Felipe Novaes 22/09/2016O judaísmo sempre foi uma incógnita. Eram os caras barbudos vestidos de preto e com costeletas em formato de cachos, com as mãos sempre cheias de livros. Era a fama de serem ricos, sovinas, mercenários. Como esquecer também das inúmeras perseguições pelas quais já passaram, sendo a do período nazista só o estopim da última delas, que vinha sendo construída desde o anti-semitismo cristão até o Protocolo dos Sábios de Sião (que acusava os judeus de uma grande conspiração para dominar a Europa).
Mano, eles também tem a melhor agência de espionagem do mundo, o Mossad. E tem o krav magá.
São muitos elementos soltos, mas ainda assim, vagos, sem coesão. O que prega o judaísmo? Um povo? Só uma crença?
Depois fui descobrindo muito mais. O fato curioso e mais descarado está óbvio na própria cultura ocidental. Jesus de Nazaré, hoje chamado de Cristo, era um judeu. O que hoje se tornou uma religião mundial começou como as pregações de um judeu humilde, sobre um judaísmo autoral. E isso pululava na Palestina daquela época. Jesus não foi o único pregador itinerante.
Séculos depois, quando adquiriu o status de religião imperial, o Cristianismo herdaria o status de "religião do livro". Sim, porque a crença judaica era basicamente abstrata, imaterial. A divindade única não era personificada materialmente. Talvez tenha sido esse caráter etéreo que fez a fé judaica não balançar ao longo da história. Não era imagens que eram destruídas, eram papiros cheios de palavras, que também já estavam gravadas pela leitura ou pela oralidade das mensagens. Aliás, talvez seja por isso a boa quantidade de intelectuais de ascendência judaica. Alguns dos mais famosos vc conhece: Einstein, Freud, o psicólogo Nobel de economia Daniel Kahneman.
Aliás, falando em monoteísmo...Assim como em sua gênese não podemos falar de um cristianismo único, também não se fala num judaísmo único. O Antigo Testamento guarda algumas das cicatrizes de um judaísmo plural lutando para se tornar singular. Um judaísmo que se confundia com a adoração iavita, eloíta, juntamente com as divindades do deserto, e do Egito -- afinal, existia um grande e suntuoso templo judaico em Elefantina, onde sacrifícios de animais eram feitos diariamente como um bom culto a YHWH.
Enfim, falar do judaísmo é falar sobre um povo que começou plural, lutou pela união ideológica, se dissipou e assim por diante. No meio disso, assimilou e foi assimilado pela cultura egípcia, helênica (as mesquitas surgiram no período helênico e guardavam muito da arquitetura grega) e islâmica (principalmente em Andaluzia, na Espanha, nos tempos de ocupação muçulmana).
Conseguiram se destacar em todos esses mundos, seja cedendo seus exércitos mercenários altamente treinados (para os egípcios, em Elefantina), realizando empréstimos para a igreja ou para a nobreza (o capital judaico financiou muitas das principais catedrais europeias) ou como elite intelectual (como Halevi e Maimônides, judeus de referência em poesia árabe).