Higor 11/10/2021
"Lendo Pulitzer": sobre histórias simples que aquecem o coração - mesmo em cenários congelantes
Como acontece com todos os prêmios literários, o Pulitzer vez ou outra escolhe nomes conhecidos no círculo de autores conhecidos, que inclusive aparecem em outros prêmios do ano, assim como vai na contramão e parece tirar dentro da manga algum autor inédito, desconhecido, com um livro que passou despercebido e não foi sequer mencionado em outra lista, apenas neles.
"A menina da neve" está no segundo exemplo: o livro de estreia de Eowyn Ivey parece não empolgar outros prêmios nacionais além do Pulitzer, e apesar de publicado em mais de 30 países, teve uma aparição tímida neles, não figurando em outros prêmios, o que em si é uma pena, pois "A menina da neve" é um livro um tanto curioso e bom, apesar de um tanto sem clímax.
Acompanhamos a vida de Jack e Mabel, casal que optou por morar no Alasca em 1920 após a morte do filho que esperavam. Sofrendo e se afastando naquele espaço gelado, numa noite de geada, ambos decidem fazer uma boneca de neve, algo despretensioso, mas no dia seguinte, como se ganhasse vida, uma garotinha passa a visitá-las.
Como se pode notar, o plot de "A menina da neve" não é dos mais elaborados, e também não tem muitos acontecimentos, mas ainda assim consegue prender a atenção do leitor nas suas mais de 300 páginas, talvez por conta do ambiente exótico e sempre atrativo que é o Alasca, ou mesmo por conta uma história simples de maneira idem, sem pressa, mas com conforto e alento.
O toque de fantasia sobre o paradeiro da menina é bem feito, que prende a atenção e faz o leitor devanear sobre, mas fora isso e os sentimentos de Jack e Mabel, entre eles e pelo natimorto, assim como pelo que eles sentem pela menina, de desconhecida a filha postiça, não há algo a se tirar em questão de contexto social e histórico. Muitas foram as críticas ao livro sobre suas cenas sanguinárias, mas às vezes o leitor se esquece que estamos lendo um livro de 1920 no Alasca, logo, as pessoas matam animais silvestres para sobreviver, como peixes, carcaju e até mesmo alces.
Talvez o grande ponto para "A menina da neve", que justamente tenha feito com que aparecesse como finalista do Pulitzer seja justamente essa história redondinha sobre um pedacinho pouco explorado dos Estados Unidos, uma área que todos sonham e têm certos devaneios com sua beleza. Ainda assim, não foi o suficiente para vencer as críticas ácidas contra o comunismo em "Jun Do", o que eles amam, assim como ficou ao lado de "Do que a gente fala quando fala de Anne Frank" e seus contos que análise histórico-social-religiosa.
Releitura dos contos de fadas russos, "A menina da neve" é um bom livro para, ironicamente, aquecer o coração, mesmo com uma história em um lugar tão frio. A sensação de nostalgia, conforto e alento se fará presente em todas as páginas.
Este livro faz parte do projeto "Lendo Pulitzer". Mais em:
site: leiturasedesafios.blogspot.com