Matéria de Poesia

Matéria de Poesia Manoel de Barros




Resenhas - Matéria de Poesia


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Toni 26/05/2022

Leituras de 2022 | #LeiaPoesia

Matéria de poesia [1974]
Manoel de Barros (MT, 1916-2014)
Alfaguara, 2019, 208 p.

A matemática da poesia de Manoel de Barros é uma que subtrai para transbordar, cheia de inutensílios: pedras, poeiras, cacos de vidro, o piado das águas, o marulho dos pássaros. Como advertem os versos que abrem este volume: “todas as coisas cujos valores podem ser / disputados no cuspe à distância / servem para poesia.” Aproveitando-se “do que sobrou” após os grandes poetas se ocuparem dos “grandes temas universais” — essa falácia prepotente —, Barros ironicamente propõe a insurgência do banal, do comezinho, dos despojos sem sentido refeitos em versos-palavras, desajustando a sintaxe e desafiando olhares.

Como sempre, os poemas são pouquinhos, seguindo o desejo do autor de fazer a experiência de leitura durar na escassez que preenche de sentidos os vazios. Sexto livro na ordem de suas muitas publicações, é aqui, como sugere o título do volume, que se delineia com clareza o que já se vinha anunciado em obras pregressas, uma poética de construção e demolição, de reaprendizado e reencanto, de desfeitura e desensinamento. Ou, mais explicitamente: a matéria de que se ocupa essa poética. Ler Manoel de Barros é um exercício de retorno à novidade: ensina o coração a respirar e o toque das coisas aos pulmões, aos olhos ensina o cheiro das palavras, e às palavras o sonho acordado das coisas nunca nomeadas. Leiam, sempre que possível, Manoel de Barros:

[...]

Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia

As coisas que os líquenes comem
– sapatos, adjetivos –
têm muita importância para os pulmões
da poesia

Tudo aquilo que a nossa
civilização rejeita, pisa e mija em cima,
serve para poesia

[...]
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Victória de Castro 29/08/2021

O prefácio que o Mia Couto escreveu tá incrível! Toda a poesia do Manoel de Barros me deixa com aquela sensação boa sabe?
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Adriana Scarpin 21/04/2016

Matéria de poesia
"Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para a poesia
O homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia

Terreno de 10×20, sujo de mato os que
nele gorjeiam: detritos semoventes, latas
servem para poesia

Um chevrolé gosmento
Coleção de besouros abstêmios
O bule de Braque sem boca
são bons para poesia

As coisas que não levam a nada
têm grande importância

Cada coisa ordinária é um elemento de estima

Cada coisa sem préstimo
tem seu lugar
na poesia ou na geral

O que se encontra em ninho de joão-ferreira:
caco de vidro, garampos,
retratos de formatura,
servem demais para poesia

As coisas que não pretendem, como
por exemplo: pedras que cheiram
água, homens
que atravessam períodos de árvore,
se prestam para poesia

Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia

As coisas que os líquenes comem
- sapatos, adjetivos -
tem muita importância para os pulmões
da poesia

Tudo aquilo que a nossa
civilização rejeita, pisa e mija em cima,
serve para poesia

Os loucos de água e estandarte
servem demais
O traste é ótimo
O pobre-diabo é colosso

Tudo que explique
o alicate cremoso
e o lodo das estrelas
serve demais da conta
Pessoas desimportantes
dão para poesia
qualquer pessoa ou escada

Tudo que explique
a lagartixa de esteira
e a laminação de sabiás
é muito importante para a poesia

O que é bom para o lixo é bom para poesia

Importante sobremaneira é a palavra repositório;
a palavra repositório eu conheço bem:
tem muitas repercussões
como um algibe entupido de silêncio
sabe a destroços

As coisas jogadas fora
têm grande importância
- como um homem jogado fora
Aliás, é também objeto de poesia saber
qual o período médio que um homem jogado fora
pode permanecer na Terra
sem nascerem em sua boca
as raízes da escória

As coisa sem importância
são bens de poesia
pois é assim
que um chevrolé gosmento
chega ao poema
e as andorinhas de junho"
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28/12/2023

Crianças
Em pleno uso da poesia
Funcionavam sem apertar o botão

Livro curtinho, fácil leitura, no entanto, creio que não é de agrado geral, ainda mais de quem não gosta de poesia. Mas eu recomendo para todos, tendo em vista o tamanho do livro.
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