Diário de Bitita

Diário de Bitita Carolina Maria de Jesus




Resenhas - Diário de Bitita


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Adonai 17/04/2020

Diário de uma mulher fantástica
Ouvi falar de Carolina em algumas rodas de conversa, palestras e cursos. Descobri que um livro seu chegou a ser publicado primeiro na França, para depois ser lançado aqui. Como isso aconteceu, já que ela é brasileira? A partir dessa questão, procurei mais sobre sua vida e fui entendendo como o racismo estrutura tanto nossas vidas.

Esse livro publicado fora primeiramente, é esse: o Diário de Bitita, como ela gostava de ser chamada. Senti a obrigação de ler e deveria começar por esse livro, já que ele conta sua infância em Minas Gerais e os caminhos que percorreu até chegar na capital de São Paulo.

Uma vida sofrida torna a pessoa forte? Ou ela já é forte? Ou um pouco dos dois? Carolina Maria de Jesus é escritora, negra, morou em favela e encanta. Registro tudo isso não para diferencia-la, mas sim para marcar o espaço que a constitui. Um livro incrível, cheio de alma, recheado de Carolina e de sua voz, a qual deve ser mais ouvida por nós.
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Nado 27/11/2022

Mais uma obra de Carolina Maria de Jesus que é tão necessária e que nos pega em cada cena e capítulo. A linguagem soa um pouco artificial, pois foi revisado, para a norma formal e culta da língua portuguesa, assim, não tem a linguagem coloquial que é a marca registrada da autora e tão presente em Quarto de Despejo. Apesar disso, é possível apreciar como a escritora se permitiu filosofar, questionar e criticar a sociedade, sobretudo o machismo e o racismo. Acredito que esse domínio da autora se tornou possível por conta do mundo da literatura que ela adentrou cada vez mais, desde quando lançou o seu primeiro livro. Isso é mais uma prova do quanto a leitura é transformadora e nos eleva a cidadãos pensantes, questionadores e revolucionários. Viva à Carolina Maria de Jesus!!!
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Caio Mário 28/09/2020

Poderoso!!
É impossível não se emocionar com a escrita e a vivência da Carolina Maria de Jesus!
Sem palavras para descrever a enormidade dessa obra!
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@eu_rafaprado 26/11/2022

5 estrelas!
Ler um livro escrito por uma mulher preta que teve a infância e enfrentou todas as dificuldades que Carolina enfrentou, por si só já é mérito de 5 estrelas!
Carolina foi mais uma vítima das tristes consequências da escravidão, quanta tristeza e dificuldade.
Que bom que Carolina encontrou os livros e a literatura em seu caminho, tenho certeza que os livros foram seus companheiros em muitas noites de solidão e tristeza.
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Antonio 03/09/2021

Lindo, mas triste, comovente
Esse livro contém um retrato do Brasil no início do Séc. XX, em um período que ainda se pode dizer pós-abolição. Eu, particularmente, achei o livro muito triste, porque a realidade da Bitita é muito cruel, havendo claramente uma violência naturalizada, física e verbal/simbólica, contra os ex-escravizados. E, o pior de tudo, é saber que muito disso persiste até hoje: a pobreza extrema, a violência, a discriminação... E por isso, apesar dos fatos engraçados em algumas narrativas, não consegui deixar de sentir o desespero da miséria, da violência e do preconceito contra Bitita. Foi doído ler esse livro, até o final, porque ele não traz qualquer esperança.
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Eliana 16/12/2020

O livro diário de Bitida foi o meu segundo contato com a autora Carolina Maria de Jesus, diferente de quarto de despejo aqui vamos acompanhar toda a trajetória da infância da autora. Antes de morrer Carolina entregou dois cadernos a uma repórter brasileira chamada Cléria Pisa. ⁣

O livro foi lançado pela primeira vez na França, em 1982 com o nome de Jornal de Bitida e somente quatro anos depois, foi publicado no Brasil a partir da edição francesa, com o título diário de Bitida. ⁣

Como disse anteriormente nesse livro vamos conhecer como foi a infância de Carolina a sua relação com a família, o período da escola e de como surgiu o gosto pela literatura e principalmente o racismo explícito que ela sofreu ainda tão jovem. ⁣

O livro é dividido em vinte e dois capítulos, e cada um traz um título diferente que a autora narra um acontecimento importante durante a época e que fez parte da sua jornada. Carolina nos oferece uma verdadeira aula sobre política e sobre a história do negro no Brasil são vários acessíveis para que a gente entenda o por que ainda vivemos no país onde uma população negra vive em locais extrema pobreza. ⁣

Carolina teor os problemas políticos que o Brasil infrentou desde a crise de 1924. ⁣
Mesmo com o final da abolição da escravidão em 1988, é evidente o sofrimento e o descaso da população negra na década de 1920. Uma sociedade que desprezava o negro, é impossível não fazermos um povo paralelo com os dias atuais.⁣

Carolina sempre foi uma criança muito inteligente, desde muito jovem era atrevida e não levava desaforo pra casa, durante toda a sua infância Bitida como ela gostava de ser chamada, sempre foi muito maltratada pelos seus colegas de escola, pelos vizinhos e pela sua família família. ⁣

Carolina faz críticas críticas à sociedade época o racismo, as desigualdades sócias e principalmente a violência policial que marcaram a história dessa população que a muito tempo vem sendo esquecidos e marginalizados.
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regifreitas 28/06/2020

DIÁRIO DE BITITA (1986), Carolina Maria de Jesus.

A publicação de DIÁRIO DE BITITA, de Carolina Maria de Jesus, seguiu um rumo no mínimo inusual. Em 1975, a autora, ainda em vida, cedeu a única cópia do texto a duas jornalistas francesas que vieram ao país para entrevistá-la. Em 1977 Carolina morre, e o manuscrito é esquecido durante um tempo. Até que, em 1982, vem a público uma tradução para o francês da obra. Somente em 1986 o livro é finalmente publicado no Brasil. Na época a edição brasileira não deixava claro se aquele seria o texto original ou uma versão traduzida a partir do francês. Hoje, muitos estudiosos da autora acreditam tratar-se do manuscrito original.

Com BITITA, Carolina faz o fechamento do que pode ser considerada sua trilogia memorialística. Iniciada com QUARTO DE DESPEJO (1960), o sucesso editorial deste obrigou a autora a escrever a toque de caixa o CASA DE ALVENARIA (1961), cuja recepção já não foi a mesma. Enquanto o primeiro é o relato de uma mãe solteira, moradora da favela do Canindé, que sustenta seus três filhos como catadora de material para reciclagem, o segundo conta a vida de Carolina após o sucesso comercial do seu livro, o qual lhe dá finalmente a possibilidade de conseguir comprar a tão sonhada casa própria.

Já o relato de DIÁRIO DE BITITA está situado cronologicamente num período anterior aos dois primeiros livros. Através dos olhos de Bitita (apelido de infância de Carolina) acompanhamos sua vida em Sacramento (MG), sua cidade natal, desde as primeiras memórias até a adolescência e início da maturidade, quando parte rumo a São Paulo. O fascínio precoce pelas letras e o desejo de aprender a ler, o preconceito de que foi vítima desde cedo, mesmo por parte das crianças da cidade, os conflitos familiares, são temas recorrentes do diário. Muito jovem Carolina descobriu o peso de ser negra, mulher e pobre no Brasil, sentindo na pele o tratamento diferenciado dessa população por parte das autoridades.

Trata-se de um documento essencial sobre a realidade brasileira, um relato que infelizmente só confirma como as coisas mudaram pouco no país desde então.
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Maria Faria 12/12/2022

Um registro histórico
São os relatos de Carolina desde sua infância em Sacramento ? MG até sua chegada, ainda jovem, a São Paulo. Bitita era o apelido da menina.
Diferente de Quarto de Despejo, Diário de Bitita não preservou a escrita original da autora, mas a forma de expor as ideias é totalmente identificável.
Ela nasceu em uma época pouco distante da abolição da escravatura e isso foi determinante para sua permanência na miséria por toda a vida. A escravidão foi abolida, mas a perseguição com os negros permaneceu, principalmente por parte da polícia. Era muito comum o negro combinar um valor pelo seu trabalho e o patrão pagar nem metade do combinado, porque não havia proteção para os negros.
Carolina teve a sorte de estudar por dois anos, momento em que tomou gosto pela leitura e escrita. Uma raridade naquela época que mesmo os brancos permaneciam analfabetos. O ?dom de ler? rendeu-lhe dissabores, pois as pessoas a viam lendo e julgavam tratar-se de livros de bruxaria, o que acabou causando sua prisão e de sua mãe por um curto período.
Ela não se conformava em não ter oportunidades melhores de trabalho, por isso mudou de emprego várias vezes e foi expulsa das casas outras tantas, por simples crueldade dos patrões. Chegou a perambular doente entre Ribeirão Preto e Sacramento, em busca de tratamento para feridas inexplicáveis que surgiram em suas pernas.
O fato de saber ler e escrever incomodou muita gente e sua postura questionadora não foi bem aceita dentro de sua própria família. Várias vezes procurou ajuda de familiares e foi enxotada por não ter dinheiro nem emprego.
A jovem, mesmo quando encontrava bons empregos como babá ou cozinheira, sentia-se inquieita, saindo de seus trabalhos em busca de algo melhor. E é assim que foi parar na cidade de São Paulo.
Todo seu relato sobre os negros, em especial sobre as mulheres negras, causou intensa comoção, pois já conhecia estas agruras através de relatos de meus antigos familiares. Minha avó paterna, nascida em 1911, mulher negra, vivenciou tudo o que a mãe de Carolina viveu, exceto a prisão. Não a conheci, mas suas histórias ficaram guardadas na mente de minha mãe que me repassou oralmente todos os relatos.
Carolina foi a ?voz escrita? que perpetuou uma realidade presa em relatos íntimos, que não viriam a público não fosse suas simples atitude de registrar seu cotidiano. Ela é muito maior do que aqueles que conseguiram ser mencionados nos livros de História, ela registrou a história e as agruras da mulher negra e pobre em um país em que o negro é parte apenas dos relatos da escravatura.
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Joao.Ricardo 23/04/2020

Autora uma GÊNIA
Uma das armas mais primitivas e eficazes que existe no mundo é a lança. Utilizada para ataques à longa distância, útil também para golpes de curta distância. É capaz de desferir cortes, estocadas. Na defesa sob a maestria de seu portador é útil para desarmar os guerreiros mais hábeis. E no cotidiano garante a subsistência e contribui para os afazeres comuns. É um artefato fruto da sabedoria humana e que transpassou seu tempo por ser uma ferramenta simples e eficaz "Diário de Bitita" é a lança de Carolina Maria de Jesus.
É uma obra capaz de desferir ataques contundentes e estocadas ferozes aos racistas; um elemento de defesa ao povo negro do Brasil; e um elemento capaz de fazer a manutenção da consciência de raça do nosso país.
Se você é branco leia, se você é negro leia. Nessa obra Carolina Maria de Jesus, mulher negra, nos revela sua genialidade que está situada em uma esfera muito além da nossa no que tange concepção de mundo. Somos lançados ao confronto direto com uma arma extremamente eficaz e que vem se mantendo afiada durante muito tempo sem perder pujança.
É nesse livro que você irá compreender questões fundamentais de raça que perduram no Brasil até o presente momento. Você irá compreender o seu lugar na nossa sociedade sob a sua identidade de cor. A obra nos remete ao começo do século XX, entre as transições das repúblicas e revela a realidade vivida pela maioria da população brasileira do sudeste naquela época, e que ainda é a realidade de muitos brasileiros atualmente (de quebra é possível compreender que a questão da escravidão é um ponto não solucionado no Brasil). Originalmente foi publicado na França, em 1982, atualmente "Diário de Bitita" volta à tona pelo lobby acadêmico que tenta sanar a dívida literária com a genia Carolina Maria de Jesus.
É leitura imprescindível para entendermos o Brasil.
Não se esqueçam - essa obra é uma lança. E uma arma mesmo quando utilizada para outra finalidade que não a bélica, nunca perde sua finalidade.
Boas leituras.
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Apenas Evelim 18/08/2021

Viva Bitita!
Carolina Maria de Jesus é uma das maiores escritoras desse país, pena que ainda não seja conhecida. Sua escrita é única. O preconceito, as condições de vida precária, a desigualdade nos é narrada de forma singela e ao mesmo tempo grandiosa, sob a perspectiva de uma menina preta, moradora da favela, com sonhos e esperança. (Na verdade, o livro foi escrito na fase adulta de Carolina, mas os acontecimentos narrados são sobre a sua infância e adolescência). A leitura salva a alma e ao mesmo tempo nos ensina tanto sobre o viver e sobre a nossa breve existência. Não me canso de saudar: Viva, Bitita!!
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Juliana Rodrigu 18/05/2023

Livro denso mostra a dura realidade de uma menina que sonha com a vida em São Paulo , achando que lá estaria a sua felicidade. Como já li Quarto de despejo sei que não será bem assim
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Beca 04/01/2021

Nessário
Carolina nos dá uma aula de história e de humanidade neste livro!

Ela nos mostra como a escravidão não acabou, como só "mudou de endereço"

Carolina é de uma inteligência extraordinária, e escreve com alma! É impossível não ler e não se emocionar.

Li dois livros dela e já quero ler tudo que foi escrito por essa mulher incrível!

site: https://msha.ke/beca_fmachado/
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Tinho Silva (@cafecomlivrossp) 08/04/2020

Diário de Bitita - Carolina Maria de Jesus
O “Diário de Bitita” obra póstuma da escritora Carolina Maria de Jesus, apesar de trazer em seu título a palavra “diário”, não se trata de um. É, na verdade, um livro de contos autobiográficos e têm como base as memórias da escritora do período em que viveu em Sacramento com a sua família. Publicado a primeira vez na França em 1982, nele temos a luta diária de uma família negra, pós Lei Áurea através do olhar de uma menina muito esperta de apelido Bitita. O esforço para conseguir trabalho e a tentativa de viver de forma digna, são um dos destaques do livro. Ela narra também a infância humilde, sua relação com a família, período na escola, como surgiu nela o desejo e o gosto pela leitura e sobre os preconceitos que sofreu na sua caminhada, principalmente por ser mulher e negra. Esse, na minha opinião, é a melhor obra publicada da Carolina Maria de Jesus e isso se justifica nos mais variados aspectos. vejamos abaixo.

Cheguei à conclusão de que não necessitamos perguntar nada a ninguém. Com o decorrer do tempo vamos tomando conhecimento de tudo. (p.14).

Primeiro, pela maneira que foi produzido. Nele temos uma autora madura que compreende melhor a sua escrita e a sua poética. O entender do mundo e as suas impressões pessoais acerca dos temas que permeavam a sociedade que lhe rodeava, fazem parte dessa narrativa, acompanhando-a até o desfecho final, a ida para a cidade de São Paulo. Tomando como base as memórias, algumas “descobertas” merecem destaque. Ser mulher, ser negra, ser pobre, ser poetisa, são coisas que ela entende à medida que vai crescendo. “Eu sabia que era negra por causa dos meninos brancos. Quando brigavam comigo, diziam: / – Negrinha! Negrinha fedida!” (p. 95), a sua cor sempre lhe é colocada de forma a lembrar algo, como se a sua condição social lhe empurrasse para uma posição de subalterna, e dessa forma, ela vai entendendo e construindo a sua identidade de pessoa negra e como o racismo podia se manifestar nas várias esferas e da forma mais perversa. É importante ressaltar que ela nunca aceitou a posição de inferior, pelo contrário, questionava e muitas vezes lutava para ser reconhecida, demonstrando a sua insatisfação frente as injustiças sofridas por ela e pelos seus semelhantes.

Segundo, os contos que são apresentados possuem uma leitura linear e muita precisão nas descrições. Dito isso, se faz necessário compreender que estamos falando de relatos que trazem como suporte as recordações, tanto agradáveis, como dolorosas, da vida da autora.

Com isso ela consegue “brincar” com os nossos sentimentos misturando histórias engraçadas e histórias tristes; uma hora temos uma menina que quer ser homem para poder trabalhar e gozar dos privilégios que tal posição lhe oferecia; outra hora temos uma garota ousada, enfrentando com argumentos plausíveis um juiz para se defender de injustiças praticadas pelo filho; em outro momento uma Carolina triste e amargurada pelas situações difíceis que a vida lhe proporcionara; ou uma mulher batalhadora, tentando curar as feridas que tinha nas pernas para voltar ao mercado de trabalho e viver uma vida honesta; dessa maneira, a Via Crucis que foi a vida de Carolina vai se desenrolando, nos brindando com uma montanha russa de emoções.

Terceiro, a denúncia é uma das características marcantes nos textos da autora, nesse em questão, ela se apresenta muito forte, principalmente a situação vivida pela população negra na cidade de Sacramento. Por conseguinte, ela constrói um panorama social de como era a vida dessa população poucos anos após a assinatura a Lei Áurea no Brasil.

Quando os pretos falavam: - Nós agora estamos em liberdade. – Eu pensava: “Mas que liberdade é essa se eles têm que correr das autoridades como se fossem culpados de crimes? Então o mundo já foi pior para os negros? Então o mundo é negro para o negro, e branco para o branco!”. (p. 59).

Sendo uma obra escrita por uma Carolina adulta, o tom de denúncia e crítica utilizado por ela no texto, nos faz acreditar que ela o concebe de forma consciente, tendo em vista que na sociedade o racismo, as desigualdades sociais e a questão de gênero se fazia/faz presente. Dessa forma, ela parte de situações arbitrárias, principalmente praticadas pelas autoridades, para falar das pessoas que durante muito tempo viveram marginalizadas e invisíveis, expondo as injustiças sofridas; “a escravidão é uma cicatriz na alma do negro” (p. 61), apontamentos dos resquícios deixados pelo período da escravidão são igualmente recorrentes, trazendo questionamentos acerca dessa “liberdade” que o negro tanto fala, mas não goza. Crítica o preconceito sofrido também "essas hostilidades por questão de cor é mediocridade. E primitivismo dos predominadores" (p.55).

Com o avançar da leitura, fica evidenciado, o quão é necessário fazer uma reflexão crítica, inclusive sobre a sociedade atual e como essas vozes emergentes estão deixando de ser invisíveis e ganhando os espaços que lhe são devidos. Nesse sentido, Carolina Maria de Jesus é pioneira, o mesmo trabalho foi feito em “Quarto de despejo: diário de uma favelada” (veja resenha completa aqui), no qual ela coloca o dedo na ferida, forçando a discussão sobre temas tão incômodos à sociedade, o que transforma essa e outras obras de Carolina, atribuindo-lhe características de atemporalidade.

O filho do pobre, quando nascia, já estava destinado a trabalhar na enxada. Os filhos do rico eram criados nos colégios internos. Era uma época em que apenas a minoria é que recebia instruções. A minoria alfabetizada desaparecia. (p. 46).

Neste ponto, ela problematiza sobre a desigualdade social, apontando as dificuldades que as pessoas pobres encontravam para adquirir o conhecimento acadêmico, a própria Carolina passou por isso, mas graças a uma das patroas da sua mãe, conseguiu frequentar dois anos do ensino primário; só na escola ela vai descobrir o seu nome de batismo, a estratégia não muito pedagógica que a professora usa para estimular o gosto da menina pelos estudos e o despertar para a importância da leitura nos fornece uma das histórias mais incríveis e envolventes da trajetória percorrida por Bitita.

Outros temas pertinentes são igualmente discutidos ao longo do texto, como por exemplo, Ser mulher negra em uma sociedade machista, repressão essa que ela sempre lutou contra, mostrando-se muitas vezes avessa ao casamento, afirmando que homem para ser “bom” não pode ser autoritário e precisa ser como “relâmpago”, proativo e trabalhador e que segundo ela, na realidade a qual estava inserida seria difícil encontrar.

Assim, é um texto que não se esgota nessa rasa discussão a que eu estou propondo aqui. Cada conto/capítulo tem em si ínfimas possibilidades de discursos, gerando as mais diversas inferências e as mais variadas leituras e debates. Porém, cabe salientar aqui, que a decisão de adequar a escrita da autora às normas padrões gramaticais, na minha opinião, tira um pouco da essência e descaracteriza a representação das vozes marginalizadas a quem Carolina deu visibilidade, embora isso não atrapalhe a leitura da obra. E por fim, temos um texto muito bem escrito e muito coerente dentro do que Carolina Maria de Jesus sempre se propôs a fazer, mais uma vez, a escritora consegue com perspicácia e inteligência, nos prender em suas histórias, onde mergulhamos profundamente no oceano das suas recordações e passamos a conhecer um pouco mais sobre a sua história e os caminhos percorridos até a sua chegada na cidade de São Paulo – SP, antes de se tornar a escritora que conhecemos hoje.

- Oh, mamãe! Eu já sei ler! Como é bom saber ler!Vasculhei as gavetas procurando qualquer coisa para eu ler. A nossa casa não tinha livros. Era uma casa pobre. O livro enriquece o espírito. (p. 129).

site: https://cafecomlivrossp.blogspot.com/
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Thaís - @comprandopelacapa 23/05/2020

Diário de Bitita
Nesse diário, Carolina vai contar sobre a sua infância, como foi pra ela crescer sendo negra e pobre em Sacramento - MG. Apesar de falar da sua infância, é preciso lembrar que o livro foi escrito pela Carolina adulta, então não é de se estranhar a linguagem, que não é exatamente infantil.
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Carolina deixa claro como o processo de crescer foi extremamente doloroso. Ainda criança foi duramente criticada e agredida por "falar demais" e ser muito questionadora. Agredida também por ser uma "negrinha feia", e essa tal feiura a excluía da "aceitação" social. Desde muito nova, Carolina aprendeu a observar e refletir sobre o que via, principalmente sobre a ação das pessoas. Se perguntava porque as mulheres brigavam tanto por homens, porque todos só pensavam em bailes, e principalmente porque o branco podia tudo e o preto não podia nada.
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Em todos os capítulos há questionamentos sobre como é viver e crescer inserida em uma realidade na qual não há caminhos diferentes a não ser aceitar a "resignação com sua condição de soldo da escravidão". Mas Carolina queria mais! Por que aceitar que sua única condição de vida seria ser empregada doméstica ou cozinheira de gente rica, que tinha prazer em a humilhar?
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Ler esse livro foi importantíssimo pra que eu pudesse entender por que mesmo alcançando uma pequena ascenção social, após conseguir virar escritora, Carolina continuou se sentindo deslocada. A vida de Carolina foi construída em cima de feridas abertas.
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"A maioria dos negros era analfabeta. Já haviam perdido a fé nos predominantes e em si próprios. (...) Quando o negro envelhecia ia pedir esmola. Pedia esmola no campo. O que podiam pedir esmolas na cidade eram só os mendigos oficializados."
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