorte: "The more I Practice, the lukier I Get". (Quanto mais eu pratico, mais sortudo eu me torno..
A inveja [autor refere-se a inveja de Salieri, no filme Mozart] provida de um olhar idealizador retira das bases reais aquilo que o outro conquistou e que certamente não caiu do céu. Assim como não caem do céu, entre diversas proposições humanas, o salário, as boas condições de vida, a carreira, o emprego, as boas notas, o diploma universitário, a perda de peso ou a fama. Se existe a sorte inicial, também há o esforço para sua consolidação.

No filme Mais forte que a vingança (1972), a personagem marinha reúne toda a sua capacidade para se adaptar às adversidades e superá-las. Nela opera a suprema racionalidade, diligente, no suporte à vida. Em nenhum momento blasfema, tampouco pede a ajuda de Deus. Deposita em si mesmo as próprias esperanças e age imbuído da certeza de que com o seu esforço vai conseguir se salvar.

Eu sua história pessoal, o acúmulo de experiências positivas, muito mais do que negativas, fez dele um homem crente no sucesso, na vitória, no controle e na realização. Sua inabalável confiança em um final feliz a respeito do encontro planetário era uma construção erigida sobre essa base, e essa certeza não tinha a função de acalmar os ânimos dos desesperados. Próximo ao fim, ele opta pela única forma de controle de que dispõe: tirar a própria vida. John julgava que tinha muito a perder e nenhuma habilidade para lidar com o pior, com o impossível e imprevisível.Para ele, era insustentável presenciar uma realidade contrária, um final infeliz. Na comparação metafórica, era como um pinheiro alto, que, sob fortes ventos, mesmo frondoso e enraizado fortemente à terra, por não vergar como o frágil bambu, quebra e cai por terra.

Para Hardy, a hiena do desenho animado, os queixumes e autorrecriminações seguem o mesmo princípio: encobrem, pelo deslocamento ao ego, o fato de que as recriminações sejam feitas a um objeto amado. Ou seja, não ficar bem é uma forma de demonstrar continuamente ao outro a parte de culpa que lhe cabe nessa situação. Um tremendo tiro no pé, uma vez que, afinal , é ele mesmo que não anda para a frente nem para trás. O outro, por mais que sofra com a situação, segue sua vida.

Para Winnicott, só se pode falar em autoestima quando existe um sentimento de reconhecimento de si mesmo consolidado. Qualquer avaria nessa conquista do "eu", e do "eu sou" implica uma integração incompleta; portanto, muito distante das vicissitudes de um ego forte.... Ele nunca usa o termo autoestima, pois estima, a princípio, e algo que vem do outro.

Acolher o movimento de oposição, mas nem por isso cair na armadilha da permissividade, uma vez que uma boa discussão compreende argumentos opostos bem formulados. Prestar atenção ao que é dito, estabelecer os pontos de vista, discordar com conteúdo, tudo isso é aproveitável. Tratar o filho como café com leite, fingir que o ouve, mas de fato, não o fazer não tem proveito para nenhum dos lados. Nem sempre é preciso concordar. Pelo contrário, é preciso manter-se. Careta, quadrado, ultrapassado, mas ali, firme com seus próprios princípios.

Atualmente, grande parte dos problemas da adolescência advêm de uma sociedade marcada por pais que envolvidos nos esforços de parar o processo de envelhecimento, entendem a própria imaturidade da juventude. Por meio de uma relação de amizade, em vez de hierárquica, necessária para a proteção dos filhos, os pais acabam modelando e perpetuando uma relação pobre, do adolescente consigo mesmo e com o mundo. Filhos à deriva denunciam pais à deriva naquilo que se pressupõe sua função, o cuidado. Mesmo às portas de se tornar adulto, o adolescente não pode prescindir da consciência ambiental. Nesse aspecto, como sempre em toda a abordagem psicanalítica, o tempo pode fazer pouco.



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