Mariana 23/07/2016minha estanteO livro é sensacional, tanto como obra literária, tanto como narrativa antropológica.
Ele traz as impressões de Evaristo de Miranda, um jovem pesquisador brasileiro, que por meio de uma instituição francesa passou três anos pesquisando plantas e práticas agrícolas do Níger, ao Sul do Saara, na década de 1970. Durante esse período ele precisou conviver com as tribos locais - hauçás e tuaregues - e abdicar de muitos de seus costumes num exercício de relativização que trouxe a ele marcas no corpo e na alma.
A narrativa perpassa temas interessantes e ricos, como o sincretismo religioso, manifestado entre a mistura de práticas do islã com as religiões aldeãs; as formas de se organizar politicamente; a maneira de resolver os problemas cotidianos; e a relação com a morte, a escassez de recursos e a miséria.
A maneira de narrar é salpicada de passagens cômicas proveniente das diferenças culturais entre narrador-personagem e tribos do Sahel. Apesar de retratar uma região pobre e escassa de recursos necessários à existência com um pouco de dignidade, as tribos do Sul do Saara ganham destaque pela riqueza cultural, hospitalidade e pela forma como compreendem o universo e se relacionam com a natureza.