Joana 12/10/2021
O despertar do mais maldito...
"Serei o príncipe da noite que caminhará aqui, no plano físico. Serei o medo real. O medo presente."
Eu amei, amei, amei Os Sete. Isso aconteceu com Sétimo? É... não. Nem tanto.
Início forte. Como em Os Sete, eu acho que André Vianco realmente mostra sua força na interação entre os antigos vampiros europeus e os brasileiros contemporâneos. Esse choque de mundos é realmente fascinante, e o autor representa de uma maneira muito única e envolvente nesses livros. É engraçado, reflexivo e humanizador.
Sétimo é o último vampiro do Rio D'Ouro a despertar e não decepciona. Ele é carismático e quase bizarramente fofo. Assim como o protagonista Tiago, eu vacilava muito no que pensar sobre ele nos primeiros momentos. Adorei pagar de trouxa. Todos os avisos estavam ali dizendo "isso não é flor que se cheire", faltando só ter literalmente uma placa de neon escrito "Capeta" piscando acima da cabeça da criatura o tempo inteiro. Mesmo assim, acabava sendo distraída pela ingenuidade e confusão dele com as novidades, parecendo quase uma criança que olha... tudo bem, tem algumas ideias erradas, mas talvez uma espécie de família disfuncional pudesse crescer, talvez ele possa mudar e aprender, etc... Eu realmente fiquei torcendo que aquilo tudo pudesse de alguma forma virar uma narrativa bem família e doméstica. Puro surto, é claro. Sétimo tem intenções muito claras e não está particularmente interessado em mentir sobre elas. Infelizmente, o "bebê" aprende rápido...
Infelizmente a a narrativa se desenvolve de uma forma muito dispersa. Ideias interessantes são introduzidas, mas o desenrolar é truncado, muitas vezes apressado e sem dar tempo para respirar, ao mesmo tempo que capítulos que podiam ser cortados sem nenhum prejuízo para narrativa não são infrequentes. O terror também não foi tão efetivo como no livro anterior, embora algumas passagens tenham surtido efeito. Li Os Sete em uma tarde, mas demorei semanas inteiras para me convencer a terminar este, depois de certo ponto. Isso se deve a diversos fatores.
Eu tive muita vontade de pular capítulos narrados por certos personagens que, para mim, não tinham um pingo de carisma. Isso é muito subjetivo, é lógico, mas considero muito difícil ler quando o ranço com o personagem é muito grande. Por outro lado, um personagem icônico que é inteiramente novo e merece menção é o Leonardo! O moleque é caótico demais, mas eu adoro. Os capítulos em que esteve presente eram um prazer de ler do começo ao fim.
As personagens femininas são, em grande maioria, escritas de um jeito estranhamente superficial e, para ser sincera, fetichizante. Isso me deixou muito desconfortável, principalmente porque eu não conseguia desligar a parte do meu cérebro que sabia que André Vianco sabia fazer (e fez, futuramente) melhor. Penso que como uma consequência direta disso, os romances que o autor tentou executar aqui realmente não me provocaram um pingo de interesse - Inclusive, o mesmo aconteceu em Os Sete. Só que a paixão incandescente de Tiago por Eliana realmente veio com gosto de gás nesse livro e eu... não conseguia ligar. É até triste admitir isso. O fato de que eu não consegui me importar com uma das forças motrizes da narrativa realmente afetou meu envolvimento com leitora, acho.
Como dá pra notar, foi uma soma de fatores. A maioria deles realmente questão de gosto pessoal. Uma das coisas que mais importa para que goste de um livro são os personagens e poucos me cativaram, enquanto outros de que gostava ficaram praticamente "no banco" a maior parte do jogo. Eu também não gostei do final.
Três estrelas! Realmente não tão prazeroso quanto o anterior, mas não deixa de ser um livro com temáticas interessantes e algumas ótimas cenas. Não teria me decepcionado se não me importasse com o destino do mundo e dos personagens que André Vianco criou. Se você gostou de Os Sete, Sétimo é a complementação óbvia de que você precisa.