Sandi 24/09/2015
Sonhos Partidos- M.O Walsh
Há um grande paradoxo em mim: embora eu não goste formalmente de filosofia, sou fã de reflexões e divagações sobre os sentimentos humanos. Sou fã ainda de histórias que, mesmo simples, nos carreguem em uma narrativa bela e bem escrita; daquele tipo de livro que não se preocupa apenas em contar os fatos, mas também com a maneira como eles são contados. E após ver um banner gigante no Skoob dizendo que Sonhos Partidos era viciante e literário ao mesmo tempo (qualidades quase sempre excludentes), resolvi dar uma chance ao livro de estreia de M. O. Walsh. E posso dizer: não parece nem um pouco uma estreia.
Sonhos Partidos é narrado por um adolescente morador de Baton Rouge, capital da Lousiana. O clima tranquilo da vizinhança é quebrado pelo estupro de sua vizinha Lindy, uma jovem pela qual o narrador é obcecado. Em meio a tantos suspeitos, incluindo o próprio narrador, vemos como todos esses fatos definiram e mudaram cada um dos envolvidos.
Não espere um livro de suspense, esse é o primeiro conselho que dou sobre Sonhos Partidos. É claro que teremos os suspeitos e há sim uma resolução para o crime, porém não é essa a característica predominante no livro. O que marca a narrativa é o desenvolvimento da vida do protagonista e de todos os moradores daquela rua, tendo um crime tão brutal como pano de fundo. Essa é a beleza do livro: mostrar como cada pequeno elemento da vida de uma pessoa define quem ela é no futuro, utilizando metáforas extremamente inteligentes. Espere sim drama, romance, redenção. M. O. Walsh conduz-nos a grandes questionamentos sobre os sentimentos e não foi raro eu me identificar com cada uma das reflexões que ele propõe com uma beleza poética absurda.
Se o estilo do livro é impecável, os personagens também não decepcionam. São intensos e reais, sendo impossível definir preferências, uma vez que todos estão intrincadamente ligados. Não há bons ou maus, há pessoas apenas lidando com seu dia-a-dia de formas melhores ou piores. Achei incrível, por exemplo, a capacidade do narrador nos manipular a aceitar até suas escolhas ruins, justificando a cada momento que em determinadas épocas da vida todos estamos passíveis a erros. E é impossível não começar a torcer que ele não seja o verdadeiro culpado e até temer que seja.
Mas se tanta estética poderia prejudicar o andamento da história, não é isso que acontece. Sonhos Partidos fecha um ciclo trazendo uma conclusão bem satisfatória. Admiro a verdadeira coragem de M.O Walsh não cair em um final clichê. Aliás, é nos momentos finais do livro que todos os sentimentos superabundam e o leitor finalmente entende que sim, esse é um livro incrível, daqueles raros de se encontrar por aí. Só peço um favor ao M. O Walsh: comece a escrever mais, urgente! haha
Indico para todos que amam histórias belas, doces e tristes, daquelas feitas para explodir sua cabeça e tocar seu coração!
"Há um amor, qualquer amor, feito de respostas?"