Priscilla 05/09/2011
O "Enigma do Oito" é o tipo de livro que te obriga a ler com calma. Não se preocupe, não é do estilo que faça citações obscuras ou de difícil entendimento; ele não te obrigará a percorrer as páginas com um dicionário ao lado. Ele nem ao menos te fará enrrugar as sobrancelhas ao ler suas passagens. Mas você precisa ter calma. E paciência, porque ele é soterrado de conhecimento enciclopédico e variado, que se for levado de forma irreverente se tornará incompreensível no decorrer da história.
Digo isso porque, se você não tiver o básico do entendimento sobre ciências exatas, filosóficas e históricas, poderá ficar completamente perdido se não levar o conteúdo a sério - no fim, não entendendo nada da proposta. Um dos motivos pela qual não dou cinco estrelas para o "Enigma do Oito" é exatamente esse. Ele é tão cheio de conhecimento arbitrário não realmente relacionado com o desfecho da trama, que se torna um pouco maçante aos olhos dos menos motivados.
Ao ouvir falar de teorias musicais, física acústica, matemática avançada, história da Revolução, filosofia e seus acompanhantes, muitos leitores pouco aplicados podem se render. Simplesmente porque não possuem o afinco de cravar os olhos na leitura e tentar compreender o texto, o que leva ao não entendimento de metáforas como a da Rainha Branca, do Rei Preto, e assim por diante. Há, por esse fato, certo distanciamento do leitor em relação aos personagens e suas lutas, como, principalmente Mireille. É difícil entrar na pele dela, porque sua história é soterrada de passagens de difícil acesso, e há uma difícil identificação com ela, fazendo com que só a compreendamos realmente no final; assim como Solarin, Talleyrand, Nim, e etc.
Mas o livro é bem escrito. Possui diálogos inteligentes, personagens interessantes e descrições bonitas. Me pego envolvida por Catherine, Lily e até Carioca, me pego finalmente compreendendo Mireille e toda sua jornada, me pego ansiando pelo Xadrez de Montglane e seus mistérios. Me pego imaginando como deve ser o futuro de Charlot, como devem ser as montanhas do Tassili, de como a Argélia é um país singular (apesar de antes nem ao menos poder precisar com exatidão seu lugar no mapa), e em como uma partida de xadrez pode ser muito mais do que um mero jogo.
Me pego ansiando por cada movimento, do menor dos peões ao maior dos reis. E é. Querendo saber exatamente onde o jogo termina. E que venha "O Fogo".